D'propósito

27 de janeiro de 2010

Uma pergunta nada comum

Com este blog eu já recebi várias dúvidas, algumas chegam por email, MSN, Orkut e para os mais íntimos por telefone. Grande parte das perguntas sobre relacionamentos – como se eu fosse a bem resolvida, mas acho que o fato de não ser e acabar desfrutando ou desfrutada da vida, faz as pessoas acharem que, bem, eu sou a fada madrinha da vida afetiva.

Depois de um ano de namoro com um intelectual e poetinha, dois anos de um caso fracassado com um egocêntrico acima do peso, uns quatro meses com um bonitão e mais uns freelas por aí, eu aprendi que a fila anda, mas a catraca tem que ser seletiva. Nem que pra isso a catraca não vire.

Minha família acha que eu sou encalhada, porque depois do meu primeiro namorado não apresentei mais nenhum, e isso se deve ao fato que não faço dos homens um troféu para desfilar com eles. E depois, como a catraca é seletiva, quem já foi a Paris não vai mais querer Freguesia do Ó. E com meu limite de exigência a coisa fica preta pro meu lado. Agora ando sutil, já cobrei mais. Antes, ser músico ou saber tocar algum instrumento era requisito indispensável. Uma bobagem, claro. Mas que dava um charme.

Mas mesmo sem virar a a catraca, colecionar histórias felizes e frustradas meu telefone toca com alguém muito desesperado do outro lado. Antes o desespero fosse de uma voz masculina, que assim juntaria a fome com a vontade de comer. Mas não, era uma voz de uma mulherzinha preocupada com suas relações e querendo esclarecer suas dúvidas comigo.

Minha ética não permite entregar a fonte mas antes de responder eu dei uma boa gargalhada e perguntei se ela estava louca. Ela simplesmente disse:

- Camila, me ensina a transar ? (tomara que meu pai não leia isso).

Isso é o tipo de pergunta assustadora, que se você está comendo engasga, se está dirigindo diminui a velocidade e se está apertado faz xixi nas calças de tanto rir.
A piada não vem só da pergunta, mas por quem e como é perguntada. Depois da minha surpresa cômica, vem a minha sutileza e pergunto o que exatamente ela tem dúvida. Porque não tem como eu ensinar uma mulher a transar, talvez dar algumas dicas, mas essas coisas a natureza age por si só. Na verdade só não, a dois de preferência.

E à princípio foi a dica que eu dei, fique com alguém que você tenha intimidade e manda bronca pra perder a vergonha. Use o instinto.

Minha leitora inexperiente teme ser frígida, porque segundo ela não sente nada na hora da penetração, mas se anima bastante com as preliminares. No raso da minha sabedoria tentei explicar que é IMPOSSÍVEL um pênis entrar nela e não sentir nada. Seja lá o que for. Dor, repudio, incomodo, prazer. Nunca ouvi nenhuma mulher dizer que não sentia nada. Você pode até sentir falta se a natureza não favoreceu seu parceiro, mas nada é muito pouco.

Mas nesse caso não basta fazer coro com Arnaldo Antunes na música, Socorro e cantar, “Socorro não estou sentindo nada...”. Depois, ou melhor, antes. Antes de sair com alguém que tenha intimidade para descobrir o que pode estar errado é se descobrir, se tocar e perceber onde se tem mais sensibilidade e, consequentemente, mais prazer.
Esse é o tipo de dica que todo mundo já escutou, mas eu reforcei porque ela é toda encanada. Mas a guria percebeu que quem poderá desencaná-la não sou eu e sim um amigo que ela foi pedir socorro e fez a mesma pergunta a ele que fez a mim.

Claro que ele topou. E eu desejo mesmo que ela consiga enfim desvendar o caminho de seu prazer. Mas eu tenho por mim, que não será difícil tarefa porque não há nada de complicado. É quase como andar de bicicleta ou dirigir, a prática só te faz melhor e mais seguro.

18 de janeiro de 2010

Saudade de verão


foto: camila dayan


A saudade de você em mim é feito chuva de verão. É rápido, mas é forte. O meu céu que sempre está azul de repente escurece com a falta que eu lembro ter de você.

14 de janeiro de 2010

Meu sétimo pecado capital

Eu nunca vi ter tanta força, e de tão persistente que é às vezes parece do mal, mas também vez ou outra faz um bem. A danada já foi tema de música, já se meteu na literatura e também vive chegando perto de mim e me dizendo o que devo ou não fazer, e deixar o trabalho pesado para amanhã, claro. É a Preguiça, que feito Deus, ninguém nunca viu, mas a malandra faz a gente acreditar que está entre nós. Pelo menos está em mim.

