D'propósito

28 de dezembro de 2007

Acaso - parte II


Nosso caso não restou vestígio. Não deixou uma fotografia de um sorriso ou um beijo. Não deixou uma carta, um bilhete ou um dizer; a única coisa que havia e não há mais, era um CD. Um não, dois. Um não é possível escutá-lo por inteiro, o outro a lembrança, a saudade, e qualquer sentimento retificado levou sem pedir autorização. Desapareceu, assim como você.

27 de dezembro de 2007

O cão e a religião


Fim de ano é sempre a mesma coisa. Ruas lotadas, shoppings intransitáveis, enfeites por todo o lado e claro, bombinhas e fogos de artifício. As bombas caseiras que os garotos soltam na rua é algo que me irrita tanto quanto loja lotada. Além da minha irritação com as bombas, há o meu cachorro que treme e até reza com medo delas.Na véspera do natal os fogos no céu e as bombas estourando no período da tarde já anunciam que o painho Noel já está chegando – é painho, porque fica mais brasileiro, mais baiano, mais cultural.

O natal é, sugere e às vezes é lembrado por toda essa religiosidade que eu não tenho, mesmo vindo de uma família tradicional e cristã. Se eu fugi da missa; descubro meu cachorro apegado na palavra do Senhor.A literatura religiosa chegou para o meu cão orelhudo, loiro e banguelo, Luck. Sua conversão à religiosidade foi pelos meios que me irritam no fim de ano e o assustam.

Na tarde do dia 24 cheguei em casa com os fogos e bombas já ardendo na rua. Se eu, mulher e corajosa me assusto de vez enquanto, meu cachorro que é uma criança e gay se treme de medo do barulho festivo. Mas pior ou desesperadamente do que ter medo é rezar pra alguém chegar e protegê-lo, ou que o barulho tenha fim. Isso é o que imagino que ele pensa, pois quando o vi em cima da bíblia que fica no criado mudo da minha mãe. Achei coisa de outro mundo; ele encolhido e tremendo com os olhos fixados no livro religioso. Provavelmente pedindo a Jesus, a Deus, a Maria, e a qualquer discípulo que o possa ajudar. Sem que ele notasse minha presença o observei e presenciei a fé do cachorro que reza diante de seus medos.

Quando o chamei pelo nome, quase pude ouvi-lo dizer, “em nome do Senhor. Graças a Deus. Amém.”Numa alegria estampada na sua boca banguela e no rabo curto, Luck pulou no meu colo como quem alcança o milagre. Então, eu pude ver que até as preces do meu cachorro são atendidas e que tudo depende de um ponto de vista. Porque o barulho continuou lá fora, mas agora ele está protegido aqui dentro. Seja pela sua reza ou pela minha presença.

22 de dezembro de 2007

Acaso


Após serem unidos pelo acaso e separados pela fatalidade, ela diz.

- Obrigada por me usar.


(((silêncio)))


Um beijo forte e quente acontece. Depois disso, a resposta dele.



- De nada.


E ele foi embora.

21 de dezembro de 2007

tempos de natal....

Até uns quatro ou três anos atrás, eu amava quando chegava à época de natal, principalmente, pela cesta natalina que minha mãe ganhava. Ela era e é funcionaria pública (e acho que sempre será). E as cestas que o governo dão são incríveis. Muitas guloseimas e bebidas excelentes . Sem falar na caixa de chocolate, sensacional!

Hoje eu nem vejo a cestas de natal. Não vejo minha mãe chegando com a grande caixa que estendia meu sorriso até dar fim a toda a comida, aguardando apenas, as lembrançinhas do ano novo.Hoje eu simplesmente chego – tarde da noite - e vejo sobre a mesa tudo o que sempre gostei. Não vejo mais minha mãe, não falo com ela e nem abro o armário pra conferir o resto da comida que fez minha alegria durante anos.

Meu apetite com os quitutes, bombons e afins, é pequeno hoje. Não os vejo chegar e não os saboreio sem o ranger da minha mãe sobre a sujeira e bagunça que fazia, não tem o mesmo sabor.Por enquanto, fico só com as agendas que o ano novo ainda reserva a ela e a mim. A única forma de calcular o tempo e a distância entre nós.

