D'propósito

10 de dezembro de 2010

A verdade


A cada sim que eu te digo eu me traio. Devagar, aos poucos e ainda absoluta de desejo eu me traio. Traio-me sem pressa, como tiro cada peça de roupa pra você admirar o corpo que eu sempre juro não ser seu. Minto e me traio. Minto pra você. Minto para não acreditar que meu corpo, meu desejo, meus sonhos e minha alma sempre estiveram ligados a você. Faço pouco caso pra casar com seu gênio. Juro nunca mais voltar e minto de novo, pra mim, e me traio sempre que volto a dormir com você.

3 de dezembro de 2010

De segunda a segunda


“É mais fácil encher a cara do que escrever”






a frase é do dramaturgo Mario Bortolotto, que me compreende e explica bem minha ausência neste vasto blog. Para os mais presentes que me questionam que vida é esta que eu levo, digo.

É uma vida de fases. Essa é só uma fase que sempre pede mais uma dose com bastante gelo, música e amores. Para a boêmia não perder seu sentido e sua amante.

sento e escrevo, para o D'propósito, a qualquer momento do dia. As noites e madrugadas já estão reservadas.

3 de novembro de 2010

Menina Mulher

Texto de 17 de julho de 2007, quando eu ainda era virgem. E é exatamente para falar sobre virgindade que estarei amanhã,
no Happy Hour, do GNT, às 19h!



A cara de criança não me esconde, talvez sejam os óculos, ou os meus 1.58 de altura, ou ainda minha voz irritante de guria. Jeitinho de menina com idéias de mulher, é assim que algumas pessoas me vêem e classificam, às vezes, eu também me acho assim. Ah, mas eu cansei disso, quero ser mais ou só mulher, chega de meninice. Já até repiquei meus cabelos e vou trabalhar de salto (não todos os dias, mas quando dá coragem, porque eu amo meu all star).

Os estranhos sempre me olham como a delicadinha, que bonitinha não é? Eu não sou delicadinha. Falo palavrão e arroto, só não peido no elevador porque isso é constranger o próximo, praticamente anti-ético.

Mas se tem uma coisa que sempre tive vontade de fazer, é escrever sobre sexo! Talvez tenha me faltado coragem e sabedoria para isso, porque pra falar de um dos atos mais praticados no mundo e de grande prazer na maioria deles, tem que conhecer, saber a fundo. E a fundo, fundo não conheço, não, sei bastante da teoria. Tudo aquilo que acontece com as amigas e a gente leva de ensinamento. Mas se isso valer alguma coisa, posso dizer que estou quase doutora em questões teóricas sobre fatos de amor e prazer. No entanto, na prática acho que ainda estou saindo do colegial. Sou aquela típica semi-virgem, sabe? Que pensa que sabe bastante coisa, mas na verdade não sabe quase nada.

Pra piorar, eu sou aquela que ainda acha quase todos os tamanhos de paus grande e ainda se pergunta como uma espessura de comprimento tão grande pode entrar numa circunferência tão fechada? Nem a matemática explica. Mas aí vem àquelas definições de dedos ou só a cabecinha. E desde quando pinto tem ombro, pra entrar só a cabecinha?

A questão é a seguinte: essa atividade no começo deve doer pra porra e põe porra nisso. Por exemplo, eu já falei pro meu namorado que vou ter que perder a dolorosa virgindade com um gordinho de pinto pequeno ou um japonês. Não dá, tem que começar por baixo, pelo pequenos, acho o dele muito grande e pra abrir a porteira tem que começar pelos gados menores ou pôneis, afinal a fazenda da tia-tia Camila é pequena.

Brincadeiras à parte, ou parte das brincadeiras do sexo, eu me questiono: é normal alguém perguntar se pode gozar? Minha amiga, qual minha ética não permite dizer o nome, viveu a seguinte situação: em meio a brincadeiras, o cara pergunta se pode gozar. E ela me pergunta se isso está certo ou é normal. Oras! Sei lá. Mas eu pensava que essas coisas não desse pra segurar. Meus gozos até hoje só foram de alegria, sem presença de sexo e nunca consegui evitar. Então eu não soube, mas imagino que ele foi educado em dizer isso, é como apertar a campainha antes de abrir a porta. Não é?

Teorias e práticas à parte, quero mesmo é um dia praticar o sexo tântrico, o silencioso, o proibido, o escondido, o escandaloso, o animal e o normal. Isso quando deixar de ser a semi-virgem, com cara de menina, voz de guria, óculos e idéias de mulher.

