D'propósito

30 de abril de 2008

A caminho do desconhecido


Estela vivia para contar histórias. Viveu contos, amores e mentiras. Depois disso, jurou nunca mais se apaixonar, mas não cumpriu. Ela sempre foi uma garota de palavra, mas seu coração era poliglota e ela não. Só falava o português e um pouco do tupi que Policarpo Quaresma tanto defendeu e ela acreditava também.

E sabendo apenas duas línguas não entendia seu coração e não cumpriu sua palavra quanto à paixão. Ela se apaixonou de novo, não loucamente, mas insana o suficiente a ponto de largar todas as suas histórias para viver uma história: se dedicar as fábulas de Mauro.

Ela pensou em estar louca, mas lembrou que sua vida não passara de momentos insanos e felizes, até fugazes. Decidiu. Pagou as dividas, devolveu os livros emprestados, largou o curso de artes, o emprego, a família, os amigos e foi para o Rio de Janeiro viver com Mauro. Na mala só as roupas, uns poucos trocados e o papagaio Plaft que trazia em mãos dentro da gaiola.

Ela resolveu tudo em dois dias. Não se sabe porquê, mas a vida de Estela sempre foi decidida pelo número dois, por dias pares e dias de sol. Ao menos era assim sua vida com Mauro. E definiu tudo em 48 horas, não precisou de mais. Não queria festa, nem despedida, porque ainda que com amor e a convite de Mauro, ela sabia que um dia voltaria para contar as histórias ou qualquer vestígios delas, pois Estela nunca se recusara a viver. Nunca.

29 de abril de 2008

(re)encontro

Sentir o sol da tarde aquecendo o corpo, desfocando a visão e trazendo a brisa da liberdade, era algo que não sentia há pelo menos uns sete meses ou mais. Mas ontem, depois de ir ao médico para prevenir qualquer mal e ter uma consulta um tanto engraçada, caminhei por toda a Paulista.

O dia estava bonito, iguais aqueles da época em que não trabalhava e só dormia. Eu não sei exatamente o motivo, mas eu estava feliz, uma alegria que vem de dentro e naturalmente o nosso físico responde em sorrisos ou em qualquer outra beleza, como encontrar seu poeta contemporâneo preferido.

É, comigo tem sido assim nos últimos tempos, ou provavelmente desde que nasci; tudo acontece por acaso, como ontem. Estava passando pelo Center 3 e logo à frente com a reforma nas calçadas da Paulista, a transição de pessoas estava e está um caos. Eu não tinha pressa, esperava o fim do dia para um belo encontro, então tinha duas opções: ir pela rua e chegar aonde quer que fosse mais rápido, ou me misturar na multidão e demorar um pouco mais. Optei pela segunda - também não sei o por que - e quando passava pelo Bank Boston cruzei com um cabra danado.
Levantado os óculos escuros para vê-lo melhor e com o sorriso de surpresa disse:


- Marcelino Freire!
- Sim, sou eu. Agora me diga teu nome.

Eu ri nessa hora, sou apaixonada por esse poeta, poetinha. Já tínhamos conversado algumas vezes por e-mail, depois dos Contos Negreiros que eu registrei aqui.


- Sou Camila Dayan, conversamos por e-mail, tá lembrado? sobre os contos...
- Ah, sim, como vai querida?
- Vou muito bem!
- Escrevendo bastante?
- É, tentando pelo menos. Eu iniciei o projeto do livro para aquele concurso que anunciou no blog...
- Ah, que bom!
- Mas não vou conseguir terminar, impossível. Falta muito pouco tempo
- Ah, não pare não. Me mande uns trechos pra gente dividir essa emoção aí. Quero ver...
- Mando sim!
- E que cidade maluca essa não, Camila?
- Olha só onde a gente veio se encontrar, isso é maravilhoso..


E o papo foi indo, indo, indo...

Marcelino é um pernambucano que tem as letras profundas, debochadas e sinceras. Eu o conheci por acaso, mas não foi por acaso que o poeta e escritor já me serviu de inspiração e me fez inspirar naquele fim de tarde de uma segunda-feria com cara de férias.

Aquele encontro e o dia de ontem me deu a certeza que não importa as ruas que eu ande, certas coisas estão no meu caminho, é inevitável e não tem como desviar. E mais do que o acaso ou o destino, eu vou contando e sorrindo para a sorte que brilha feito o sol que reencontrei e o poeta que encontrei.

