D'propósito

5 de novembro de 2008

Mesa de jantar

Havia algumas semanas que Estela não via Mauro, resolveu parar de contar os dias de ausência quando a folha do calendário virou o mês. Nesse meio tempo, impaciente, provocou encontros ocasionais, arriscou discar os números do telefone dele, mas tudo foi infeliz. Os encontros tornaram-se desencontros, o telefone deu ocupado e sem desculpas ou argumentos para procurá-lo, depois da última discussão, resolveu esquecê-lo. Mas também foi infeliz. Repensou e descobriu que ela sempre viveu para contar histórias e de preferência as de finais felizes. Impulsionada pelo momento e o sentimento de saudade de Mauro, resolveu criar um pretexto para buscar, ou trazer, o homem que lhe aspirava à paixão. Assim, passou numa loja de móveis e comprou uma sala de jantar, Estela poderia tê-lo convidado pra jantar, almoçar, mas para ela, não haveria desculpa ou motivo que disfarçaria seu desejo, senão, talvez, mostrar a sala e o prato espanhol que tinha aprendido na ultima viagem.

Com prazo de entrega exigido por ela, em 24 horas a mesa estava em sua sala de jantar. Depois de horas ensaiando o convite pegou o telefone e com o bom motivo ligou para o Mauro.
Chamou, chamou, chamou, chamou e secretária eletrônica. Depois do sinal, veio a respiração dela de decepção e o recado.

- Mauro, é Estela. Eu achei esse número na minha agenda, e não sabia de quem era. Reconheci agora, quando ouvi tua voz no recado da secretária. E então Como vai você? Eu vou bem e ... eu comprei uma sala de jantar nova, se quiser me ligar ou passar aqui pra gente estrear ou comer uma pizza, ou beber alguma coisa, pode ser legal. Bem, é, é... acho que é isso. Um abraço.

Depois do recado, Estela percebeu que o ensaio pro convite não valeu nada, e teve vontade de quebrar o telefone e ir até a casa dele apagar a mensagem desesperada que deixou. Mas pra quem vivia pra contar histórias, ela já podia contar mais uma - para os seus amigos -, na sala de jantar.

5 comentários:

Anônimo disse...

"- Mauro, é Estela. Eu achei esse número na minha agenda, e não sabia de quem era. Reconheci agora, quando ouvi tua voz no recado da secretária."

:DD

A coisa mais real sobre amores platônicos que eu já li. Típica desculpa de que esta sem graça e no fundo sente tanta raiva, que já começa a confundir amor com ódio!

Adorei!

Suzana Matias disse...

Autobiografia???? ¬¬



O pior de tudo é que ele vai saber exatamamente que foi uma desculpa esfarrapada dela para marcar um encontro... he he

Bjs
Suzana
http://umlugarparachamardemeu.blogspot.com/

Luara Quaresma disse...

É muito bom te ler *-*

Anônimo disse...

ADORO ESSE LUGAR. :)

c disse...

adorei o conto!!!

Voltarei mais vezes.

Beijos