D'propósito

13 de agosto de 2007

Virou novela

Durante toda a infância a garota assistiu novelas, ouviu os comentários das tias e da mãe sobre o universo televiso e masculino e, depois disso tornou-se partidária do feminismo. Não se sabe ao certo qual tia lhe formou feminista ou lhe traumatizou no mundo do banheiro e das novelas. Mas do que não restava dúvidas na cabeça da garota, ainda em sua infância quase partindo para puberdade era: Será que gosto de homens peludos ou sem pêlos? Aos ouvidos isso soa quase ridículo, mas essa pauta sempre foi primordial nas reuniões das mulheres da família Silva e não poderia ecoar indiferença à garota.
Pêlos sempre foram um problema, a virilha que o diga, é sempre a que mais sofre, a que mais sente dor e sem dó nem piedade a cera arranca o pêlo, tortura o couro, limpa o corpo e satisfaz o homem. Ao menos é assim que as tias definiram a extração da penugem. Mas o fato não é depilar-se, esse é o mal de todo o sempre para a mulher e, não há remédio, mas há as que acham a cura.

São elas, as tias, que curam-se e são sempre impressionantes e influenciáveis. Um exemplo é a tia Cristina, a mais liberal e adepta aos pêlos masculinos; afirmava que pêlos dão o Q da virilidade. Mas tinha a tia Regininha, que era contrária e opositora as idéias da tia Cris e achava que os homens deviam ser pelados, nada que roçasse e irritasse sua pele sensível devia estar na superfície do seu corpo. E nesse caso nem os depilados serviam, tinha que ser de natureza. No entanto, tia Cássia era o café com leite, preferia o meio termo, nem muito peludo, nem pelado demais, praticamente se adequava à situação, sem exigências.

Já a mãe, nunca fez comentários reveladores sobre sua preferência no sexo oposto, talvez pela presença da filha e o compromisso carregado no dedo esquerdo. Mas a garota nem sentia curiosidade, até porque, era só olhar para o seu pai e pronto. Estava lá, o padrão de preferência da mãe.

E assim a garota cresceu, em uma variedade de opiniões e diversas vezes com dúvidas, mas a do pêlo conseguiu esclarecer. Após um capítulo de uma novela de nome já esquecido, com o ator Humberto Martins, teve a certeza de que não gostaria de pêlos. Era uma cena de sexo e a atriz deitava, rolava e lambia os pêlos e a partir daí, aderiu o pensamento da tia Regininha, a de homens pelados.

A vida como sempre não é só feita de escolhas e por ironia ou não do destino, a garota que depois se tornou mulher acabou escolhida e envolveu-se com o homem que praticamente parecia um urso polar. Até tentou evitar no começo, mas depois acabou como a tia Cristina, adoradora de pêlos. E no final como tia Cássia, sem exigências, adequa a situação. Só não acabou como sua mãe, casada, porque largou a bola de pêlos, enrolou-se com o pelado, deito-se com o de pouca penugem e vive solteira, experimentando e escrevendo sua novela de imprevisíveis capítulos.

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