Dias e dias sem
escrever, culpa daquela tristeza que pega a gente na esquina de uma segunda-feira
sem destino e enche o coração apaixonado de arrependimento. Virou a rua, perdi
de vista, ainda bem. Passou. E passei dias repensando sobre o arrependimento, que
no momento de fúria com o sentimento despejei rápido a um post abaixo. Que
zombeteiro somos com nós mesmos e como o tempo é mesmo sabedoria, é o terapeuta
popular, de graça, honesto e verdadeiro, te enche de perguntas e permite que
você mesmo enxergue as respostas.
O divã são as
ruas, calçadas, esquinas, shows e cinemas. É a literatura, a história de outro
diante do nosso olhar.
No meu modo de
fazer terapia, além de ler a respeito, é pensar, pensar e pensar. Caminhando,
ao volante, com os olhos perdidos na multidão analisei sobre o que sentia a
respeito do arrependimento. Quantas vezes desisti por medo? Quantas dores uma
decisão me causou? Quantas alegrias há numa vida de impulsos? Quantas histórias
eu tive para contar? Quantas vezes eu ri na cara do perigo? Quantas vezes eu me
superei? Quantas vezes eu fracassei? E quando foi que eu me arrependi?
Revisitei o
passado e respondi pergunta a pergunta. Seria um absurdo dizer que nunca me arrependi.
Claro que eu já me lamentei algumas boas e várias vezes e já quis mudar de idéia.
E nem acredito em quem diz que nunca se arrepende. Mas comigo o arrependimento
sempre foi temporário, porque na verdade era o sentimento de negação ao fato,
somado a raiva de uma situação ou alguém. E está errado! Essa é só uma reação
(natural?) de enfrentar meus fracassos afetivos. E isso não é arrepender-se,
não por completo.
O arrependimento
é o único sentimento que comprova o equivoco nosso, só nosso. O arrependimento é
pessoal e intransferível, não existe culpado senão o eu. E quando se tem mágoa,
irritação, fúria ou ódio de alguém não pode se lamentar por ter vivido
determinada história. Afinal, enquanto a experiência parecia boa não surgiram dúvidas
de seguir adiante e tentar um pouco mais.
Podemos nos
arrepender por uma atitude nossa, - quando normalmente voltamos atrás e pedimos desculpa -, mas não
por ter vivido uma experiência que não deu certo por uma reação oposta ao que
podemos controlar.
E depois de dias refletindo, foi num trânsito
de mais de uma hora na Radial, numa sexta-feira de calor que eu entendi que toda
escolha é sempre a escolha certa, o arrependimento é só uma lição e uma oportunidade de melhorarmos.
Um comentário:
Culpa é algo que não resolve mazela nenhuma.
Poucas vezes vi alguém em culpa fazer algo para reparar o mal que provocou.
Arrepender-se só vale no instantinho de repensar.
Daí só, que "o tempo só anda de ida". (Manoel de Barros)
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