D'propósito

20 de setembro de 2007

Papel, caneta e vazio

Como não acontecia há tempos vejo um esforço quase fracassado, do papel procurando minhas idéias e os acontecimentos do cotidiano. Não que a vida ande devagar, não anda, ultimamente só corre, novidades a toda hora, no entanto, as palavras já não escorrem como a água da cascata que serviu de cenário para minha entrevista com Assis Ângelo, na Rede Record.

Vejo quase uma contradição nesse lapso de construir narrativas e prosas, afinal, estou mergulhada em teses sobre cultura popular brasileira, crônicas do Mario Prata, Xico Sá, Veríssimo e a quase sem inspiração feito eu, Tati Bernardi. Portanto, isso não deveria acontecer.

Não sei qual é de fato o problema que impede a narrativa leve que produzia antes, qual meu fã número um e provavelmente o único, diz que não produzo mais.
Talvez eu imagine o motivo da dificuldade, além da ansiedade da Mandacaru acho que é Celeste. Tenho a impressão de que nunca vos apresentei a ela, mas Celeste vem me atormentado há umas três ou quatro semanas.

É uma personagem que está pedindo espaço, um papel em alguma ficção. O detalhe é que ela não quer papéis secundários ou ficções curtas, quer um grande papel, quer destaque como o Eulírico, que provavelmente quando notar a chegada dela não vai gostar muito, ciumento como o conheço, vai jogar pedra na Celeste.
Mas o Eulírico já tem o seu espaço, por isso pedi tempo a Celeste, no entanto ela é impaciente e me atrapalha com a organização das idéias, porque ela não se revela, o contraio, esconde-se por trás de um sorriso e um olhar cruel e duvidoso. Não enxergo a personalidade da personagem que pode ser uma estrela, ou que pode acabar com o brilho dos meus textos.

Hora desejo vida a Celeste, hora desejo morte a Celeste e hora penso em trancá-la em uma caixa, como a de Pandora. Para que de repente, quem sabe, venha um terceiro abrir a caixa e desvendar a garota, a menina e a mulher que me tira o sono e a criação.

18 de setembro de 2007

De volta aos Anos Incríveis

Depois de quase dois anos sem viver as experiências de/com Kevin Arnold, o seriado que marcou época e minha infância, agora está em DVD, com os 115 capítulos dublados e de quebra com o logo da TV Cultura no canto superior e esquerdo da tela. Sim, isso é pirataria, porque de graça é mais gostoso. Pelo menos esse é o slogan que o site onde o caro colega Pedro, baixou e deu-me de presente de aniversário antecipado.

A série narra os conflitos e a evolução de Kevin Arnold, mostrando o fim da infância e a adolescência do garoto que reside num bairro do subúrbio, com uma família tipicamente americana. Como pano de fundo é mostrado o contexto histórico da época, como a geração dos hippies, conflitos políticos, a invasão do rock e até mesmo a primeira aparição do Beatles na TV americana.


Indiscutivelmente Anos Incríveis é mesmo a ilustração de incríveis anos, tanto por parte do protagonista Kevin, quanto de nós telespectadores, afinal, quem nunca viveu os mesmo conflitos e não se identificou com a trajetória?A série que fez grande sucesso e percorreu países pelo mundo afora, teve sua última aparição na TV Cultura em 2005, por término de contrato, segundo informações da própria Fundação Padre Anchieta.E para maior tristeza dos tietes, a série até hoje não foi lançada em DVD - não legalmente – Mas isso tem explicação, a sua trilha sonora reúne cerca de 300 músicas e conseguir a liberação de todas elas está sendo um problema para a Fox, produtora da série.A possível solução foi substituir as músicas cujos direitos autorais não foram liberados, no entanto, isso soa estranho para os fãs e para a produtora. A trilha sonora é fundamental à série, trocá-la seria como o arroz sem o feijão, inaceitável.


Graças ao Pedro, agora posso matar minha saudade da família Arnold e acompanhá-los diariamente. Para quem não tem um Pedro e é próximo a Camila aqui, é só pedir pra gravar o DVD, que está tudo certo, porque de graça é mais gostoso.