18 de dezembro de 2007

Jazz feminino, paulistano e com estilo

Há meses descobri uma cantora- que tenho por mim, de um talento e estilo excepcional - E como ela mesmo pode provar, comprovar e você aprovar. A moça paulistana de 27 anos, já invade as rádios de São Paulo, Rio de Janeiro e até onde sei, o Sul do país.Ana Cañas tem um estilo e voz peculiar, praticamente, inconfundível. Com influências jazzísticas e roqueiras; Ana levou para seu disco e carrega no palco o jazz bem trabalhado com a boa mistura da brasileiríssima Bossa Nova e do Samba.Para fazer esse álbum, Ana Cañas vasculhou músicas de Zé Keti, Paulino da Viola e Djavan. Frente a nenhuma letra que completasse o que queria, a jovem paulistana foi compor e resultou no trabalho Amor e Caos.

A primeira música que tive sobre conhecimento de Ana, antes mesmo dela lançar seu CD, foi "Devolve Moço", que durante muito tempo tocou repetidas vezes no meu playlist. Esse foi meu primeiro cotato com o novo canto do jazz, que revela não ter nascido cantora. Formada em Artes Cênicas pela ECA, reconhece-se uma péssima atriz. Se de fato o é, não sei, mas garanto para você que é uma excelente cantora, interprete e compositora.

Taí, da pra perceber que o legado das vozes femininas que abastece a música brasileira, promete perdurar. Abaixo está o vídeo pra você conferir o talento e o trabalho de Ana Cañas; ou então fuça no site ou no myspace dela, que tem o cardápio e um tira gosto muito bom do que o CD proporciona. Além do que, Ana Cañas já lidera a lista “na vitrola” aqui do D'propósito.Essa é uma boa dica pro meu amigo secreto e, provavelmente, pro seu também.

Amor e Caos, por ela mesma.

14 de dezembro de 2007

"Ficou um arraso no vestidinho...."

Essa foi a mensagem que recebi no orkut depois de ter feito uma compra absurda de cara, impulsiva e linda. Eu sempre tive o controle sobre mim e sobre meus anseios quase descontrolados. Mas como diria o poeta de Moraes, “quando você rebola as ancas com esse vestidinho...”

Não há o que dizer, amo vestido e eles (homens) também. Longo. Curto. Colorido. Básico. Florido. Decotado. Certinho. Multiuso. É isso, Multiuso. Imagine você que o vestido é tudo isso que descrevi; e o melhor de tudo e sobre tudo, posso usar de dois lados. Sensacional, diria LM se fosse mulher.

Depois de um encontro com o jornalista e também articulista da Mandacaru, Xico Sá (queridíssimo) no lançamento de seu livro, transito pela augusta e redondeza e pá! “Virgem Santa”, deparo com uma peça incrível e que provavelmente vai vestir-me na virada do ano - e já aviso de antemão,não é branco. Nada de tradicional - Esse tipo de compra tranqüila, só eu e mais ninguém na loja, me tira o estresse de natal.Estou mais feliz agora e imensamente preocupada com a divida que fiz. Porque fora o vestido, têm ainda a blusa, o shortinho e as duas calças. Ui! Acho que é a pós menstruação. Ela sempre me deixa assim, compulsiva.Se mulheres sofrem de pré; eu sofro de pós. Pós-menstruação, pós-compra, pós-pago. E pós-acerto de divida, provavelmente eu faça outra, pra perpetrar A vizinha do lado de Caymmi.E agora, à lá Dori e Roberta Sá eu vou desfilar e passar com o vestido grená, cantando em um belo estranho dia pra se ter alegria.

