D'propósito

17 de agosto de 2009

Auto-estrada


Estela sabia que os passos estavam errados e o caminho era incerto. Mas na estrada pouco pavimentada que já caminhara ela conhecia as pedras e os buracos. Já havia estourado os pneus e se machucado tentando trocá-los. Desistiu da maior invenção do homem. Deixou as rodas largadas no meio da estrada e o carro parado com os vidros abertos e as portas destravadas.

Continuou, caminhou, pediu carona, se perdeu e acabou no mesmo lugar. Ao invés de seguir em frente Estela andou em círculo, feito a roda que largara no meio do caminho. Mas agora os pneus não estavam mais jogados na estrada, estavam devidamente colocados no automóvel que a esperava para guiá-lo. Tudo estava lá, do mesmo jeito; o toca fitas, o mapa, o macaco, o violão e sua cruel desilusão.

A nostalgia foi aparente, sentou-se no banco do motorista, encostou a cabeça no volante e pensou durante horas na música que o rádio reservava entre Noel, Cartola e Geraldo Pereira. Quando o silêncio dominou, ela levantou a cabeça e ligou o motor, que roncava alto feito a cuíca no samba. A gasolina estava pelo fim e os pára-brisas quebrados. Por um minuto pensou em desistir e voltar atrás, pegar o caminho de retorno. Mas Estela não quis ser fraca e voltar sem boas histórias para contar. Decidiu prosseguir, mesmo sabendo que podia se machucar e sofrer de novo as mesmas moléstias do difícil caminho.

Ela sentia o frio do arrependimento chegando a qualquer momento, como o vento que desgrenhava seus cabelos, no entanto, Estela achava que seguir em frente era a melhor escolha. Porque a estrada era a escola que ela precisava aprender a ser. Ser livre e só de viver, ainda que com o risco do pesar de tudo o que viria depois. Porque fora isso, ou além disso, haveria no mínimo histórias a serem contadas. E Era isso que Estela buscava: histórias e nada mais.

8 comentários:

Aninha disse...

Gostei do seu conto! Muito legal... Boa semana!!

Anamyself disse...

Eu faria o mesmo que Estela.

A outra opção seria se desesperar e chorar. Mas, para quê? O que isso adiantaria?

Melhor relaxar, ligar um rádio (e que seleção!) e aproveitar a situação de absoluta paz.

. fina flor . disse...

como diz o poeta Claufe Rodrigues 'a vida não vale nada se você não tem uma boa história para contar'....

beijos, flor

MM.

>>> adooooro o nome Estela

Ócio, viagens e gastronomia disse...

Amei Camila, parabéns.
quando crescer quero escrever como você!!!!!!!!!!!
beijocas e boa semana.

Rics disse...

Ah! eu amo fusquinha.
Amei essa foto!
E vc até que escreve bem.

Alê disse...

Há tempos venho aqui e nunca deixei um comentário. Achei que tava na hora! Seus textos são ótimos! =)

. fina flor . disse...

boa semana e bons preparativos para tu, querida

beijocas

MM.

Melodias de uma garota nada normal !!! disse...

nossa serio mesmo muito bom essa história vc e tem muito talento bjim e boa sorte