Das fragilidades da vida, a minha maior sempre foi a
memória. Não sou capaz de lembrar uma história por completo, recordar de
pessoas, filmes, que dirá nomes. Pra isso tenho Google e melhores amigos que
me relembram cada detalhe da nossa infância para que eu não me perca. E uma
estagiária, é verdade, que me lembra o nome de todas as pessoas com quem
trabalhamos e qualquer ator que tento recordar. Mas ela, como todo estagiário,
criou asas e voou para ajudar outras cabeças. Boa sorte, axé, saravá! Deseja
minha Bahia.
Escrever, aqui, sempre foi uma maneira de manter minha
memória viva. Reler os arquivos do blog é como voltar no tempo, à mesma
sensação de ver foto, um misto de prazer e saudade. Mas confesso, há textos
produzidos que não sei se foram de fato reais ou ficção. Uma vez minha terapeuta
perguntou sobre um texto antigo, de 2008, se tinha acontecido de verdade. Eu
não soube responder com certeza.
As pessoas ficam irritadas, indignadas, “mas como pode você
não lembrar das coisas que viveu?!”
Não sei, não lembro e isso não é D’propósito, juro. O que
pode ser muito bom, porque até as coisas ruins o tempo faz o favor de apagar. E
por falar em apagar, entre inúmeras tentativas de aniquilar o blog, por conta
de não escrever mais com frequência, a causa de nunca ter conseguido ainda é por guardar a minha memória aqui. Mas acontece que dia desses, com essa coisa de inferno
astral etc e tal, andei cabisbaixa, triste, abatida.
Nesse momento tem a deixa para o Eulírico perguntar.
- E quem foi que abateu?
Meu coração batido, dilacerado, feito pedacinho de novo. Um
desânimo da vida.
Mas num desses encontros felizes conversei por acaso com
uma amiga sobre futuro, rotina, amadurecer e como era bom ter 19 anos. E quase
como um conselho ela me disse, “você era alegre e feliz, escrevendo no blog
quase que diariamente porque nele você deixava tudo que sentia e seguia mais
leve”.
E foi então que entendi porque eu realmente
escrevia. Tinha me esquecido. Achei que era pra lembrar. Não. Era para caminhar mais leve e esbanjar a alegria que todo mundo sempre me pediu pra nunca perder.
Escrever, na verdade, era minha terapia e evolução. Escrever foi o modo que criei de não esquecer como amadureci.
E mais adiante na conversa com um pouco mais de alegria comentei
que tudo o que eu queria agora, quanto ao amor, era fugir de badalação, pessoas
famosas, conhecidas, pseudo-notáveis, ou com uma ideia na cabeça e uma mochila nas costas.
Eu só quero alguém mais perto do normal possível. Com um emprego normal, com
horários normais, com uma vida normal, mas que tenha o mesmo gosto cultural que
eu!
Ela gargalhou e me disse, “cara, você está velha mesmo!”
É, sinto o cheiro do renew e dos
30 daqui e como sempre, prometo, mais uma vez - se eu não esquecer-, voltar a rabiscar pra continuar desenhando a alegria cotidiana de antes e de sempre.
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