Estela sabia que os passos estavam errados e o caminho era incerto. Mas na estrada pouco pavimentada que já caminhara, ela conhecia as pedras e os buracos. Já havia estourado os pneus e se machucado tentando trocá-los. Desistiu da maior invenção do homem. Deixou as rodas largadas no meio da estrada e o carro parado com os vidros abertos e as portas destravadas.
Continuou, caminhou, pediu carona, se perdeu e acabou no mesmo lugar. Ao invés de seguir em frente ela andou em círculo, feito a roda que largara no meio do caminho. Mas agora os pneus não estavam mais jogados na estrada, estavam devidamente colocados no automóvel que a esperava para guiá-lo. Tudo estava lá, do mesmo jeito; o toca fitas, o mapa, o macaco, o violão e sua cruel desilusão.
A nostalgia foi aparente, sentou-se no banco do motorista, encostou a cabeça no volante e pensou durante horas na música que o rádio reservava entre Noel, Cartola e Geraldo Pereira. Quando o silêncio dominou, ela levantou a cabeça e ligou o motor, que roncava alto feito a cuíca no samba. A gasolina estava pelo fim e os pára-brisas quebrados. Por um minuto pensou em desistir e voltar atrás, pegar o caminho de retorno. Mas Estela não quis ser fraca e voltar sem boas histórias para contar. Decidiu prosseguir, mesmo sabendo que podia se machucar e sofrer de novo as mesmas moléstias do difícil caminho.
Ela sentia o frio do arrependimento chegando a qualquer momento, como o vento que desgrenhava seus cabelos, no entanto, Estela achava a melhor escolha, porque a estrada era a escola que ela precisava aprender a ser. Ser livre e só de viver, ainda que com o risco do pesar de tudo o que viria depois. Porque fora isso ou, além disso, haveria no mínimo histórias a serem contadas. E Era isso que Estela buscava: histórias e nada mais.
Um comentário:
Que Estela faça boas viagens.
Postar um comentário