28 de abril de 2008

Virei!

Há poucos dias o moço Nelson Botter me perguntou o que me fazia sorrir. Como resposta disse que outros risos, o que de fato é, mas não é só isso. O que também me provoca riso é a miscelânea de gente e cultura espalhada por toda a cidade.
Pronta para essa mistura e para diversão da Virada Cultural, saí buliçosa e preparada para os sorrisos, os acasos, a dança, o samba no pé, as músicas na ponta da língua, a alegria, às 24h de cultura – quase alcançadas por mim – e claro para os rencontros. Entre os encontros de amigos e colegas houve também o meu com Gal.

Beirada na ponta do palco, quase dividindo espaço com a imprensa, vi o show que entrou para a lista dos melhores já vistos por esses olhos que a terra há de comer. Feito diva ela entrou com seu novo corte de cabelo em que repetia “virei, mudei!”, o que me animou a cortar as minhas madeixas – mas o Rodolfo disse pra eu não cortar, então tá. Vamos pensando no que fazer. E como de presente a Falsa Baiana aqui, ela abriu o show com a música Eu vim da Bahia. Eu não vim, mas um dia eu volto pra lá.

Como se não bastasse, para abrilhantar a noite conheci pessoas ótimas, entre elas Marina, Marilha e Lara, que no pré-show falávamos de música e de repente elas me pedem pra cantar. Claro que respondi não. Obvio. Mas elas insistiram e venceram. Cantei, cantei, como diria Cauby, e soltei a voz em Folhetim de Chico, recebi elogios e até palmas – é, a aula de canto está dando algum resultado, pensei – e mais: pediram bis, aí fui na Maracangaia de Caymmi.
E nesses acasos ou destino, Gal cantou Folhetim, Baby, I only have eyes for you, Sampa e outras tantas do repertório baiano. Mas o grande momento do show para mim, foi quando ela soltou sua voz, seu grito e balançou a cabeleira na música Divino Maravilhoso, como só ela sendo divina e maravilhosa poderia fazer.

Essa foi só a abertura da minha virada, saí desse primeiro show com a alma lavada e com uma vontade absurda de entrevistar Gal. Foi tão raro, que é como ver João Gilberto de saias, como comparou meu chefe.

A virada só começou aí, e pra mim acabou mesmo as 19h do domingo. Outros shows foram vistos e até pelo eletrônico eu passei. No fim eu quase vi Fabiana Cozza, depois da grande fila e já quando beirávamos o portão do municipal o rapaz disse, “Esgotou!”. Certo, decepção, mas tudo bem, naquela dia já tinha ouvido, bossa, samba, de longe reggae, rock e o estilo indefinido do Teatro Mágico, que também já teve época melhores. Mas o show foi bom, valeu a pena, porque me fez sair brilhando mais forte e reforçando que eu “sinto que sou um tanto bem maior”. Depois disso fui me banhar e ficar cheirosa para o encontro que viria a seguir. E no final do domingo com cara de sábado ou férias eu terminei a virada em grande estilo, ao lado de pessoas que adoro e amo, muito.




O LP da virada



A Divina e Maravilhosa



A prova: cantei, cantei mesmo. ;)

25 de abril de 2008

O propósito

Foi sem querer que descobri o d'Propósito
Que logo na minha segunda visita
Sumiu sem querer ou de propósito
Aí depende muito do ponto de vista

De propósito comecei a ler
Que situação! O cabra perdir perdão
Dizendo que foi sem querer?
Ora, tenha dó, essas horas?
Vá se f...

Nunca havia lido d'Propósito, confesso
Mas agora de propósito lerei
Porque as linhas não acabaram, eu sei
E é sempre bom um recomeço
15h06 - 25.04.008


Palavras do rapaz super gente boa. Pra mim ainda é Dog, Yuri é muito moderno. ;)

24 de abril de 2008

Certas belezas

Uma pesquisa que a Ana Maria Braga revelou ontem em seu programa é que apenas 1% das mulheres brasileiras se acham bonitas. E eu como todo o resto, faço parte do grupo dos 99%. No entanto, um moço que sem ao menos saber que eu tinha visto essa pesquisa, numa gentileza que é só dele e no corpo onde esconde a maturidade e o mistério, disse para mim em tom poético:

- Camila, você é muito bonita, mais do que imagina. Porém, meu silêncio mortal me impede de tear mais elogios.

