D'propósito

15 de julho de 2009

Lugar na mesa

Acho que nunca reclamei antes, mas como a maioria das pessoas eu odeio praça de alimentação lotada. Não, na verdade eu odeio praça de alimentação. Prefiro um lugar fechado, um restaurante e, também, de preferência, que não esteja lotado. Desde que comecei a me achar gente grande notei meu espírito de velha, e com o tempo, com os amigos, os casos, desamores e companhias mais velhas, essa minha preterição a muvuca, praça de alimentação, restaurantes abarrotados e ambientes do gênero só acentuou.


Lugar onde dividir cada metro quadrado de chão e mesa é precioso, é no boteco.Claro, só o boteco permite o desconforto, a risada da mesa ao lado que atravessa e mistura-se com a sua, a demora pela porção e a rapidez e qualidade da cerveja gelada. Boteco não tem frescura, qualquer tema é assunto pra manga, todo papo é bem vindo e, na maioria das vezes, sacanagem é a pauta principal. Boteco é hobby pra se dividir com os amigos e filosofar sobre o que não vemos sem algumas doses de álcool.


O bar é o ambiente onde as metáforas se encontram e metaforizar, nesse caso, é o resultado do preenchimento de um caderno em branco, ou a visão de um olho dilatado. Entre um boteco e outro foi que reparei porque não gostava da muvuca da praça de alimentação e a fila de espera de um restaurante. As mesas ocupadas, como a vida e as relações, são espaços já preenchidos.

Eu não sei dizer quais mesas são melhores, ou acentos mais confortáveis, mas disputar lugar ou uma brecha na mesa, pra qualquer que seja a refeição, eu nunca gostei. O jogo da disputa, ou a paciência de esperar nunca coube a minha fome desenfreada de comer antes que a comida esfrie, ou o apetite passe. Assim como num restaurante cheio, quando a mesa está ocupada eu vou ao restaurante da frente ou no boteco ao lado, até encontrar o ambiente, a mesa e o acento vazio, sem precisar dividir.

Talvez seja egoísta ou egocêntrica demais, mas gosto de espaços desocupados, que são preenchidos só por mim, sem precisar tirar ou competir com ninguém. Eu só sento em uma mesa ocupada quando me convidam e ainda assim, peço licença.

Procuro mesa vazia pra não pleitear atenção, pra ter certeza do que pode ser meu. Já dividi mesa, talher, bebida e alegria com estranhos por muito tempo e por falta de espaço. Agora, eu quero uma mesa só pra mim, e de preferência, com muitos acentos, para todos que forem chegando.

3 comentários:

Carol disse...

Agoro a sua forma de pensar e de escrever também, claro! Porque vc demora tanto tempo pra escrever?
Escreve todo dia?
beijo

C. Dayan disse...

Obrigada, Carol !
Fico realmente feliz que gosta das minhas palavras d'propositadas.
Bem, quanto a sua pergunta. Demoro pra escrever por três motivos: falta de tempo, cansaço e preguiça.
Eu já fui aplicada e antigamente escrevia todos os dias, agora, o trabalho me toma mais da metade do dia. Mas eu prometo que vou tentar me dedicar mais, ser mais aplicada, e um dia, quem sabe, voltar a ser fiel ao slogan do blog com as "crônicas diárias de tudo o que vm depois".
;)

Beijo e sorrisos largos d'propositados

Rics disse...

"a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte"