D'propósito

15 de novembro de 2009

Dois olhares

A minha última imagem de você é sempre o seu olhar desviando do meu. Eu largo os olhos e passeio pelas suas mãos, pelo seu disfarce em ler o montante de papéis que segura. E eu paro nos papéis e nos seus dedos, nas pontas deles. Gostava da maciez e da delicadeza em que eles me abordavam. Então eu disfarço e de canto de olho te pego levantando a cabeça e a retina pra observar qualquer detalhe meu. Seja no cabelo, na blusa, na curva entre a cintura e o quadril, nas pernas, quem me acompanha e se olho mais profundamente para alguém como olhei pra você. Olho! Olho pro mundo e pra todos os olhos que não se pareçam com os seus. Porque não consigo mais me enxergar na sua visão.

Apesar do desejo da observação, antes de me levantar e ir, eu tento mais uma vez ver quais são as cores dos seus olhos que o tempo me fez ter dúvida. Você não olha, não levanta o olhar. Está preso ao papel, está com os olhos presos ao papel, porque a mente vagueia pela minha presença que te atordoa, incomoda e cega, faz de conta que não vê a ponto de me fazer acreditar que o que está aí não pode durar. E o que está aqui também não. Aqui é saudade e aí é vontade.

3 comentários:

De Lancret disse...

na ficção eu diria que é ótimo, mas triste.

na vida real eu acharia triste, porém ótimo.

Fique com o elogio que preferir!

=****

T. disse...

...Dejá Vuu!
:S

ótimo texto! me apaixonei...!




• "como há fim naquilo que nem ao menos começou?"

ascka disse...

Saudade e vontade...Êta rima perigosas!