29 de outubro de 2010

Post it

foto do 8º andar.


Eu não sei se foi acordar com sua ligação, seguir o dia de céu azul e calor, trabalhar da varanda de casa acompanhando a luz alaranjada do fim da tarde, ouvindo a música espanhola que você me apresentou e te esperar sorrindo. Eu não sei se é esse pedaço de você no meu dia que me deixou mais feliz, mas só me faz um favor, não demora pra voltar?

18 de outubro de 2010

Amor pós Orkut, Skype, SMS, Messenger

Salve a tecnologia, diz todo mundo da minha geração e a passada! Internet, GPS, celular, banda larga, skype, messenger, facebook, satélite, chip, sms e vá, tudo muito rápido e prático. Salve! Mas salve e salve mesmo o amor, a paixão e o ronca-ronca da cuíca nessa modernidade toda. Tudo bem, aos enamorados à distância tecnologia é a aliança, e aos tímidos e sem coragem também, que preferem o papo longo de expectativa, olhando pra tela do computador aquele desenho das janelas de bate-papo provando que o amor está respondendo. E não importa o delay, o lenga lenga e os ruídos de comunicação que um bate-papo provoca, as muitas palavras escritas, às vezes e para alguns, são mais diretas que os olhares ainda que rápidos, sedutores e reais.

Mas tudo isso é a preliminar dos tempos modernos, ou não deveria passar disso. Porque não tem coisa mais gostosa que o cheiro, a voz, o olhar, o toque e a sassaricagem toda que ninguém dispensa. E depois que a cobra viu o pau, ou matou a pau, toda essa tecnologia que aproxima ou aproximava um casal deve ser banida. Já inventaram o telefone antes da internet, MSN, Orkut e Facebook pra você falar com seu amorzinho, ouvir a voz e ser ouvido, saber como está, pra onde vão e matar a real saudade sem beber do veneno das redes sociais que diz onde não tem e esconde onde tem.

Eu já fui vítima da minha curiosidade e assassinei um romance pelos ruídos de comunicação e pela desconfiança. Uma tolice. Depois disso com caso, rolo, pretendente e namoradinho nenhum eu troco MSN, Skype ou qualquer rede que nos deixe mais presentes virtualmente do que reais. Além de ser só mais uma maneira de controlar o que por natureza é livre.

E tem mais: depois dos beijos, carinhos e intimidades trocadas SMS é para os covardes. A não ser para economizar e mandar uma mensagem rápida como, “tô chegando”, “já comprei as entradas, te espero no hall” ou até “já acordou?”, atitude mesmo e coragem tem quem liga. A voz e a surpresa são muito melhores do que as palavras abreviadas na tela do celular. E nessa hora até a bina é odiável, ao tirar o mistério de que toda ligação pode ser ele. E estraga a surpresa do ligador de provocar mais um riso e um coração acelerado de paixão. Depois de tanta tecnologia bom mesmo deve ser trocar cartas de amor em tempos modernos.



E pra embalar o texto, a semana e o velho amor, Copo D'água do incrível Marcelo Jeneci!

8 de outubro de 2010

Quatro minutos de fama

Alguns só precisam de 15 minutos para se tornar uma celebridade, eu, nem com 15 ou meia hora teria talento para isso e nem quero. Então, quatro minutos foram suficientes para tentar deixar o D'propósito mais notório, que à principio, foi o motivo principal por qual topei dar entrevista. Responder é muito difícil, eu sempre fui melhor perguntando. Mas confesso que me diverti um bocado fazendo o quadro Perfil Y do programa Login, da TV Cultura. O VT foi ao ar nessa quinta e é possível assistir nesse link abaixo!

http://www.tvcultura.com.br/login/videos/perfily/2010-10-07/30874


Axé, saravá e amem

27 de setembro de 2010

Perto


Estar próximo as pessoas que são próximas a você é também estar contigo,
mesmo sem a sua presença.