E nessas horas qualquer porcentagem cai por terra, o ego é acariciado e toda beleza é bela.

23 de abril de 2008

Recomeço


Quando estava no 3º ano do colégio, sendo oradora da turma e vivendo os últimos minutos da fase que estava no seu fim, o único pensamento que consegui sintetizar diante a emoção é que, sempre quando as coisas estão terminando é que lembramos do começo. Mas dessa vez eu não recordei o início, e após oito meses de vida do D'propósito eu não lembrei do começo quando ele esteve perto do fim, porque ainda não tinha terminado e não terminou.

A lesão e a dor no corpo pela surra e a facada atingida nas costas do D'propósito e, naturalmente na minha, é aparente. No entanto, como todo pesar é passageiro e como já concluiu a companheira de todas as horas Alline, “para que servem as pedras no caminho, senão para sentar e tomar um ar fresco”. Pronto, simples assim, como estou agora, sentada, tomando um ar – do ventilador – e sentindo a boa vibração de quem eu gosto tanto e meu coração responde.

Nesse espírito que me conduziu ao recomeço, refazendo e passando por cima dos princípios de um mau-caráter, que por inveja, ciúmes e outros sentimentos prejudiciais a saúde, cometeu o ato grotesco de excluir o que pra mim, tenho de mais importante, em matéria de desenvolvimento pessoal e profissional.

Na tarde de domingo, por volta das 17h:30, o terrorista em tom ameaçador disse:

- Vou excluir o D'p

Pensei na possibilidade daquilo ser uma piada, nem de perto uma ameça, afinal, era um dos meus homens de confiança, praticamente meu braço esquerdo. Mas quando ele, no seu momento de fúria soube que não seria mais o homem do braço direito, não exitou em soltar a a frase final.

- Pronto, pode ir ver seu querido blog. O D'propósito acabou.

Pude escutar ao fundo a risada maligna, mas ainda desacreditada de tamanha maldade fui conferir com meus próprios olhos, que em seguida enxeram e derramaram lágrimas por uma hora ou mais. Desespero e perda. Esses foram os sentimentos e minha reação quando vi que o D'propósito tinha sido excluído por um homem – ou uma criança - que não agüentou o fim de uma relação.
A minha reação foi semelhante ou igual a uma mãe que perde o filho. Eu gritei muito em frente ao computador, liguei para todas as pessoas pedindo ajuda e claro para o terrorista. Xinguei todos os graus da família dele e pedi para que ele dissesse que o D'propósito não tinha acabado e que havia ainda uma solução - isso aos prantos e em soluço – para eu recuperar os meus textos que publicados, não estavam salvos em nenhum outro lugar.

E na frieza que só um assassino tem, sem demonstrar qualquer arrependimento ou tremulação na voz ele respondeu:

- Você acabou com a minha vida, agora eu acabei com a sua. Você não tem mais o D'propósito, ACABOU.

Só o que pude fazer é desligar o telefone e recorrer aos fiéis amigos e parceiros. Depois do desespero e do choro veio a calma dele, que na sua serenidade diminuiu os meus ânimos e ainda conseguimos rir de uma causa ou de outra. E graças ao Júlio eu consegui meus textos de volta.

Depois quando os nervos não estavam a flor da pele, veio a decepção e o desprezo de alguém que eu confiei minha vida, a ponto de dar a senha do meu blog e dividir sonhos. Em seguida a essa ação, ainda veio outras piores que descobri da boca do próprio malfeitor, no entanto, ele pediu em uma carta formal para que eu não revelasse sua identidade aqui no blog. Não sei o que o rapaz teme, o pedido foi aceito, mas não por consideração a ele, e sim pela ética que tenho. Eu não preciso revelar o nome para estragar sua imagem, pois como já falou outra companheira, “quem não sabe perder, jamais vai conseguir ganhar algo um dia”.
As palavras não são minhas e o desejo quanto a isso é indiferente, porque o que sai – saiu – da boca não dá pra engolir de novo.

O D'propósito segue, com a vitalidade que sempre lhe foi dedicada, a reforma continua. E os mortos já estão enterrados.

