D'propósito

26 de dezembro de 2008

Enfim, ano velho.

A luz pisca-pisca, a barriga cheia depois da ceia e alguns presentes e ligações trocadas deixam claro que o natal passou e o ano está a meio passo de terminar. E, mesmo quem não gosta ou não dá importância para as festas de fim de ano, acaba, que por um minuto ou dois, nostálgico e pensativo no ano que vai se tornando passado. Eu, por exemplo, não sou a maior fã dessas festas. A começar que tudo entra em recesso, e eu sou do tipo que gosta exatamente de tudo funcionando 24h por dia (paulistana, né?!). Nessa época até a caixa de e-mail parece que não funciona, de tão vazia que fica.

Então, restando apenas a atividade de comer muito, beber muito e não fazer nada, o que sobra é pensar na retrospectiva do ano, que como os atletas na Olimpíada eu tive que suar muito a camisa. O ano começou comovente, misturando choro e riso e prometendo fortes emoções e susto pra esse coração que sofre de sopro.

Além de emoção foi um ano de mudanças. Terminei meu namoro depois de um ano casada, mudei meu horário da faculdade para o noturno por causa do emprego, que começou bacana, e me proporcionou a viagem a minha terra d’alma e a possibilidade de conhecer pessoas queridas. Com o tempo o trabalho ficou chato e a faculdade insuportável. Minha sala continha um número abusivo de pessoas mal resolvidas, competitivas, pretensiosas e fofoqueiras.

Decidida a mudar de emprego pra não enfrentar o clima noturno da faculdade, eu fui mandada embora (meu chefe foi mais rápido do que eu), meu blog foi excluído, e coloquei um ponto final com a pessoa que era entre as mais importantes da minha vida. E por fim fechei com notas vermelhas na maior parte das matérias.

Eu teria motivo suficiente pra matar alguém ou me jogar na linha no metrô. Mas é claro que isso não ia acontecer, porque mesmo sem emprego e quase desistindo do jornalismo, eu ainda tinha amigos e estava apaixonada e vivendo um simpático romance. Logo, levei tudo no maior pensamento positivo. Funcionou.

Rapidamente eu arrumei um freela, e com o freela outro emprego que me fazia viajar todos os dias até Alphaville. Não gostei do emprego e das pessoas - a única coisa boa que tinha era o vale-refeição de R$ 17 que me fez engordar quatro quilos. Com tanto prejuízo pro meu humor e corpo, decidi ficar desempregada de novo.


Depois, forjei o teste para trabalhar no Jornal do Grande ABC quando soube que o salário não pagaria nem minhas dívidas. Respondi tudo errado na prova pra evitar qualquer tipo de ligação e o constrangimento de dizer não. (Já aconteceu isso antes; a mulher que me entrevistou ligou me chamando pra trabalhar e eu disse que não, pelo mesmo motivo: salário. E estupidamente ela respondeu “Então porque foi que você veio até aqui?” Dã, porque só me falaram a bosta do salário depois).

Passado os apuros da procura ao emprego legal, fiz a festa de um ano do blog com os últimos trocados que me restou. Valeu a pena, além de reunir os amigos, Rosana Herman deu esse espaço ao D’propósito em seu blog, que me trouxe leitores muito queridos.

E por falar em leitores, esse ano conheci pessoalmente amigos leitores que se tornaram amigos reais. E outra que ainda não conheci por causa da distância, é a Thaís Felício que vem de terras espanholas se fazer tão presente aqui e, agora, no meu dia-a-dia.

Por fim, recuperei todas as minhas notas na faculdade, passei no espanhol, fiz novos amigos, revi valores, revivi amores, ultrapassei limites, arrisquei a verdade, escrevi ficção, troquei de celular, viajei à Bahia, compus música, cantei, fiz parcerias ótimas com a Roberta, me apaixonei e desapaixonei pela mesma pessoas algumas 453 vezes, conheci a Tati Bernardi, paguei minhas dívidas, quase desisti do jornalismo (da profissão, não do curso), mas o meu sonho desde a época do colégio não permitiu tal catástrofe e está se realizando no lugar que eu sempre desejei trabalhar. Depois de um 2008 turbulento e de pequenas doses de susto para o coração, eu termino satisfeita e, não anseio nada para 2009 do que senão, viver. Na verdade, como cantou Caetano, “quero que tudo saia como som de Tim Maia, sem grilo de mim, sem desespero, sem tédio, sem fim”.

A vida prega várias peças com personagens que se fazem novos a cada ato, e para atuar bem, eu aprendi que é preciso viver do improviso e aceitar sempre recomeçar. Essa é a palavra: (re)começar.