12 de dezembro de 2007

Nas ondas do rádio

Com a voz fina (gralha) de guria nova que possuo, naveguei nas ondas da Cultura FM de São Paulo. Eu não sei como fui parar lá, mas como diria o personagem de Ariano Suassuna, “só sei que foi assim.”Há alguns meses fui convidada para gravar uma novela radiofônica, pode? Acidentes acontecem até no rádio (!). Aceitei o convite e achei aquilo tudo muito divertido. Entre um erro e outro que meus colegas cometiam; eu cantava até o moço que cuidava do som cortar o meu retorno - Sempre quis cantar num estúdio. Realizei-me. Além das capelas que soltei só pra saborear minha voz e fazer os outros rirem; fiz pose de atriz e durante duas horas ou mais gravei uma novela. O nome já não me lembro mais, lembro de minha personagem, Camila. Seria impossível esquecer.

Quando terminei a gravação o produtor disse, “Muito bom! Você é atriz?”. O elogio massageou meu ego, mas instantes depois me trouxe para realidade que vivo, gosto e também me divirto.
Eu não ouvi quando a novela foi ao ar, pra dizer bem a verdade, eu não sei nem mesmo quando foi. Fui pega de surpresa na segunda-feira, quando me contaram que minha voz passou pela rádio Cultura. Vou tentar conseguir uma cópia pra soltar meu ar artístico e vocal por aqui. Por enquanto, só as letras mesmo.

11 de dezembro de 2007

Jornalismo na mesa

Na última quinta-feira, vivi algo que não foi obra do acaso e nem coincidência do destino. A noite quente e chuvosa me serviu como um prato cheio, delicioso e com direito a sobremesa. Satisfeita, aceitei o pecado da gula e me alimentei ainda mais enquanto houve tempo e espaço, na mesa que dividi com grandes nomes do jornalismo e da comunicação.

O dia era para o querido jornalista Assis Ângelo. O convite vindo do próprio semanas atrás para o lançamento de seu livro “ O dicionário Gonzagueano de A a Z”, veio como uma surpresa pra mim.
Quando entrevistei Assis para Mandacaru, não imaginava os bons frutos que me renderiam.
Saído direto da labuta, cheguei cedo no Bar Andrade e peguei uma conversa gostosa com Assis e o homem que lançou o Rei Roberto Carlos aqui na capital paulista. Sim era ele, Antônio Aguilar. Acompanhado de uns bolinhos de mandioca e a velha Brahma, preferida de nós Boêmios. Ainda conversávamos em pé até que os jornalistas ali nos convidam a sentar, dividir e compartilhar a mesma mesa. Tudo me soa como as descrições de Caetano entre os encontros com intelectuais que marcavam a época e que bem define em seu livro “Verdade tropical”.
Fora as descrições de Caetano, estava eu ali, frente ao jornalista e radialista com a voz e estilo único, Geraldo Nunes; o californiano pra lá de brasileiro e também jornalista Bill Hincheberg; Lenir que veio das bandas lá do Boldrin e uma extensa mesa que a minha memória não permite gravar todos os nomes. Mas o que está gravado e não apaga tão cedo, foram nossas conversas sobre a cultura brasileira; a educação; a Bahia, o Ceará, o Brasil e claro, não menos importante e fundamental a mesa de mestres do jornalismo e há dois aspirantes da profissão – Victor e eu – sobre o jornalismo atual e o do passado. A discussão era de que não se fazem mais jornalistas como antes.
A contenda foi longa. E na verdade, minha conclusão foi que, agora se fazem jornalistas e na geração deles, nascia-se jornalista. Não posso ter a pretensão de dizer se me fazem ou nasci com a arte que agora é moda e eu inevitavelmente visto. (Espero ter nascido com ela). Mas antes, diante ou pós tudo isso, me sinto privilegiada em ser recebida por quem é e nasceu jornalista.
Além dos petiscos, cervejas e o papo pra lá de gostoso, houve a hora de partir. E para minha surpresa e alegria mais uma vez, tive por parte dos queridos da mesa uma leve súplica para que não fosse embora; ficasse até o final da festa. Não pude. Mas fui embora com um livro autografado (meu primeiro livro autografado. Minha coleção começa agora.) e com vontade de ficar, no acompanhamento da boa música nordestina que vibrava no repente que não desafinava na mesa e no palco.
Depois do evento mandei um e-mail a quem considero, praticamente, meu padrinho do jornalismo. E com a atenção que me recebeu a sua festa e após uns trocadilhos no meu nome, ele responde.

