Eu não minto, confesso. Sou humilde, não posso dar casa, mas de vez em quando posso emprestar meu quarto.A comida quando tinha VR bom, eu até pagava. Agora, também só posso dividir, mas sempre tem banana lá em casa. E ela sempre gostou das bananas que minha mãe comprou.
Emprego está bom o que tem, ganha bem. Tem até férias e décimo terceiro, eu sou estagiária e nem sei o que é isso.
O que não posso e está longe do meu alcance, é dar o melhor lugar no céu. Mas posso conseguir lugares bons em alguns shows, aqueles convites grátis nas festas do Santa Izildinha - ah, ela sempre gostou das festas da escola – Além do que, pra quê o céu? Sempre achei o inferno bem mais divertido. Ora, vai me dizer que apertar a campainha e sair correndo não é divertido? Tudo bem, nem tanto agora. Mas um dia foi. E cantar durante a aula para provocar o professor, era um inferninho que provocava gargalhadas infindáveis. E apagar a colega na lousa e jogá-la no lixo. Isso não é divertido? Zoar os colegas, os amigos e os desconhecidos era tão legal. O Diabo gostava da gente. Deus tinha a sua contra-indicação, mas sempre acompanhava as maldades e aposto todo o centavo que tenho no bolso que ele ria tanto quanto nós.
Mas acho que zombei tanto do Homem, o tal senhor Deus, que ele está querendo zombar de mim. Primeiro disse que ia levar você para Maringá. No fundo sabia que não ia. Ele sempre faz isso pra assustar. Deus já até colocou na sua cabeça pra ir viver na Amazônia, e como se não bastasse está convencendo ele a ir viver com os Ticunas. Humft!
Esse tal de Deus gosta de me desafiar, briguei com ele e disse: "Daqui você não tira minha garota ogra e que um dia vai ser madrinha dos meus filhos". Rá. Bati o pé, falei mais alto, briguei com ele e de fato não tirou nem um fio dos seus cabelos crespos daqui de Sampa. Mas o danado tem espirito de justiceiro, do tipo que não deixa barato.
Só pra me provocar colocou um menino que é o seu reflexo para você se apaixonar. Percebi então como era narcísica. Se apaixonou por alguém igual a você. De cabelo ruim e nariz grande, só que com mais pelos e de pintinho. Como se não bastasse o cabra – seu amorzinho – é de uma seita que tudo é proibido. Ah, não. De ir a shows até fazer sexo antes do casamento - aham, essa eu quero ver.
Deus me desafia e compra briga. Quando você fazia coisa que pra ele é errado, e quando teve as maiores dúvidas da sua vida, ele crucificava você. Eu não. Dizia pra fazer tudo o que tivesse vontade e dava meu ombro e forças pra lutar junto. Isso porque você também é uma metade minha. E também porque você um dia jurou que nunca íamos nos separar. Não vai dizer que não lembra: foi no show do Teatro Mágico, quando você, em prantos, me abraçava e eu, - como sempre durona - segurei o choro e sorri.
Deus não deixa eu te ver e evita nossa união, acho que essa rixa tomou força no dia que proibi você de vê-lo. Tínhamos 13 ou 14 anos, era do rouba-bandeira e do pé-de-sarrafo. Liguei cerca de 15h para irmos brincar e você me respondeu. “Estou rezando o terço”.
O quê? Fiquei indignada! Desliguei o telefone e fui correndo até sua casa tirar você do quarto, não permiti que suas preces atrasassem nossa brincadeira. E como sempre, na minha insistência, consegui. E todo esse tempo, esquivei você desse Deus que me repele. Mas dessa vez ele parece que venceu.
Tirou você de mim. Lhe deu namorado, amigo novos e prometeu tudo o que eu só posso dar pela metade.Ainda que ele tire você de mim, não vou colocá-lo na cruz. Mas vou sempre lhe achar um cabra safado, porque pela palavra dos outros ele conseguiu ser mais convincente à você do que eu. Ficarei aqui, brava por um tempo e indignada. Mas no fundo agradecendo a Deus por tudo o que ele me deu.- mesmo que não seja mais meu.
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