20 de abril de 2008

Boletim

Após um ato terrorista, o D’propósito está sendo reconstituído. Pedimos desculpa pelo transtorno e avisamos que muito em breve voltamos com a nossa programação.
Outras informações sobre o atentado e o futuro do blog, você acompanha no próximo post com detalhes do acidente.

Camila Dayan para o boletim D’p

Sina

Tem cara de destino, fado ou no mínimo um acaso bem planejado. Quando criança, eu não perdia um capitulo de Confissões de Adolescente, que em sua boa e extensa trilha sonora tinha a música Sina de Djavan. Um som alegre, com um toque de arte francesa pra ‘Caetanear o que há de bom’. Anos depois, com a série adolescente fora da programação da TV Cultura, vi naquele mesmo canal da Fundação Padre Anchieta, uma dupla tocando e cantando essa mesmíssima música.
Foi ali que reparei pela primeira vez naqueles jovens, os vi com outros olhos, em especial para aquele moço, que tocava e que em seguida, ou melhor, poucos meses depois veio a me conhecer e vice-versa. A garota eu já conhecia de outros canais. Se não fosse a música, eu provavelmente levaria mais tempo para reparar naquele rapaz, e se não fosse a sina não saberia quem seria aquela figura que estreitou e abriu caminhos.

E inevitavelmente toda vez que toca a música do Djavan eu lembro do episódio que tem a cara do destino e das confissões de uma adolescente (!) Aproveita e escuta a música aqui. Eu escolhi a versão da banda italiana Nossa Alma Canta. O grupo é sensacional, recomendo ouvir todas as outras músicas gravadas por eles, principalmente, Pra machucar meu coração – que já serviu de inspiração pra outros posts aqui. Apesar de serem italianos, quase não dá pra notar o sotaque da vocalista Rosa Bittolo Bom na nossa música brasileira. Eu os conheci há poucas semanas e pretendo fazer um outro post no futuro, revelando melhor essa banda que também veio feito sina.

17 de abril de 2008

Talvez.


- Camila?
- Eulírico! Quanto tempo rapaz.
- É, estive viajando.
- É mesmo.
- E como foi de viagem?
- Bem, mas voltei com muitas dúvidas.
- E pra onde você foi que voltou com tantas dúvidas?
- Pra terra do Talvez- Talvez?
- É?- Você tem certeza?
- Tenho!
- E qual é a dúvida que lhe trouxe tanta certeza?
- Me perguntaram quem eu sou.
- E você disse...?
- Fiquei em dúvida
- E você respondeu isso?
- Não, não respondi isso.
- E então....
- Fiquei em dúvida.
- Sobre você?
- Não, sobre o que eu não sou.
- Mas o que não é, não é você Eulírico.
- Como não?
- Não sendo, você é o que é.
- E o que eu não sou também. Porque ainda tem o que eu poderia ser.
- Mas o que poderia ser é possibilidade, quase futuro.
- E isso são planos...
- É, são.
- E você não faz planos?
- Faço, vários...
- E quem você é?
- Nos meus planos?
- Também. Mas agora.
- É... sou alguém.
- Com mais alguém?
- Não, sou o alguém. Só um alguém.
- Só...
- Só o quê?
- É isso!
- Isso o quê?
- Eu sou só um alguém procurando outro alguém.
- Será?- Talvez...
- E como vai achar?
- Não sei...

16 de abril de 2008

Auto-estrada


Estela sabia que os passos estavam errados e o caminho era incerto. Mas na estrada pouco pavimentada que já caminhara, ela conhecia as pedras e os buracos. Já havia estourado os pneus e se machucado tentando trocá-los. Desistiu da maior invenção do homem. Deixou as rodas largadas no meio da estrada e o carro parado com os vidros abertos e as portas destravadas.

Continuou, caminhou, pediu carona, se perdeu e acabou no mesmo lugar. Ao invés de seguir em frente ela andou em círculo, feito a roda que largara no meio do caminho. Mas agora os pneus não estavam mais jogados na estrada, estavam devidamente colocados no automóvel que a esperava para guiá-lo. Tudo estava lá, do mesmo jeito; o toca fitas, o mapa, o macaco, o violão e sua cruel desilusão.