20 de setembro de 2010

Indefinível

A primeira vez que te vi estava de vestido verde e botas e arrependida de ter ido trabalhar com aquele salto. Nunca faço isso, salto é para ocasiões especiais mas talvez tenha sido, o destino tratou de me colocar a altura dos seus olhos castanhos. Você usava camisa xadrez, ou listrada, não tenho certeza sobre a estampa que vestia com a calça bege. Eu te cumprimentei primeiro com os olhos, depois com as mãos e não tirei os olhos de você. Fazendo o meu trabalho eu não sabia onde sua timidez se encontrava com sua introspecção. Você falava com cuidado e falava bem, mirava para o nada e voltava para mim. Depois do meu trabalho e do seu aquele dia, eu nunca mais te vi e também nunca esqueci teu rosto, a barba, a poesia, a melodia, teu nome.

Mais de um ano depois a campainha toca e dentre tantas pessoas possíveis naquela reunião amigável eu fui abrir a porta e era você, que se mostrou fiel a imagem que guardei de ti. Você me entregou a conta de telefone que estava na entrada e disse meu nome em tom de dúvida. Fui me reapresentar e não deixou eu terminar. Você se lembrava de mim, sabia meu sobrenome e por algum motivo, talvez pela casa dos amigos, não exibiu a timidez, mas a doçura que tem suas letras e você.

Eu não sabia da sua presença naquela noite e mal sabia que tínhamos amigos em comum e, ali mesmo, na entrada e em todo o jantar depois, você preencheu e me transbordou de uma paz e presença que há pouco eu sofria pela falta. Eu senti vontade de te abraçar e ficar por muito tempo. E por todo o momento que esteve ali senti que todos os meus sentimentos até hoje não foram nada, você iniciou o que eu não sei definir. E de alguma maneira eu não consegui ficar longe de você. Conversar, rir e até mesmo dividir o último pedaço da sobremesa foi compartilhar o indefinível.

10 de setembro de 2010

Além do que se lê

Detesto dar satisfações, explicar porque, como, quando, onde e com quem. Coisa de menina mimada metida a independente, diria a minha avó. Mas não suporto o lead da vida, as justificativas acabam com o gosto da experiência e foi Rainer Maria Rilke que disse que devemos viver primeiro as perguntas e depois, com tempo, quem sabe, conseguiremos viver as respostas. Eu tenho ansiedade da vida, curiosidade em sentir e é isso que as pessoas confundem. Não gosto de explicar porque me atrasei para não precisar mentir. Odiava quando nas provas de literatura e no vestibular as perguntas afirmavam em alternativas “o que o autor quis dizer”. A pergunta deveria ser o que você sentiu. Nunca ninguém saberá de verdade o que um autor quis dizer. Há emoção, há história, há ilusão, há ficção e só nós, autores, sabemos a verdade sobre cada palavra que escrevemos. Nos meus textos, naturalmente, só eu sei o que é real e o que é ficção. Qual a verdade dita e a verdade inventada. Minha palavra, enquanto literatura, é metade do que sou e a outra metade é o que eu gostaria de ser, ou de como eu gostaria que fosse.

Eu sou uma eterna apaixonada, da linha direta de Xangô e de Vinicius de Moraes, meu poetinha e parceiro zodiacal de data de aniversário. E como Vinicius eu careço de paixões e de histórias, minhas e dos outros, para compor, para escrever, para romantizar a vida e as palavras.

A paixão em sua maioria é uma doença, para mim é a libertação! Porque eu sempre preciso de um novo começo, minha literatura não resiste aos meios. O fim ainda é melhor, ao menos, eu recomeço. Passei três anos apaixonada por alguém que refazia o começo todos os dias, me alimentava do que eu mais necessito: inspiração. E não é que eu sofro, não é que eu ame, é que eu escrevo. E não quero perder a capacidade de me surpreender com o cotidiano e de me surpreender. Depois dele o primeiro e, provavelmente, o maior, veio outro, outro e outro. Alguns eu não soube definir se foi paixão, admiração ou vontade, mas eu usei todo e qualquer motivo para compor minhas fábulas. Por um eu tenho carinho, pelos outros eu tenho desejo e nunca defini isso como amor, e sim como inspiração.

E apesar de escrevê-las, à princípio sem medo, publicar um texto é falar para todo o mundo, quem quer que seja, e de alguma maneira ser pega pela pergunta, questionada pelo sentimento e até pela compaixão de quem de alguma forma acompanha a narrativa quase diária. Para isso a resposta é só uma: eu sou real quando vivo, não quando eu escrevo. Não confundam minha literatura comigo, o autor não é obra.


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O concurso para o D'propósito virar livro está nos seus últimos dias. Vote aqui quantas vezes quiser (ou no selo ao lado) e contribua para essa obra!
A família D'propósito agradece. ;)
Saravá.