13 de setembro de 2007

Tomando na veia

Feito viciada, louca e com adrenalina a mil, é que meu coração, minha mente e meu corpo respiram pra viver da droga que me contagiou e, inevitavelmente não me vejo sem ela. Todo dia, dia-dia, diariamente eu injecto a substância no meu corpo que vai até a alma, moderando razão e emoção, até chegar ao papel que abriga em pequenas letras de grandes palavras a droga ensaiada.

Já me disseram que isso é coisa do mal, mas digo mais alto que me faz um bem, tão bem. Até mesmo quando estou em outros planos, quando meu sono chega com o cansaço e a necessidade do corpo; sonho com a danada dessa droga e de repente, ou por ironia, quem me acorda com um beijo quente é um apaixonado e drogado feito eu.

Essa coisa que me sobe pelo corpo, me faz correr contra o tempo e injectar todos os dias na veia é o jornalismo; a droga que me põe à prova e me apresenta o desafio, as fontes das quais me nutri e não acabam nunca, a pauta que caí e no mesmo momento se ergue numa nova construção, a briga pelo tempo, as oportunidades que batem a porta e mundo afora.É a droga do jornalismo que me toca e eu aprovo como remédio para toda a cura, para todo o sempre.

10 de setembro de 2007

Eu, você, nós dois

- Eu?
- Você?
- É o que tá escrito.
- Ah, então tá, você.
- Eu?
- Você?
- É, eu.
- Então é você.
- Se você diz, sou eu.
- E você? O que diz?
- Digo que sou eu, e você?
- Eu digo que acredito no que você diz.
- Então estamos conversados.
- Legal, estamos conversados, até porque, há tempos não conversavámos assim, eu e você.

Sol, independência e eu

Depois de uma quinta-feira, véspera de feriado e com uma demissão de presente, caminhei pela Paulista sentindo a brisa que só a tarde possui e que há tempos não sentia. O sol, velho amigo sol, me acompanhava, acolhia e aquecia com o brilho alaranjado de seu pôr, que também há tempos não sentia, não via.E, agora inevitavelmente à frente do computador – da minha casa - vejo o sol se pôr entre os arranhas céus que revela a cidade e desvenda a paisagem da vista que meu quarto enxerga.

Para quem acredita em destino pode deduzir sua ironia e sua sagacidade, afinal, quando o Brasil estava à véspera de seu aniversário da independência, de repente, eu perco a minha. Mas só de repente, apenas por um instante, porque na Augusta dois homens, incríveis e eternos no meu viver, me esperavam para acalantar a primeira grande derrota que como minha mãe afirmou “é o primeiro de muitos”.

Depois do encontro com os dois homens e com o sol, que pela lei natural vai-se para dar espaço a lua, eu tive a certeza de que não perdi minha independência. Porque minha independência estão nas palavras, nos gestos, no ser, no ousar e na mesma capacidade que só o sol tem de ser sol e, eu como Camila de ser Dayan, brasileira e não desistir nunca.

9 de setembro de 2007

Não dá

Tenho muitos fatos, histórias, casos e caos a descrever, mas muitos acontecimentos atrapalham a organização das idéias. Ainda preciso digeri-las, compreendê-las, talvez esquecer.

5 de setembro de 2007

A arte de subestimar

No ponto de ônibus de uma avenida pouco visitada por mim nos últimos tempos. Adentro na lotação, o famoso 3773 com destino ao metrô carrão.Sem observar nada e sem reparar em ninguém, só quero passar a catraca. Não sou metida, só vejo pouco quando estou distraída ou com um livro em mãos. Mas sempre, sempre tem alguém que vê a gente, nesse caso, eu.

- Psiu, psiu,

Escutei um chamado, pensei em ignorar, podia não ser comigo. Porém, e sempre existe um porém, estava de óculos escuros e se não fosse comigo ninguém iria notar que havia atendido o chamado. Mas não adiantou disfarces, era comigo. Droga! Era amiga da minha amiga que se acha minha amiga - tempos de escola.

