Se eu acreditasse em papai Noel pediria pra achar uma mala cheia de dinheiro para viajar o mundo todo, sem destino certo e sozinha. Em um país ou outro pagaria a passagem para alguns de meus amigos me acompanharem, mas seguiria sozinha. Naturalmente que esse é o tipo de pedido quase-infantil por quem está em crise.
Bem, não faz muito tempo que saí da adolescência, então acho justo ter certas recaídas com a pouca idade e estar ainda meio perdida, já que mais uma vez encerrei um ciclo da minha vida e não sei o que fazer, a não ser viajar.
Meu dinheiro dá pra no máximo ir até Maringá, em seguida passar em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul e voltar para São Paulo. Claro, gastando apenas com a passagem de ônibus e algumas cervejas. Benditas sejam as casas dos amigos.
Mas como eu não acredito em papai Noel tenho que mandar a fantasia para o pólo norte e trabalhar. É tudo o que mais preciso agora: de um trabalho. Sempre tive sorte no campo, mas sempre que o que está à vista é o olho da rua, bate o desespero. O ano passado, meu santo Noel, ou meu São Jorge e os orixás de companhia deram um brilho no meu caminho e eu entrei na TV Cultura. Os leitores mais próximos, os mais antigos ou os fiéis sabem o quanto amo aquela casa de mãe. Isso porque a firma do Padre é muito diferente de qualquer outra TV, ou empresa que já passei e que ouço as pessoas falarem.
A começar que minha relação com a Cultura vem de antes, muito antes. Com castelo Rá Tim Bum, O Mundo da Lua, Anos Incríveis, Confissões de Adolescente, Tim Tim, Doug e uma infinidade de programas que formaram minha infância e juventude. E Apesar de ter feito jornalismo e as pessoas assimilarem o curso sempre a televisão, eu nunca tive a ambição de querer trabalhar em TV, a não ser que fosse a Cultura. Pra mim o meu negócio era o impresso, mas lá veio o acaso, ou o destino me aprontar uma ótima. Fui parar no Metrópolis, que em minha opinião, o melhor programa da casa e pra se trabalhar, com arte e cultura e uma equipe incrível e xarope.
Em um ano que fiquei lá eu tive três chances de ser contratada, a primeira oportunidade o programa que a princípio eu iria acabou, a segunda eu não passei no teste (ainda bem) e por último, no Metrópolis mesmo, eu não pude porque não era formada. E quando chegou minha vez, bem, não era minha vez. Decisão do chefe, que na hora quando me disse tive vontade de dar um murro nele, porque eu não tinha reação, não consegui falar nada. Eu já vinha de um choro constante de antes com todas as despedidas, que na hora que conversava com o editor-chefe eu não derramavas lágrimas, mas chorava por dentro. Eu nunca fui puxa-saco, mas sempre achei o Hamburgão (o chefe) muito justo e correto, e apesar de passar dias pensando em tudo o que ele disse e eu não falei, acho que ele esteve certo na decisão.
Tudo isso acontecia no meio da festa da firma, com uma bateria de escola de samba arrepiando na batucada. Enfim, eu só cessei meu choro depois que me joguei no samba e sambei até a última parada do rebolo, da caixa, da zabumba e do ganzá.
Todo mundo dizia: para de chorar você vai voltar, todo mundo volta aqui. Não sei. Talvez não, ou talvez eu volte mesmo pra TV, não tão cedo para o Metrópolis, mas eu não chorava só pelo meu último dia enquanto estagiária, sentia por outras histórias que se iniciaram ali há mais de dois anos e que ali também se encerrou e amém.
A TV Cultura é como a casa de nossos pais, é confortável, você tem intimidade, fala o que pensa e por mais difícil que seja, você gosta de viver lá. Mas a realidade do mundo não é como a casa dos pais, as pessoas no mundo exigem mais e não vão ter tanto carinho por você, mas certamente te amadurecerá, como o mimo que a casa de nossos pais não permite.
O fato é que agora eu procuro um lugar pra morar, isto é, um trabalho.
Cantinho do Metrópolis na redação do jornalismo. Aqui na ponta meu menino Rick, já citado outras vezes neste blog. Ao lado dele o Aaukay, de frente para ele o Hamburgão, meu (ex) chefe. E o marquinhos lá no fundo, enfiado ao telefone.
...
Na última semana treinei/ensinei a nova estagiária do Metrópolis, confesso que faltou coisa ainda pra passar, mas a Carol é uma fofa, uma querida que escreveu isso em seu
blog.
"
Tô feliz por mim e triste por ela que vai sair. A Camila é tão fofa que eu fico com o coração partido em vê-la triste. Cada vez que ela me ensina alguma coisa, deixa transparecer um carinho todo especial e um toque de saudade já daquela tarefa, ou daquela (s) pessoa (s), ou daquele editor (a), ou daquela ilha, do chefe... enfim, cada coisa que ela me ensina, parece que está se despedindo.
Deve ser dolorido. Deve ser confuso.
Confesso que tenho medo desse dia. Do dia em que eu terei que ir embora da tv cultura, pois lá são mínimas as chances de ser efetivada logo depois da faculdade. E se eu estiver gostando de fato do trabalho como ela? Acabou a faculdade: e agora?
"que vontade de chorar,
dói
mas pra mim tá tranquilo, eu vou zuar
o clima é de partida, vou dar sequência na vida"
Como eu acredito no processo da vida, acredito que uma coisa bem legal está por vir para a Camila e para todas as pessoas que, assim como ela, terminam a faculdade e que merecem sim: uma ótima oportunidade! Então, ótima vibrações a ela! Coisas boas estão por vir, espere! "