25 de agosto de 2010

O D’propósito em suas mãos e na sua estante!

2047 era o meu prazo! Esse foi o tempo que determinei para escrever meu primeiro livro, como descrevo na bio aqui ao lado. Enquanto isso já rabisquei de ter os textos impressos com os fanzines publicados e doados nas festas de aniversário do blog. MAS, eis que o livro pode chegar antes e com a ajuda de vocês, leitores d’propositados e queridos.

Esse meu ensaio (quase diário) no blog pode virar livro com o 2º Prêmio Blog Books, que vai eleger dentre cada categoria, o blog que merece virar livro. O D’propósito está concorrendo na categoria Universo Feminino e precisa do seu voto e de mais de um monte de gente para ele sair da tela do computador e virar papel com capa dura e autora feliz!

2047 pode ser agora, então, você que já me escreveu perguntando se tenho livro publicado ou me pedindo para escrever, essa é a hora. Enquanto a obra de 2047 não chega, vamos tranformar o D’propósito em livro? Ajuda aí, vai, e faça eu e minha família mais feliz.

É só clicar nesse selo, você pode votar quantas vezes quiser. O selo também vai ficar aqui ao lado, para sempre que vier d’propositar poder votar sem dificuldade nenhuma.

Axé, saravá, sorrisos largos, vamo que vamo e Amém!






PS. Eu só fiquei sabendo do concurso pelo Rics, do Colcha de Retalhos, que também está concorrendo na categoria Universo Masculino.

20 de agosto de 2010

Despedida



O fim tem hora marcada. É pontual quando o reencontro depois da longa distância não é ofertado com sorrisos. E Ele sem atrasos a esperou para a despedida. Sem delongas, mas ainda desviando o olhar com o livro emprestado por ela nas mãos, Ele disse:


- Tentei achar uma crônica, um poema, qualquer frase para esse momento. Não consegui.


Cheia de calma e segredo deixou seu coração responder no abraço e Ela contestou num tom de silenciar:


- *A despedida não é lugar para a poesia.


Esperou Ele se espantar e continuou.


- Página 261, última linha.


Ela lhe deu o último beijo nos lábios secos, virou as costas e foi viver na literatura.




* "A despedia não é lugar para a poesia", é uma citação do livro A mulher Perdigueira, de Fabrício Carpinejar.

9 de agosto de 2010

Aniversário!



O tempo não é nada além do vento, ele passa e a gente sente, sim. As marcas são visíveis, ficam na pele e nos textos. O D’propósito que o diga, ao completar hoje três anos colecionando histórias e amadurecendo a cada uma com o livre exercício da escrita e de todo fato, ficção ou pensamento reciclável. Esse sempre foi o propósito do blog, que pela primeira vez em seus três anos, não faz festa de aniversário. Por um motivo simples: as crônicas diárias andam quase quinzenais, quando não mensais. Caiu o ritmo de produção, logo, achei que não tinha nada a ser comemorado. Porque festa sem fanzine, com textos velhos ou novos, não faz sentindo.

O ano passado a festa foi de arromba com direito a casa fechada e show de Roberta Campos e Seis Sextos, esse ano o parabéns é intimista e a comemoração são as palavras para não esquecer.
Eu poderia dizer que o tempo passou rápido demais, mas lendo o arquivo do blog notei como ele [o tempo] caminhou e como o D’propósito teve momentos memoráveis. Me diverti com o que não lembrava, morri de vergonha de algumas passagens e li e reli alguns muitas vezes, admirando minha criatividade em determinados momentos. E tão gostoso quanto relembrar os textos é ler os comentários. Deu saudade, como normalmente o passado faz. Dia de aniversário é também dia de sentir saudade e de alguma forma matá-la.

Aos leitores fiéis que acompanham e me pedem para despejar uma letrinha que for, comemorem comigo! Ao apagar as velas vou desejar que mais textos sejam publicados, ou que eu ganhe mais tempo para escrevê-los, assim como o novo layout que estou planejando para as próximas semanas.