Sim, nunca mais vou esquecer: CAMILA DAYAN.Esse é um nome que também fica bonito impresso. Vou acompanhar a sua carreira, Camila, pelos caminhos naturais da vida e da profissão que abarcou. Torço por você. Arriba!
bjs, Assis


O resto é história....

10 de dezembro de 2007

Rapidinha

Minha família - a de perto e a distante - diz que dá por falta de mim. Dizem que cresci, que engordei, que emagreci, que ganhei quadris, que fiquei metida, que virei jornalista e que quase já não sou mais a mesma. E sempre, nas muitas ou poucas vezes que me vêem, me perguntam quando vou aparecer na globo.Olho pra eles e respondo.

- Não tenho esse desejo infindável de trabalhar na globo. Se um dia rolasse, legal. Provavelmente não acharia ruim, mas...
- Nossa, você não quer ir pra Globo?!! Então você não quer ser jornalista.
- Não. Quero fazer novela

.....((((silêncio)))).....

E termina assim, eles indignados e eu – pra eles- com cara de estranha, confusa e metida.Vai entender...

3 de dezembro de 2007

D'segunda

Não sou corinthiana, mas tenho um certo respeito pelo clube. Não que eu aprecie o time, as cores, a torcida, ou tenha estimas pelo goleiro Felipe. Não é isso, e não é só isso. Meu pai, o mesmo que me ensinou a ler jornal e o primeiro e único a me levar ao estádio; é corinthiano – mas eu sou são paulina-. Então, como benção de pai, a gente vê (lamenta) e respeita.
O desejo brasileiro anticorinthiano aconteceu. O timão que ficou mais pra timinho está na segundona. E a segunda de hoje foi alegre, o sol brilhou mais forte, os sorrisos estavam estampados e todo, exatamente todo lugar que transitei, haviam comentários e gritos eufóricos.
Não consegui ver o jogo na íntegra. Peguei partes das jogadas desesperadas da camisa preta e branca que nem São Jorge foi capaz de salvar. Mas algo que meus olhos e ouvidos captaram rapidamente e por acaso, aconteceu no metrô.
Eram 5h10min da manhã, eu caminhava rápidamente com medo do atraso. Quando cheguei à catraca usei meu bilhete para liberar a catraca e minha passagem, até que um homem e uma mulher – os dois funcionários do metrô - chamam a minha atenção com um diálogo que começa por ele.

- Coringão caiu, hein! Agora acabou
- Não. Agora é subir. O importante é se levantar.

Não pude continuar presente na conversa, minha catraca girou. Mas as palavras trocadas alí saíram por leves sorrisos. Sorriso de quem tira um barato da derrota; e um sorriso de quem tem a esperança e acredita no Corinthians, como quem acredita na vida. A eficácia de um ou de outro não é comprovada. Até a sua derrota, que move corações, derramam lágrimas, esbanja alegria e planta esperança. De subir e alavancar o time de/da segunda e das quartas globais.

2 de dezembro de 2007

Sentinela

Minha mãe quis mudar o meu quarto. Eu disse não. Ela teimou. Eu bati o pé. Não podia e não permiti a mudança de um Q oriental que meu quarto reserva. Uma gueixa na penteadeira, uma parede vermelha, um violão velho e desafinado, um pufe e o futon – a tradicional cama japonesa. Adoro meus detalhes e principalmente, minha cama.A dona genetriz quis trocar minha cama por uma bicama; para ficar mais fácil quando os meus hóspedes semanais pousarem por aqui. O argumento é bom, mas não o suficiente pra mudar a ordem das minhas coisas e a altura do meu sono.Como sempre, as mudanças doem em mim e quando posso evitá-las, eu evito. Como agora.Nada de cama, quarto e vida tradicional. Vou ao longe e sonho todos os dias na cama que não sai do chão. Não sai!