Depois de um ano de namoro com um intelectual e poetinha, dois anos de um caso fracassado com um egocêntrico acima do peso, uns quatro meses com um bonitão e mais uns freelas por aí, eu aprendi que a fila anda, mas a catraca tem que ser seletiva. Nem que pra isso a catraca não vire.
Minha família acha que eu sou encalhada, porque depois do meu primeiro namorado não apresentei mais nenhum, e isso se deve ao fato que não faço dos homens um troféu para desfilar com eles. E depois, como a catraca é seletiva, quem já foi a Paris não vai mais querer Freguesia do Ó. E com meu limite de exigência a coisa fica preta pro meu lado. Agora ando sutil, já cobrei mais. Antes, ser músico ou saber tocar algum instrumento era requisito indispensável. Uma bobagem, claro. Mas que dava um charme.
Mas mesmo sem virar a a catraca, colecionar histórias felizes e frustradas meu telefone toca com alguém muito desesperado do outro lado. Antes o desespero fosse de uma voz masculina, que assim juntaria a fome com a vontade de comer. Mas não, era uma voz de uma mulherzinha preocupada com suas relações e querendo esclarecer suas dúvidas comigo.
Minha ética não permite entregar a fonte mas antes de responder eu dei uma boa gargalhada e perguntei se ela estava louca. Ela simplesmente disse:
- Camila, me ensina a transar ? (tomara que meu pai não leia isso).
Isso é o tipo de pergunta assustadora, que se você está comendo engasga, se está dirigindo diminui a velocidade e se está apertado faz xixi nas calças de tanto rir.
A piada não vem só da pergunta, mas por quem e como é perguntada. Depois da minha surpresa cômica, vem a minha sutileza e pergunto o que exatamente ela tem dúvida. Porque não tem como eu ensinar uma mulher a transar, talvez dar algumas dicas, mas essas coisas a natureza age por si só. Na verdade só não, a dois de preferência.
E à princípio foi a dica que eu dei, fique com alguém que você tenha intimidade e manda bronca pra perder a vergonha. Use o instinto.
Minha leitora inexperiente teme ser frígida, porque segundo ela não sente nada na hora da penetração, mas se anima bastante com as preliminares. No raso da minha sabedoria tentei explicar que é IMPOSSÍVEL um pênis entrar nela e não sentir nada. Seja lá o que for. Dor, repudio, incomodo, prazer. Nunca ouvi nenhuma mulher dizer que não sentia nada. Você pode até sentir falta se a natureza não favoreceu seu parceiro, mas nada é muito pouco.
Mas nesse caso não basta fazer coro com Arnaldo Antunes na música, Socorro e cantar, “Socorro não estou sentindo nada...”. Depois, ou melhor, antes. Antes de sair com alguém que tenha intimidade para descobrir o que pode estar errado é se descobrir, se tocar e perceber onde se tem mais sensibilidade e, consequentemente, mais prazer.
Esse é o tipo de dica que todo mundo já escutou, mas eu reforcei porque ela é toda encanada. Mas a guria percebeu que quem poderá desencaná-la não sou eu e sim um amigo que ela foi pedir socorro e fez a mesma pergunta a ele que fez a mim.
Claro que ele topou. E eu desejo mesmo que ela consiga enfim desvendar o caminho de seu prazer. Mas eu tenho por mim, que não será difícil tarefa porque não há nada de complicado. É quase como andar de bicicleta ou dirigir, a prática só te faz melhor e mais seguro.