A nostalgia foi aparente, sentou-se no banco do motorista, encostou a cabeça no volante e pensou durante horas na música que o rádio reservava entre Noel, Cartola e Geraldo Pereira. Quando o silêncio dominou, ela levantou a cabeça e ligou o motor, que roncava alto feito a cuíca no samba. A gasolina estava pelo fim e os pára-brisas quebrados. Por um minuto pensou em desistir e voltar atrás, pegar o caminho de retorno. Mas Estela não quis ser fraca e voltar sem boas histórias para contar. Decidiu prosseguir, mesmo sabendo que podia se machucar e sofrer de novo as mesmas moléstias do difícil caminho.


Ela sentia o frio do arrependimento chegando a qualquer momento, como o vento que desgrenhava seus cabelos, no entanto, Estela achava a melhor escolha, porque a estrada era a escola que ela precisava aprender a ser. Ser livre e só de viver, ainda que com o risco do pesar de tudo o que viria depois. Porque fora isso ou, além disso, haveria no mínimo histórias a serem contadas. E Era isso que Estela buscava: histórias e nada mais.

15 de abril de 2008

Força estranha

Com a divina e maravilhosa. A força estranha que sai de suas entranhas e dos versos do baiano Caetano. Todo mundo pensa que é de Roberto, mas essa música foi só um presente de Caê para o rei. Por isso essa força...Se puder, ouça de olhos fechados e com o som bem alto - o efeito da força é maior.

10 de abril de 2008

Visão presto barba – parte II

Depois da visão de ontem, - que se você não leu, pode ler logo aqui em baixo - hoje fui almoçar com o Rodrigo e desvendar com o chefe quem era o bonitão. Além da beleza guardada no corpo, Rodrigo me disse assim:

- E você não sabe, Camila....
- O que Rodrigo?
- O cara é bonito, eu confesso! E tem mais: ele não tem onde gastar tanto dinheiro, é bacana, mora de frente pra uma praia em Florianópolis, é velejador e gay.
- Ah....Não acredito!
- E o namorado dele tem 1,90, loiro, olhos claros...
- Hã? É igual a ele?
- É, parece, parece.

E assim foi o resto do nosso almoço, comentando a sexualidade do homem quase perfeito de all star branco, jeans e camiseta azul básica. É, eu bem que desconfiei desde o princípio: era só para admirar. Só.

9 de abril de 2008

Visão presto barba

Minha mesa é ao lado do meu chefe Rodrigo e de frente para porta. Rodrigo e eu somos os primeiros a ver quando alguém entra pela nossa gigante empresa de comunicação. Hoje, até a hora do almoço o dia estava morto, os chefes chegaram no final da manhã começo da tarde, a Talita faltou e o serviço estava moderado. Só jogando notícias no site, ótimo. Aproveitei o marasmo e resolvi sair da rotina, começando por mudar o trajeto do almoço. Fui ao Shopping Higianópolis para comer meu prato predileto. Claro, gnocchi gratinado. Mas não era exatamente sobre isso que queria falar, então vou voltar para a posição da minha mesa e do meu olhar.

Na volta do almoço, quando me preparava para pegar minhas coisas e ir escovar o dentes, céus! Abre-se a porta do Céu, ou quase isso. Na verdade um homem de 1,90 mais ou menos, loiro de olhos claros – não muito claros - sorriso perfeito, pele lisa; vestindo all-star branco – oh meu pai - calça jeans e uma camiseta azul básica que cobria seus ombros largos, entrou na Mandarim. Parei o que fazia e voltei a sentar, afinal, esse tipo de visão não acontece todos os dias, então, temos que nos dedicar a elas.

Logo atrás do homem que irradiava beleza, um baixinho, gordinho e engraçado, era o Rodrigo. O bonitão é amigo do Rodrigo, ou cliente nosso, não sei. Eu também não sei o seu nome, idade ou preferência sexual. Mas a imagem daquele homem que parece ter saído de um comercial presto barba, reverberou o resto da tarde e provavelmente o começo da noite.
Nunca fui apegada a beleza física, mas sempre apreciei os homens básicos, principalmente os básicos de all-star. Durante muito tempo eu gostei dos engravatados - ainda gosto - eles têm o seu charme ao colocar as mãos nos bolsos. Mas aqueles de jeans, camiseta sem estampa e all-star, seja lá qual for a cor, se destacam em meio aos milhões; e se ainda tiver um cabelo que contrasta ao vento, um olhar ingresso e palavras sólidas; aí sim, um homem perto da perfeição. Mas como não ouvi as palavras do presto barba nem testei seu olhar, eu só admiro, porque de vez em quando chegar perto dessas figuras, não faz mal a ninguém. Nem que seja só para olhar. Só para olhar.
E Viva a natureza!