Mas, durante o tempo que dediquei visitando os arquivos percebi como gosto de histórias difíceis. Histórias que eu tenha que desatar o nó, reescrever sempre um novo começo, inventar uma nova história, arrumar um motivo e ter dois para pedir desculpa! Como gosto de histórias que sobem a ladeira e descem de braços abertos, sem apertar o freio e segurar o grito. Histórias que me arrepiem com o vento, com a expectativa, com as perguntas e as respostas. Como gosto de história para escrever, para contar, para transformar. Eu adoro os começos inabaláveis, aliás, eu gosto de histórias em todas as fases, até no seu fim. Quando eu posso contá-la com precisão.

No D’propósito é assim, a história é o amadurecimento guardado nas marcas de expressão transformadas em palavras.

Durante três anos ganhei e perdi leitores. O mais fiel acha que o blog sempre teve um caminho: ele. Tem leitora que gosta quando escrevo sobre sexo, tem leitor que não se manifesta, mas não perde um post. Alguns não perdem porque gostam das palavras, outros acompanham só para saber a próxima fábula. Cada um com seu motivo e o blog com todos continua assim, uma grande mentira sobre toda a verdade do cotidiano.

Pelos três anos, axé, saravá, amém e amem!

D’propósito! Palavra do verbo d’propositar; daqueles que d’propositam diariamente ou não, as crônicas diárias de tudo o que vem depois.

16 de julho de 2010

O gatão é meu cachorro

Sobe e desce, sobe e desce, sobe e desce e pimba! Eu entro. Entro na caixa ou no metro quadrado que me põe em terra firme. Claro, o elevador, que quando não é uma caixinha de surpresa é o lugar mais desagradável, não pelo espaço, mas pelos riscos que se corre como cheirar o pum dos outros e o encontro com vizinhos chatos. Mas há os momentos bons, poucos, mas bons. Eu, por exemplo, só tive um desses momentos uma vez na vida, quando entrou um cara bonito, sorridente e simpático. Pensei: obrigada, Deus! Bom trabalho!
Naturalmente, nunca mais vi o bom sujeito. A gravidade não permite um encontro desses duas vezes.
Mas ontem, vindo da garagem encontro a vizinha do andar de cima, super simpática, barulhenta, mas bem humorada. Depois dos cumprimentos básicos de boa educação: boa noite, oi, tudo bem. Ela me pergunta:

Vizinha:
- E aquele gatão?

Eu:
- Bonito, né?

Vizinha:
- Ahh, uma delícia...

Eu:
- É, uma graça!

Vizinha
- É menino?

Eu
- Homem! homem!

Vizinha:
- Quantos anos ele tem?

Eu
- Não sei, ele mora aqui?

Vizinha
- Achei que morasse com você?

Eu:
- Comigo?

Vizinha:
- É, eu vi você passeando com ele

Na hora eu pensei: ela não deve estar pensando na mesma coisa que eu. O último homem com que passeei pelo meu bairro foi há três anos. Então eu saquei.


- Ah, o gatão é o meu cachorro?!


Abre a porta para o meu andar


Vizinha:
- É! Pensou em que? (rindo da minha cara)

Eu:
- Que fosse outro gatão....


Ela riu, eu ri, abri a porta de casa e meu gatão me esperava, abanando o rabo, pra passear. E fui, com o gatão que é um cachorro.

14 de julho de 2010

Um dia meu homem

Desejar quem passa na rua, olhar o rapaz do curso e flertar com os moços sorridentes sempre foi de bom grado. Mistério e bom humor costumam ser prato cheio da minha refeição. Mas querer você que eu nunca vi é estranho. Quase paranóico. Mas eu gosto de você.

Eu não sei teu cheiro, teu tato, como é seu cabelo, tão pouco o desenho da sua boca e mãos. Mas deve ser baixo e acho que não vou gostar da sua voz, mas eu gosto de você. O seu humor é inteligente, até elegante demais pro meu conhecimento medíocre sobre tudo ou qualquer coisa. Você deve ser sério, não gosto de homens muito sérios, mas gosto de você. Deve ter sotaque e personalidade forte. Engraçado que o sotaque que imagino vindo de você não combina com a sua voz. Você deve ser magro e ter as batatas das pernas bonitas, deve ter uma beleza estranha, apesar de talvez ter antebraços feios. Mas eu gosto de você. Deve tocar violão muito mal, cozinhar bem e ter amigos bonitos. Mas nenhum deve ser mais apaixonado e apaixonante do que você. Você tem nome de ex e sobrenome de futuro. Deve ser do signo de virgem e naturalmente muito organizado. Imagino isso por ler como você constitui as frases, sou viciada nas suas palavras. Qualquer coisa que escreva penso que é pra mim. Desejo que fosse pra mim. Escreve como eu gostaria de fazer.