Ela podia trabalhar seis dias e descansar no sétimo, como Deus que no último dia da semana também sentiu aquela preguicinha, aposto. E por coincidência ou não, é ela o sétimo pecado capital. Mas comigo eu tenho que lutar, brigar feio com a Preguiça que faz questão de me descansar seis dias da semana e trabalhar um. Bem diferente do Supremo. A Preguiça até parece má, assim, olhando desse ponto. Mas ela tem seu lado bom, porque a preguiça de sair de casa, por exemplo, me faz ver vários filmes no Telecine, assistir a quase todos os seriados da TV a cabo e no fim da tarde ainda pegar uma piscina, porque eu não gosto do sol forte, nem de criança gritando para atrapalhar minha leitura, tão pouco de arriscar perder o MP3 ou o ipood por uma guerra d’água. Além da incrível economia que se tem ficando em casa – principalmente quando se está de férias forçadas.

Com o meu jeito eu-resolvo-tudo-na-última-hora (e resolvo mesmo), a preguiça chega a me deixar confusa se sou assim porque sou brasileira, ou porque sou preguiçosa mesmo. Mas a preguiça tem lá a sua vantangem. Por exemplo, na minha primeira entrevista de emprego e também meu primeiro emprego, na revista da FGV, minha chefe perguntou:

- Qual o seu defeito ?

Primeiro, que eu acho que essa turma de chefia e RH lamentável, deviam ser mais originais, ninguém vai falar a verdade, exceto alguém tapada e sincera feito eu, que respondi:

- São muitos, mas o mais cruel mesmo é a preguiça

Sorri depois que disse a palavra p-r-e-g-u-i-ç-a. Sempre soa melhor o sorriso no final dela. A minha ex-chefe olhou pra mim assustada e repetiu o que eu tinha falado, quase desacreditando. Mas me contratou, acho que ela quis pagar pra ver.

Aí eu tive a certeza que não há porque eu odiar a preguiça, feito minha mãe que vive xingando a minha lassidão. Se não fosse a preguiça, somado a minha sinceridade, claro, sabe Deus quando e onde teria sido meu primeiro emprego, que abriu porta para outros e outros e outros.
Mas é fato, que a preguiça age como visita, quando sabe que você é ocupada e não tem tempo pra nada ela até bate e te tenta, mas devido às tarefas você resiste. Mas nas férias e enquanto estou desempregada, ela sabe que eu não estou fazendo nada e chega mesmo, não tem como não recebê-la


Mas se um dia eu tiver um filho, pra ele não sofrer tanto da preguiça a primeira música que vou ensiná-lo é Sai Preguiça, que em mim já é a doencinha de quem gosta da boa vida.

Mas, sai preguiça que eu preciso trabalhar !




7 de janeiro de 2010

Sô, sotaque e só

Mais do que as palavras, escritas, bem escritas, colocadas e perfeitamente acentuadas eu adoro o som das vogais arrastadas e das consoantes puxadas. Eu sou apaixonada pelo som e viciada no jeito com que as pessoas falam. O sotaque é a personalidade na afirmação da boca que derrama o som. Eu já me apaixonei por homens que só tinham sotaque e nada mais. E quando dizia que gostava era do sotaque dele, as pessoas me diziam estar louca, ninguém pode gostar de alguém só pelo sotaque. Hmm, mas o som tem sabor, sai com força da garganta e sinto aos poucos o som atravessar a boca e chegar a minha. Eu não preciso mais do que meia hora de prosa para já estar arrastando a pronúncia de qualquer canto que venha do país. Tenho minhas preferências, claro. Aquele sotaque sulista, cantandinho, arrastando, arrastando eu corto as cordas vocais de inveja. E tem aquele lento, devagar e todo charmoso do baiano e o mais charmoso e ligeiro do pernambucano. A malandragem do carioca e o R mais puxado do interior e o mineiro que vai comendim as palavras.

O sotaque é saudade que eu sinto dos dias de férias que passam e da convivência com os amigos de longe, que apesar do presente das palavras todas diferentes da minha rotina, dura pouco nessa boca. O tempo, como sempre, trata de deixar a deriva meu sotaque de mentira com saudade e a espera das próximas férias ou dos próximos encontros a preencher meu tique de sotaque, que só não muda no tom da risada.