Sobe e desce, sobe e desce, sobe e desce e pimba! Eu entro. Entro na caixa ou no metro quadrado que me põe em terra firme. Claro, o elevador, que quando não é uma caixinha de surpresa é o lugar mais desagradável, não pelo espaço, mas pelos riscos que se corre como cheirar o pum dos outros e o encontro com vizinhos chatos. Mas há os momentos bons, poucos, mas bons. Eu, por exemplo, só tive um desses momentos uma vez na vida, quando entrou um cara bonito, sorridente e simpático. Pensei: obrigada, Deus! Bom trabalho!
Naturalmente, nunca mais vi o bom sujeito. A gravidade não permite um encontro desses duas vezes.
Mas ontem, vindo da garagem encontro a vizinha do andar de cima, super simpática, barulhenta, mas bem humorada. Depois dos cumprimentos básicos de boa educação: boa noite, oi, tudo bem. Ela me pergunta:
Vizinha:
- E aquele gatão?
Eu:
- Bonito, né?
Vizinha:
- Ahh, uma delícia...
Eu:
- É, uma graça!
Vizinha
- É menino?
Eu
- Homem! homem!
Vizinha:
- Quantos anos ele tem?
Eu
- Não sei, ele mora aqui?
Vizinha
- Achei que morasse com você?
Eu:
- Comigo?
Vizinha:
- É, eu vi você passeando com ele
Na hora eu pensei: ela não deve estar pensando na mesma coisa que eu. O último homem com que passeei pelo meu bairro foi há três anos. Então eu saquei.
- Ah, o gatão é o meu cachorro?!
Abre a porta para o meu andar
Vizinha:
- É! Pensou em que? (rindo da minha cara)
Eu:
- Que fosse outro gatão....
Ela riu, eu ri, abri a porta de casa e meu gatão me esperava, abanando o rabo, pra passear. E fui, com o gatão que é um cachorro.