D'propósito

8 de julho de 2011

Para ir embora de vez


Chegue batendo portas, pisando firme, dizendo tudo com raiva. Invente a sinceridade, caso não haja ou não tenha coragem. Embrulhe todos os defeitos e entregue com amor e sem dó, “estou indo embora de vez!”.

Provoque a raiva, sua e da pessoa amada. Se exalte, xingue, prove com palavrões que tudo se tornou insuportável. Não diga que o problema é seu e apesar de tudo gosta do amado que acaba de deixar em pedaços. Não diga que está partindo porque infelizmente não dá mais. Não. Diga com toda força que o problema era ela, toda formosa, toda louca, toda ciumenta, toda carente, toda sincera, sempre linda. Ou ele, todo insensível, todo estúpido, todo carinhoso, todo charmoso, sempre sedutor. O amor é contraditório. Diga que o problema não é seu, que infeliz continuará caso leve a história adiante. Gere a fúria. É lindo um casal derramando a história juntos, pra chorarem separados por tudo o que foi e não será, quando realmente não dá mais.

Triste é o fim em silêncio. Um dizer sem escândalo que vai embora e o outro concordar sem pestanejar. Isso não é ir embora de vez, isso é nunca ter ficado. Falta amor no fim de um relacionamento que termina em silêncio.

É tanta coragem quando se inicia, os começos exigem de nós uma valentia de suportar o inesperado e o imprevisto de peito aberto. E a gente sempre topa. Usa a coragem como o tênis preferido, até desgastá-lo e acabar com ele. A gente caminha com a coragem sem os pés no chão e se apoia na esperança de que tudo dê certo.

Um dia, pra começar, você já teve que ir embora. Vá de novo e vá definitivo. Mesmo com a certeza que pra sempre é sempre muito tempo. Mas não gaste toda a coragem no princípio, renove-se dela, alterne os sentimentos com ela. Não a consuma de uma única vez, conserve pra ela aparecer depois e vá embora de vez!

Quando todos os defeitos estiverem à frente, tenha coragem para dizer e raiva para permanecer na decisão. A raiva, ainda que provocada, alimenta a teimosia e a certeza nos argumentos. Irrite o outro, se irrite, mas não viva sem avançar. Não seja covarde, não sinta dó, não permaneça insatisfeito com o sentimento que escolheu.

Quando não enxergar mais o lado bom, enfrente o novo desejo e assuma a escolha, mesmo com dor, mesmo sendo o amor da sua vida. Todo amor é sempre o amor da vida. Ir embora não é esquecer, partir na hora certa é guardar o melhor do romance. Vá, mas faça barulho. Só se vai embora de vez com portas batendo e o eco ficando. Uma forma de provar que a história valeu a pena, que o amor existiu. Mas a vida continua.


5 comentários:

Naty disse...

Perfeito!!

C. Dayan disse...

Obrigada, Naty! :)

Anônimo disse...

É engraçado o que um clique (ou click?) é capaz de fazer. Acabei de abrir o meu Word para começar a escrever alguma coisa. Sabe quando você não sabe o que, mas que precisa escrever alguma coisa. Não tem um roteiro definido, sem começo, meio ou fim, mas tem o sentimento, a represa e tal.
hoje o sentimento que eu tinha me fazia crer que eu tinha algo a escrever, a dizer a mim mesmo. Desabafar, enfim.
Contudo, acabei por clicar em uma das últimas páginas visitadas do meu navegador. A sua página, que me trouxe a este texto.
Engraçado o que um clic (?) faz né?
Eu achando que precisava escrever, quando na verdade precisei apenas ler.
E agora preciso tomar uma, para descer tudo isso.

Rosa disse...

Nossa!! Gostei!!!
Bjs, Rosa

Flávio Faria disse...

Insuportavelmente verdadeiro. Parabéns pelo texto.