D'propósito

18 de setembro de 2012

Arrepender-se II

Dias e dias sem escrever, culpa daquela tristeza que pega a gente na esquina de uma segunda-feira sem destino e enche o coração apaixonado de arrependimento. Virou a rua, perdi de vista, ainda bem. Passou. E passei dias repensando sobre o arrependimento, que no momento de fúria com o sentimento despejei rápido a um post abaixo. Que zombeteiro somos com nós mesmos e como o tempo é mesmo sabedoria, é o terapeuta popular, de graça, honesto e verdadeiro, te enche de perguntas e permite que você mesmo enxergue as respostas. 

O divã são as ruas, calçadas, esquinas, shows e cinemas. É a literatura, a história de outro diante do nosso olhar.

No meu modo de fazer terapia, além de ler a respeito, é pensar, pensar e pensar. Caminhando, ao volante, com os olhos perdidos na multidão analisei sobre o que sentia a respeito do arrependimento. Quantas vezes desisti por medo? Quantas dores uma decisão me causou? Quantas alegrias há numa vida de impulsos? Quantas histórias eu tive para contar? Quantas vezes eu ri na cara do perigo? Quantas vezes eu me superei? Quantas vezes eu fracassei? E quando foi que eu me arrependi?

Revisitei o passado e respondi pergunta a pergunta. Seria um absurdo dizer que nunca me arrependi. Claro que eu já me lamentei algumas boas e várias vezes e já quis mudar de idéia. E nem acredito em quem diz que nunca se arrepende. Mas comigo o arrependimento sempre foi temporário, porque na verdade era o sentimento de negação ao fato, somado a raiva de uma situação ou alguém. E está errado! Essa é só uma reação (natural?) de enfrentar meus fracassos afetivos. E isso não é arrepender-se, não por completo.

O arrependimento é o único sentimento que comprova o equivoco nosso, só nosso. O arrependimento é pessoal e intransferível, não existe culpado senão o eu. E quando se tem mágoa, irritação, fúria ou ódio de alguém não pode se lamentar por ter vivido determinada história. Afinal, enquanto a experiência parecia boa não surgiram dúvidas de seguir adiante e tentar um pouco mais.

Podemos nos arrepender por uma atitude nossa, - quando normalmente voltamos atrás e pedimos desculpa -, mas não por ter vivido uma experiência que não deu certo por uma reação oposta ao que podemos controlar.

E depois de dias refletindo, foi num trânsito de mais de uma hora na Radial, numa sexta-feira de calor que eu entendi que toda escolha é sempre a escolha certa, o arrependimento é só uma lição e uma oportunidade de melhorarmos. 



5 de setembro de 2012

Dois sorrisos.

Um achado perdido em uma bolsa qualquer, pelo estimado Moraes, meu poetinha do subúrbio, dentre os meus Moraes preferidos, que sempre soube me arrancar sorrisos.

Sorriso em voz

Por perto do meu redor
Sinto a presença auspiciosa e perene
De jeito puro, num silêncio entrecortado em voz
Vejo a aparição discreta da beleza tênue
Vem-me
Faz-me teu, de filho pródigo e amor solene

Porque de mulher exata
És antítese e prova
Com erros e palpites apenas me maltrata,
Quando bota aquele decote de blusinha roxa, ou o blush nas bochechas cor-de-rosa.
E depois o salto
Alto
e o dengo e charme na prosa

Ser a ti atento
Ver-te num instante de calma e a fúria a exaltar-te nas têmporas
Ver-te bufando feito o mais forte dos ventos,
E acalmar-te num abraço que cheira amêndoas

Pois adoro ver você, mulher
De ver como dos homens em nada depende, pelo contrário, és farta
Ao passo de até (imagine!) se vier
De encontro a ti, no banheiro uma barata,
Não pestanejas, mata.

Pára e me diz:
"ó de Moraes, vai à frente que eu tô a esperar na esquina"
Ora! Que gesto infeliz!
Não vês que não passas de menina?
Infâmia.
Deixe estar que eu hei de ter fama
E você em casa, na minha cama

Seja franca:
"Por que achas que de mim tem tudo?"
"Não bobinha, não são teus seios e não são as tuas ancas"
Que absurdo!
Na tua frente, sob os teus olhos, me sinto como se fosse nu
Gosto de ti porque é estranho garota.
Gosto tanto do seu All-Star, o branco e o azul

Mas que bela senhorita
Se fosses ao meu tempo, este vestidinho em que rebola as ancas
Era de chita
Esses homens são umas antas
Pensar que de fato são gigantes, que pelo tamanho espanta
Desarmaram-se num mal-me-quer
Feito criança com o copo de Fanta
Uva. Porque laranja minha mãe diz que faz mal à garganta
Acham que podem com o sorriso dela que encanta
Sorriso que vale mil palavras ou gestos. Sorriso de mil tons, ele canta.