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Pra fechar o ano eu coloquei uma rádio aqui no D’propósito. Está no lado direito logo abaixo do “Minuto a Minuto”. Só clicar no play pra trilha rodar. A cada semana vou trocar as músicas, e se você quiser d’propositar sua música aqui, fique à vontade. O espaço é nosso. Deixe o palpite e espere tocar !

23 de dezembro de 2008

Caos

O que me perturba
não é o barulho que você provoca dentro de mim.
É o silêncio que causa
quando vai embora.

22/10/08

22 de dezembro de 2008

Ponto

Fim de ano aparecem todas as mensagens mais positivas pra mostrar, que de alguma forma seu ano valeu a pena, ou que o ano por vir pode ser de todas as realizações que não fez agora. Mas, sempre tem algum que foge do padrão 'mensagens-bonitinhas' para ser um pouco mais. A animação abaixo eu achei diferente, atrativa e positiva. Mostrando que tudo começa de um ponto.
A campanha é do site Personare.


14 de dezembro de 2008

Instante

Sentimento, ainda que sem nome, tem que ser mostrado, ilustrado, escrito ao mundo, foi assim que aprendi com os poetas e poetinhas. Mas como em toda ação, teoria é uma coisa e prática é outra. Natural. E apesar de muito teorizar e pouco praticar essa ação, que mais do que revelar o sentimento ao mundo é ter coragem de expor a emoção a quem lhe pertence ou é direcionado, eu me arrisquei e fui à prática.

Bêbada das palavras de um poetinha, beliscando a força de Bethânia e digerindo toda a inspiração de Carpinejar, atravessei a cidade com um único objetivo: viver. Fosse o que fosse. Se fosse pra ser o sorriso, a dor, a ingratidão, a indiferença, o choro, a paixão. Eu fui para o inesperado. Decidi não planejar nada e insistir no sentimento que é meu. Amar, ser apaixonado ou gostar de alguém, sempre deixa o pressuposto de que o outro alguém retribua o sentimento na mesma intensidade. Não. Não tem que ser assim. O sentimento não precisa ser uma troca, as relações sim. Fora isso, o sentimento tem apenas que ser, como quem o carrega. Porque ser é tudo, ou o necessário para que em alguma hora a razão dê sua licença e, então, a emoção faça sua graça. Herman Hesse já eternizou que, “ser é ousar ser”; e viver de emoção não é mais do que senão ousar.

Ousei. Senti. Esperei. Olhei. Toquei. Não falhei. Falei. As palavras vieram naturalmente, como acontece nas conversas entre os melhores amigos. Não usei expressões apaixonantes, meu corpo respondeu apaixonado e sem medo, minha boca sorriu e os olhos transbordaram de emoção, porque minha insistência, que antes, foi tão prejudicial, agora foi o remédio pra curar a insegurança do sentimento de nome paixão.

Mas só fui tomada de paixão, porque na bula do remédio estava escrito, “declare-se apaixonado antecipadamente. Depois encontre um jeito de pagar. Ame por empréstimo. Ame devendo. Ame falindo. Mas não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito. Sejamos mais reais em nossas dores. Tudo o que não aconteceu é perfeito. Dê chance para a imperfeição. Insista”. *
Não havia como não ser diferente, dei chance para a imperfeição e fui feliz, pelo menos naquele instante. Minha ação cheia de sentimentos não vai mudar as ações humanas nem transformar a realidade dos dias seguintes no sonho que foi aquela noite de música e certeza, que para viver grandes emoções basta dar chance ao imprevisto.


A vida segue, a história continua sendo escrita e a música toca no show para fazer trilha das lágrimas que escorreram com a emoção do instante, que acima de tudo, é meu.
A música diz mais sobre tudo, sobre nós.



* trecho do livro Canalha!, de Fabrício Carpinejar.


10 de dezembro de 2008

Para não dizer nada

O tempo de ficar e ir é determinado pelas batidas frenéticas de nossas artérias levando mensagens do coração ao cérebro. Quando o tempo é ficar, a batida começa a pulsar forte no coração, em seguida reage no suor das mãos, nos passos rápidos das pernas para o encontro, no sorriso largo constante, e nos olhos que fixam a outros. Com o tempo a batida cessa, as mãos podem não suar, as pernas podem caminhar antes de correr, os sorrisos... serão sorrisos, e os olhos a única fonte de verdade ou dúvida para quem não sabe o tempo de ficar. Porque ficar é muito mais difícil do que ir. Partir é o caminho mais fácil pra quem quer (deixa) a ausência e a saudade como lembrança.

O tempo de ficar e ir, por ora, são apontados por batidas. Quando não do coração, a do relógio que dá a sua hora no tempo em dizer:

- até logo.