D'propósito

20 de setembro de 2009

A nossa infância e ao seu aniversário


Eu sempre ouvia dizer que o tempo passava rápido demais, até os meus 14 anos eu achava isso um mito. As tardes eram longas e os dias se arrastavam para que chegassem o meu próximo aniversário e com isso os desejados 18 anos. E hoje, com um pé e meio nos 21, eu tenho a certeza de que o tempo passou realmente rápido e a minha pressa em crescer, provavelmente, foi a maior burrice de todas que eu já cometi e as que eu ainda nem fiz.

Mas da minha vontade de crescer, fica a realização na minha boa memória e infância que tive, porque há exatos 16 anos eu me lembro de como tudo era lindo e fácil. Não que agora seja feio ou muito difícil, mas é que após 16 anos tudo fica mais delicado. E os problemas não são os números e sim o tempo. Não tenho nada contra esses algarismos que definem as datas, as horas e o passado; apesar de poucas vezes terem me ajudado em tempos de escola. O contrário, sempre me deixaram no sufoco, mas ainda assim gosto deles, principalmente dos números pares, porque há exatos 16 anos eu entrevistava pela primeira vez uma pessoa, sem saber exatamente que dali um pouco mais de uma década estaria eu, novamente, com o microfone em mãos ou um gravador.

A inesquecível, gravada e primeira entrevista não foi com nenhuma estrela ou celebridade, mas era com alguém que estreava todos os dias na minha divertida infância e acreditava em mim.
Com uma voz infantil, no entanto, rouca e até evoluída para pouca idade, eu já demonstrava aptidão pela comunicação, se me permitem a falta de modéstia. Começando por meu entrevistado acanhado, de poucas palavras que tive de conquistar durante a entrevista e acabei perdendo o carisma dele depois de alguns anos.

O cara era três anos mais velho do que eu, mas apesar da sua timidez mostrava talento pela narração de jogos de futebol. Ele até cogitou após uns 15 anos ir para jornalismo, mas o destino o levou para outro lado e o mesmo que o desviou do caminho deu-me de presente a comunicação, que era dele e acrescentou à minha.

Hoje eu faço jornalismo e mal podia imaginar que o meu irmão de anos atrás tivesse sido a influência de ser e estar onde estou. Ainda hoje ele continua sendo o meu irmão, ao menos é o sangue que nos une, no entanto, hoje ele não acredita tanto no meu talento ou no meu esforço. Ele é um burguês que me vê apenas como uma garota pequena-burguesa que não sabe ganhar dinheiro.

E ele tem toda razão, sou pequena-burguesa e não sei mesmo ganhar dinheiro. Faço jornalismo ! Ele conseguiu a tempo mudar sua aptidão de humanas para exatas e hoje fatura o que acha mais importante: o dinheiro.

E é faturando notas verdinhas que hoje ele também fatura mais um ano de vida, sem mudar muito sua personalidade de 15 ou 16 anos atrás, me olhando e me chamando todos os dias de baiana. E eu acho o maior elogio.

E ainda insatisfeito ele resmunga sobre meus gostos musicais, sobre minhas roupas e debate que eu não contribuo em nada para a economia do País e também não faço diferença na imprensa. Mas antes de ter o valor de uma massa maior, o que seria fundamentalmente importante é ter a estima que foi depositada há anos, e a gargalhada infindável da minha mãe ao ouvir a gravação, com minhas meias palavras de meus quatro anos de idade.

De fato, eu posso não ter colaborado em nada para a economia do País, nem para a imprensa, mas eu já acho satisfatório ele ter contribuído com a minha formação e escolha da profissão que paga mal, mas que eu adoro. Até porque, eu só sei fazer isso e fora isso só sobram os meus gostos adversos aos dele, e a entrevista que ta gravada na memória e foi gravado no meu primeiro Gradiente, em uma fita colorida, nos meus quatro anos de idade e no seu aniversário.

ps. é, sou eu mesma. Essa coisa gorda, estranha e cabeluda sou eu. Eu tenho/tinha cabelos cacheados. E se tivesse a cabeça de hoje e não de quando alisei minhas madeixas pela primeira vez - influênciada pela minha mãe - eu nunca teria feito, mas agora pra deixar o natural é preciso raspar a cabeça. Bem, mas isso é assunto pra outro post.

Um comentário:

Rics disse...

Ah Petit! Chorei.
Olha só que coisa, eu brincava com minha irmã de "rádio". A gente botava os bichos de pelúcia pra ouvir radio e eles ligavam pra emissora, pediam músicas e onde eu também vim parar? Mas nunca trabalhei em rádio pra não ser mais pobre do que já sou! hehehe.
Irmão é metade da laranja né? As vezes doce, as vezes azeda, mas sempre dá um belo suco! Incrível como vc se revela nas suas entrelinhas. Arretada como uma boa baiana, doce como a garota de ipanema e ao mesmo tempo, ácida feito uma paulistana. ;)

Beijocas estaladas!