D'propósito

25 de maio de 2009

Ele não é tão sensacional assim, nós é que somos.

Sempre existe uma época na vida de um grupo de amigas que todas, por alguma razão não muito feliz, estão solteiras. Este é o momento que minhas amigas de infância e eu passamos. Somos solteiras e ainda felizes, mas claro, choramos nossas pitangas por falta de homem. Ou melhor, choramos não, rimos deles, do que eles fazem, de como cada um é e, rimos também, de como sempre vivemos moderadamente apaixonadas.
Toda mulher por mais durona que seja está sempre envolvida e pensando no flerte, no pretê ou até no ficante, isso para as solteiras. As compromissadas estão dois ou três passos à frente.
Mas pior que pensar numa pequena paixão é ficar com a velha naufragada nos pensamentos. E o que acontece muito num encontro das velhas amigas é comentar tudo sobre o carinha que era tão sensacional

- Ei, Camila, acorda, ele não é nada sensacional !
Diria Renata ou Taynã intervindo no meu pensamento e texto agora.

Certo, ele não é agora, mas já foi fofo, romântico, especial e apaixonante e continua lindo.

- Camila, ele é gordo. Ele não é lindo.
De novo aparece Renata e Taynã e eu as mando calar para que eu possa continuar.


O grande problema de nós mulheres, ou das pessoas apaixonadas está aí: a memória de peixe e a visão de cachorro. Nunca vêem completamente os defeitos horrorosos do apaixonado e esquecem as maiores falhas cometidas d’propósito pelo rapaz.
E pra isso servem as amigas de infância e até as amigas mais recentes. Pra lembrar que ele não vale nada. E por um minuto você se convence disso. Isso até a janela do MSN dele subir ou você cruzar com ele na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Contando que às vezes um minuto pode ter menos de 60 segundos na memória feminina, um cafajeste tem grandes chances. Eu, por exemplo, nunca compreendi o cérebro feminino ou dos apaixonados, mas acho mesmo que essa tarefa o Globo Repórter ou o Fantástico poderia descobrir e me ajudar a desvendar o porquê, quando apaixonados, esquecemos tudo de ruim que um fulano fez e lembramos só, apenas e somente, do café da manhã que ele preparou pra você, as flores que mandou, as palavras bonitas que escreveu e, se for músico, a música que fez e tocou pra você. É sempre assim. Você o odeia em um minuto e três adiante se derrete esquecendo o quão completo idiota ele o é.
Então descobri onde é que a esperança feminina mora: na memória de peixe. E mora também nos momentos doces e nas noites inesquecíveis, afinal, me parece que é só isso que fica quando você ainda não está preparada para esquecê-lo, ou simplesmente não quer. Aí vem aquelas amigas e dizem.

- Se você sair com ele de novo, esqueça, não fale com a gente. Ele é um imbecil, feio e não te merece.

E no primeiro minuto você está convencida. O problema é o minuto seguinte e como você educa seu cérebro para esquecer ou lembrar o que, agora, é melhor não recordar.


O melhor de tudo é que um dia com as amigas de infância tudo vira piada. Até a paixão de hoje, que ontem foi o menino pelo qual nós demos o primeiro beijo.



Taynã, Renata e Camila.
12 anos juntas trilhando caminhos diferentes, que se encontram.

22 de maio de 2009

Cômodo

Atrás da porta tem o futuro. Dentro do quarto o tempo está parado, o que respira são as músicas do rádio relógio que não correm os segundos e que tocam de alguma forma o tempo, que parado, faz presente. O vento ameaça abrir a porta, mas sopro nenhum é forte suficiente para mover a maçaneta que dá passagem para o futuro, é preciso mãos e coragem. Implacavelmente o vento que tenta abrir a porta é o mesmo que fecha. Portas só servem para serem trancadas quando há certeza. E não existe mais incerteza do que o futuro lá fora e o tempo presente aqui dentro.

13 de maio de 2009

Doce de pimenta

O primeiro sentido do corpo é a boca. Antes dela nenhuma palavra faz sentido, nenhum sabor ganha gosto e nenhum paladar tem o poder de reconhecer o doce, o salgado, o ardido, ou tudo junto e misturado. Os outros quatro sentidos do corpo - olfato, tato, visão e audição - é o que vem depois, é só a reação da ação que o nosso paladar escolhe entre degustar ou engolir a vida que devoramos pela boca. E como cada vida tem um sabor, quem disse que pimenta não pode ser doce ?




Doce de pimenta, pra mim, é o prato cheio. Cheio de sabor e sentidos.

6 de maio de 2009

Leite derramado

Eu nunca lhe quis perfeito, gostei mesmo foram das suas imperfeições, o seu modelo fora do padrão e o jeito como me deixava sem tatos, com a sua mão, voz e presença. Nunca precisou falar muito, aprendi a conhecer-lhe pelo modo que mexia nos cabelos e mastigava o chiclete. Seus passos sempre foram os mesmos, calmos, lentos. Mesmo com pressa nunca te vi correr, talvez porque nunca precisou usar dos passos largos, usou do sorriso e carisma pra segurar o tempo. Naturalmente, ele (o tempo) não parava, mas com você ele andava mais devagar.
E foi no meio tempo entre você passar e ficar que eu fiquei. Fiquei com a sua imperfeição que não é minha, vesti a tendência das suas palavras estúpidas, e me despi diante da verdade. Gritei suas deficiências que, talvez, no fundo, eu não gostasse. Eu só me acostumei a lhe ter imperfeito, a lhe ter de qualquer jeito. E enquanto eu fiquei, você foi, com o tempo que te espera, mas que eu não aguardo mais.

2 de maio de 2009

Se Vira !

Mais uma vez e em sua quinta edição acontece a Virada Cultural aqui em São Paulo. Para os leitores que propositam e não são da terra da garoa, a virada nada mais é do que 24 horas de cultura espalhada por toda a cidade. Com música, dança, teatro, circo e cinema. Tem cultura para todos os gostos, do brega ao erudito. Agora mesmo saio de casa para aproveitar alguns shows dessa edição.
Para quem vai ficar em casa, ou não é da cidade, acompanhe a virada ao vivo pelo site da TV Cultura clicando aqui. E fique ligado que a firma do Padre - como também é conhecida a Fundação Padre Anchieta - fará link a cada uma hora na TV.
Amanhã eu trabalho e estarei no link do palco São João, com show de Zeca Baleiro, Novos Baianos e Maria Rita.
Então se vira aí, mas não perde a Virada, não.

Axé, saravá e sorrisos largos.