D'propósito

10 de setembro de 2010

Além do que se lê

Detesto dar satisfações, explicar porque, como, quando, onde e com quem. Coisa de menina mimada metida a independente, diria a minha avó. Mas não suporto o lead da vida, as justificativas acabam com o gosto da experiência e foi Rainer Maria Rilke que disse que devemos viver primeiro as perguntas e depois, com tempo, quem sabe, conseguiremos viver as respostas. Eu tenho ansiedade da vida, curiosidade em sentir e é isso que as pessoas confundem. Não gosto de explicar porque me atrasei para não precisar mentir. Odiava quando nas provas de literatura e no vestibular as perguntas afirmavam em alternativas “o que o autor quis dizer”. A pergunta deveria ser o que você sentiu. Nunca ninguém saberá de verdade o que um autor quis dizer. Há emoção, há história, há ilusão, há ficção e só nós, autores, sabemos a verdade sobre cada palavra que escrevemos. Nos meus textos, naturalmente, só eu sei o que é real e o que é ficção. Qual a verdade dita e a verdade inventada. Minha palavra, enquanto literatura, é metade do que sou e a outra metade é o que eu gostaria de ser, ou de como eu gostaria que fosse.

Eu sou uma eterna apaixonada, da linha direta de Xangô e de Vinicius de Moraes, meu poetinha e parceiro zodiacal de data de aniversário. E como Vinicius eu careço de paixões e de histórias, minhas e dos outros, para compor, para escrever, para romantizar a vida e as palavras.

A paixão em sua maioria é uma doença, para mim é a libertação! Porque eu sempre preciso de um novo começo, minha literatura não resiste aos meios. O fim ainda é melhor, ao menos, eu recomeço. Passei três anos apaixonada por alguém que refazia o começo todos os dias, me alimentava do que eu mais necessito: inspiração. E não é que eu sofro, não é que eu ame, é que eu escrevo. E não quero perder a capacidade de me surpreender com o cotidiano e de me surpreender. Depois dele o primeiro e, provavelmente, o maior, veio outro, outro e outro. Alguns eu não soube definir se foi paixão, admiração ou vontade, mas eu usei todo e qualquer motivo para compor minhas fábulas. Por um eu tenho carinho, pelos outros eu tenho desejo e nunca defini isso como amor, e sim como inspiração.

E apesar de escrevê-las, à princípio sem medo, publicar um texto é falar para todo o mundo, quem quer que seja, e de alguma maneira ser pega pela pergunta, questionada pelo sentimento e até pela compaixão de quem de alguma forma acompanha a narrativa quase diária. Para isso a resposta é só uma: eu sou real quando vivo, não quando eu escrevo. Não confundam minha literatura comigo, o autor não é obra.


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O concurso para o D'propósito virar livro está nos seus últimos dias. Vote aqui quantas vezes quiser (ou no selo ao lado) e contribua para essa obra!
A família D'propósito agradece. ;)
Saravá.

4 comentários:

Madson Hudson disse...

De xangô para xangô, de viniciano para viniciana: lindinho e ótimo o texto.

Beijos.

Alê disse...

Ótimo texto. Conforto para quem escreve e quer soltar palavrar aos quatro ventos sem dizer porquê.

Anônimo disse...

mdgqdmxerrynmzunsbzm, justin bieber baby, dxskyis.

Flávia Magalhães disse...

De psicanálise para o Xangô, recomendo: " O livro da dor e do amor", (J.D.Nasio), só para entender porquê amamos quem amamos.
Beijos beijos.