8 de abril de 2008

Rascunho

Provavelmente era algo para se desenvolver depois, e o depois, ficou velho.

A verdade

ETOLOGIA

cachorros se masturbam
em bostas e bocetas
cadelas se masturbam
em bancos e bestas
eles se esfregam
em beiços e bundas vagabundas
mas só assumem filhos
de bocetas comportadas
elas alisam bichos de rua
gargalham com bichas e poetasmas só se enroscam em gravatas.
Ale Edo

7 de abril de 2008

Só na Bahia

Há duas semanas ou mais eu estou ligando para estados de norte a sul do país, colhendo informações para o Consulte do Sinaenco. Finalizando meu texto da regional da Bahia, descubro que preciso de mais informações, esqueci detalhes. Droga, eu odeio telefone. Mas vamos lá, ligar de novo e pedir desculpa pela falta de atenção. Então quem vai me ajudar dessa vez é o tal do Coelho. Com esse nome imaginei ele de cabelo branquinho, mas quando atendeu o telefone, imaginei moreno queimado do sol, mas ainda assim velho. Não velhinho, um pouco velho só.O sotaque era legítimo de um soteropolitano, no jeitinho manso e de uma sonoridade só - talvez esteja entre os meus preferidos no leque dos sotaques brasileiros. Eu perguntava informações sobre o Seminário de Pavimentação Urbana, então ele disse:

- Câmila, e sou eu que tô cuidando disso é?

Não consegui controlar o riso e o desespero – meu chefe vai me matar, isso tem que estar pronto hoje. Céus! – então eu respondi:

- É, sim, Coelho. Claudemiro (Presidente do Sinaenco/BA) me disse que era você
- Mas sobre o que é mesmo, heim?
- Sobre o Seminário de Pavimentação Urbana.
- Ah, é verdade! Sou eu que estou organizando sim a Reunião.
E caiu na gargalhada. Por um instante achei que ele ria de mim, mas acho que ria dele mesmo, assim eu espero.

- Mas peraê, é reunião ou seminário?
- Ah, tanto faz Câmila. Pode falar que é reunião.
- Certo, eu preciso do nome de alguns palestrantes e...
- Câmila, antes de tudo, você tá na frente do computador, tá?
- Tô sim.- Então vá ao site, veja que foto linda tem lá.
- Ah, eu vou sim, mas...
- Não, vá agora Câmila. É a foto do Pelorinho com o pôr do sol, não dá para deixar pra depois não. Vá, vá!
- Certo, estou entrando....pronto.
- Não é lindo?
- É sim, muito bonito.
- Então Câmila, você pode me ligar daqui a pouco é que estou no trânsito.

Depois da simpatia eu só poderia responder:

- Claro, Coelho, nos falamos...

Meu entrevistado me enrolou, mas falou comigo, o calor dele é coisa que só o baiano tem. O fato de querer me mostrar a foto tão depressa devia ser o presente ao dia de hoje. Dia do jornalista, viva a nós, amantes e viventes dessa profissão.Bem, quanto ao texto, talvez meu chefe espere até amanhã...


P.S: Cantando: “Eu vim da Bahia, mas eu volto pra lá, eu vim da Bahia, mas um dia eu volto pra lá”. Eu não lembro o nome da música e estou com preguiça de procurar. Mas acho que é do Caymmi ou do João Gilberto. Acho que é mais do João.Ah, lembrei! Acho que chama-se "Eu vim da Bahia". Escuta, uma delícia de música.

6 de abril de 2008

Pequena evolução

Como num filme colorido, lembrei-me dia desses de como era insegura, egocêntrica e indecisa. Não que essas características tenham ido embora absolutamente. A indecisão ainda permanece aqui, mas desde quando descobri que isso me dá alergias, - segundo a linguagem corporal - estou melhorando. Já consigo escolher o sabor do sorvete ou do suco que vou tomar sem fazer a pergunta, “e agora?”, que era muito comum. Hoje, solto apenas um “Mmm, esse!” e pronto, a indecisão se torna decisão e tudo por causa de um Mmm.

