O trocadilho infame do título é porque a imagem que tinha de Sebastião Salgado mudou completamente e para melhor, depois de hoje, na cabine do filme O Sal da Terra, documentário que concorreu ao Oscar e mostra a trajetória do fotógrafo e as histórias de muitas de suas imagens.
Sempre admirei o profissional, porém considerava uma figura quase inalcançável e o achava até um pouco soberbo, por algumas entrevistas. Me agradava o trabalho mas não exatamente o homem. Uma tolice, passei anos completamente equivocada. Depois de ter visto o documentário comecei o admirar como homem, cidadão do mundo e de uma alma iluminada. O documentário traça um pouco de sua vida pessoal, porém, o foco de toda a trama, na verdade, acaba sendo os personagens de suas fotos.
Salgado nos conduz na maior parte do filme com sua narrativa, em francês, através de sua obra colocando o público para dentro da história de suas imagens; uma viagem pelo passado revelado pelo o olhar de quem conviveu meses enraizado, vivendo costumes e dificuldades como seus fotografados. E o que me parece mais surpreendente é que ele não dá o depoimento voltado para sua experiência complicada ou prazerosa. Isso está implícito, mas Salgado pouco usa o "eu" e revela o que exatamente interessa: histórias.
O filme é tocante, chocante e, pra mim, revelou detalhes da história do planeta que não sabia, como o genocídio em Ruanda, na África, e os poços de petróleo que explodiram do Kuwait. Me perguntei por onde andei que nunca soube. Vergonha. Mas acontece. Obrigada, Sebastião e aos diretores do longa, Win Wenders e Juliano Salgado.
A coadjuvante dessa obra toda, filme e carreira de Salgado é sua mulher, Lélia. Penso que seria possível um segundo filme só pra falar da força e parceria que houve enquanto Sebastião caía na estrada para revelar o mundo e realizar um sonho.
A beleza desse documentário está, sobretudo, na realidade e na esperança e possibilidade da vida.