- Psiu, psiu,
- Oi, tudo bem?
- E aí doida, tá fazendo o que por aqui?

Isso num tom de voz muito alto - dentro da lotação - todo mundo parou pra ver ou ouvir (!) Discretamente respondi.

- Dei uma passada na casa da minha vó.
- E tá indo pra onde?
- Trabalhar.
- Esse horário?

Era 12:30h

- Sim.
- Entra que horas?
- Ás 14h
- E sai às 20h?
- Isso.
- Ah, não acredito, me diz aí. Qual empresa de call-center você tá trabalhando?

Ela disse rindo. Acho que quis gozar da minha cara na frente de todas aquelas pessoas que nem participavam da conversa. Que vergonha. Discretamente de novo, eu respondi.

- Não, eu não trabalho em empresa de call-center, eu fujo disso. Estou na minha área

- Comunicação né?
- É, jornalismo.
- Também faço comunicação.
- Legal.
- Publicidade!
- Bacana, está estagiando?
- Tô!
- Onde?
- Quer saber o nome da empresa?
- Sim, pode ser.
- Ah, é GM alguma coisa.
- É, não conheço.
- Eu não lembro o nome direito, mas quando souber eu te falo.
- Não precisa.

Ela não sabe o nome da empresa que trabalha, sinal vermelho.

- Você tá estudando na uni...uni o que mesmo?
- São Judas

Acho que ela quis tirar um barato de novo.

- Se você não se importa, preciso ler.
- Ah, claro, tudo bem.

As pessoas julgam-me ou jogam-me a pequenas perspectivas, coitadas. Só porque nunca fui a melhor ou uma aluna exemplar em tempos de escola, mas agora, os tempos são outros e eu também. Não preciso dizer onde trabalho e quais meu projetos para mostrar isso, meu silêncio e minha leitura, neste caso, bastam.

4 de setembro de 2007

Mandacaru

Todo dia eu faço tudo sempre igual e sacudo às 6 horas da manhã e com um sorriso quase pontual me encho para falar da Mandacaru.Não é a nova novela da Manchete (!) e nem nenhum vale a pena ver de novo. Na verdade, ela vai valer a pena rever e ver todos os meses, valendo apenas R$ 4,99. Bem baratinho, né? É um barato mesmo, porque é a primeira revista minha, de meus colegas e da mídia impressa a tratar sobre Cultura Nordestina. Única no mercado. Legal, não?

Mas não vá pensando que é só para os naturais da região nordeste, não é mesmo. O foco é deles, mas a revista é também para o paulista, o paulistano, e o “apaulistado”, afinal, os nossos personagens são o fermento do bolo que é São Paulo, e quem está dentro dele, também é recheio.

E nós paulistanos metidos a jornalistas, não poderíamos ficar indiferentes, se o bolo cresceu, acreditamos que com muito baião de dois, a Mandacaru chegue com a sutil audácia de iniciantes e com tremenda expectativa que essa flor floresça no nosso ou em um novo sertão.

Guimarães já disse: “o sertão não tem portas, o sertão não tem janelas”, então entre, venha ver a São Paulo capital Nordeste.Nos últimos dias eu quase não respiro outra coisa, se não essa cultura brasileiríssima. Por tanto, devido a tanta inspiração, expiração, excitação e todos os ãos, o D’propósito, de repente pode ficar um pouco só. Mas ele sempre vai servir pra contar os fuchicos que acontecem lá na Mandacaru e claro, como tem sido até hoje, da minha nada mole vida.

Ainda há muitos fatos a serem narrados, inclusive a vontade louca que estou de contar as novidades quentes e bacanas da revista, mas não posso. Dizem que não dá sorte contar antes, mas se tudo der certo um pernambucano cheio de toadas, xotes e forrós vai tocar por aqui.Aí, quase falei. Chega pra mim e chegue mais pra você, porque Mandacaru também é tudo o que vem depois.

Peça a sua ;-p