Já com o egocentrismo, a técnica foi outra. Confesso, melhorou praticamente 80%, sei que dizer isso já me faz parecer egocêntrica, mas isso é comparado com o passado e colhido com os resultados dos que me cercam. Para contornar o ego em demasia que existia em mim, não foi fácil, principalmente para os que me remediaram. A primeira figura que encontrei e conseguiu resultados foi uma mulher danada, me minimizou uma porção de vezes até me fazer notar que eu não era grande, era pequena mesmo. E ainda que fosse grande não seria eu que ia deduzir isso, alguém me falaria. Dona Maria Andrade na sua postura de mestre, me deu postura e sem censura.

Depois veio um amigo, um irmão e bailarino, Harry. Quando ele chegou fiquei com ciúmes. Todo mundo achava graça nele, porque ele é fofo, inteligente, carismático, maduro e na época com 15 anos já morava sozinho aqui na cidade de pedra. De repente meus amigos eram os amigos dele, e a Andrade que era nossa professora – de quem também tinha ciúmes - sempre protegia ele e o deixava entregar lições e trabalhos atrasados. Fiquei revoltada com tudo aquilo. Eu levara uma vida inteira para construir meus laços e um respeito moderado com a Maria, para o Harry sem esforço nenhum conquistar tudo aquilo e a mim. Eu criei um amor incondicional por ele, algo que definimos que vem de outras vidas, e reparei que ele não havia conquistado todos nós ‘sem esforço nenhum’, pelo contrário, a diferença é que cada um tem um tempo e uma força que leva com sua simpatia e carisma os laços serem mais rápidos ou não.

E foi ali diante de respeito e carinho, que descobri que meu ego não valia nada e minha insegurança era tola. Pessoas como a Maria, o Harry, o Victor, a Alline, o Felipe e outros que foram e são fundamentais para minha transformação e segurança, eu não devia temer a perda. Porque aquilo que conquistei ninguém tira, foi assim que aprendi e assim tem sido até hoje, com segurança, um ego bem pequenino e uma indecisão ainda em estudo.

4 de abril de 2008

Fúria

Se eu pudesse, hoje colocaria uma pessoa na parede e batia, batia e batia, até deixar marcas feias no rosto e no corpo pra impedir o seu riso irônico carregado de maldades. Mas se isso, de fato acontecesse, nada iria adiantar, eu estragaria a casca da pessoa, a essência de mau-caráter continuaria lá, intacta. Coisa que eu propositadamente não posso nada fazer, só lamentar e às vezes sentir raiva.

3 de abril de 2008

D'p na rede

Com oito meses de vida, sorrindo e engatinhando de mansinho, faz um chorinho, ensaia uma bossa, samba e valsa. Arranca um riso, tira uma crítica, conquista outras letras, ganha novos leitores e uma comunidade no site de relacionamento mais conhecido do mundo, o Orkut.No jeito brando que sambou e fez canção, o D'propósito ganhou presente de um novo leitor em parceira a um antigo amigo e também leitor – Felipe e Gê. Os cabras são danados de legais, fizeram uma comunidade na rede para o D'propósito. Se você gosta desse blog paulistano que é todo carioca; acompanha os posts diários ou só passa aqui uma vez ou outra pra ler tudo de uma vez, vai lá. Entre para o grupo dos D'propositados, é só clicar aqui. Então eu te vejo lá e aqui, como sempre.
Um sorriso largo, axé, saravá, um chêro pelos recados carinhosos e aquelabraço.

1 de abril de 2008

The book is done

Ontem um amigo – que não é exatamente um amigo – falou animado e eufórico que havia terminado o seu livro, é o primeiro filho. Fiquei feliz por ele e reparei nas ironias do destino, no dia em que ele termina o dele, eu começo o meu. Durante a nossa conversa eu perguntei:

- Agora você quer descansar e não pensar mais nisso, ou já está pronto para começar outro?
- Prontíssimo pra outro

É, essa é a alma da coisa. Eu quero chegar assim até o fim, não desistir, nem desanimar. Vou-me embora para a luta e para o Acaso...