Eu não te conheço, você não me conhece, mas sabemos um do outro. Eu te leio e sei que você me lê, ainda que nas entrelinhas, eu gosto de você.

27 de junho de 2010

Cheiro das manhãs

Não deixe de fazer porque estou olhando! Eu gosto de admirar. Gosto de apreciar os modos masculinos, são sempre mais cuidadosos, demorados e mais alegres. Acho interessante como passa a manteiga no pão com a mão esquerda e em seguida coloca o queijo. Há arte e atenção na construção do lanche matinal. Faz o seu e o meu como Niemayer desenha. Deve ser porque é canhoto e todo canhoto me parece mais atencioso. Gosto da sua concentração, mesmo quando não concentra em mim. Eu termino a maior das histórias e você diz, “oi?” e pede desculpa porque estava vendo os elementos e ingredientes da pasta de amendoim. Eu não repito a história, fico com preguiça, mas corro pro seu colo do outro lado da mesa a seu pedido e por minha vontade.

Gosto das suas explicações sobre a música e suas teorias sobre os cardumes, mas peço um delicado silêncio com um beijo sonolento toda vez que meu despertador nos acorda com Otis Redding e você prossegue com seu talento de professor em dizer o porquê da melodia. Eu só quero ficar um pouco mais na melodia da nossa respiração harmônica. Depois disso, eu venero seu respeito pelo silêncio. O meu, o seu e o da caixa de som.

Há em você um João Gilberto mais sorridente. Não se importa que eu cante enquanto trabalha, pede bis com suave beijo em minha nuca, que se arrepia enquanto lavo a louça, mas eu só paro de lavar para ver você se lavando. Eu gosto do seu desenho no Box, gosto da rapidez com que passa o xampu e conversa comigo ao notar minha presença. Gosto do cheiro infantil que exala na saída do banho e como homem sai com a vergonha, sem vergonha nenhuma. Faz a barba nú. Completamente nú. Não teme o frio, não teme a mim e para mim é a melhor parte: quando faz a barba. Eu disfarço andando de um quarto a outro até parar atrás de você. Eu não resisto. Um homem quando faz a barba mostra em si o que guarda ser.

Apesar de amar sua barba mal feita, me arrepia vendo fazê-lo. Fazer a barba é despir a vergonha da cara.
Não para! Não fala comigo! Concentra! Não erre, não se corte, eu posso sentir a dor. Eu te observo pra cuidar, pra te ter em todos os detalhes e ter a certeza que você não é só um rabisco meu. Não é mais um personagem que inventei. É o personagem que eu desejei e que atua inteiramente para mim.
Como eu tenho certeza ? Eu não tenho certeza. A única certeza é o fim e eu ainda estou vivendo o começo - do dia de hoje.

Mas acredito quando olha no meu olho e me pergunta afirmando se sou sua. Só sua. Então, eu também acredito que você pode ser só meu.

15 de junho de 2010

Vida à la carte


Os leitores das antigas e os amigos mais próximos sabem do meu afeto por gordinhos. Sempre considerei a classe, gostava de me relacionar com eles. A massa em excesso nunca foi um problema para mim, eu até me atraía pela gordurinha. Quando não questão de gosto, de oportunidade mesmo. Já falei sobre eles aqui, aqui e aqui, sem contar todas as citações por aí. Nesses quase três anos de blog eles ocuparam muito espaço no D’propósito. Mas ficou apertado e gordinhos não cabem mais; então mudei o estilo de vida e diria que estou, digamos, mais saudável. Troquei o gosto pela carne gorda por uma bem passada e magra. Mas claro que não foi uma mudança planejada eu conheci o prato e não é que gostei! Agora sou admiradora dos magros, até olho para eles na rua. Antes esses corpos de pouca carne nem tinham chance comigo, o fato é que como diria @tullavelho eu deixei o serviço sefl-service e passei a ser à la carte.

E bem, os gordinhos têm o seu charme, fato. Mas tem também suas limitações, que até agora não encontrei nenhuma com o esbelto que me acompanha.
Então eu percebo que não é só uma questão de genética, é a alimentação mesmo. Antes, quando saía com o moço acima do peso o prato era sempre algo gorduroso e bem engordativo, e eu que não tenho problema com gordura (amém) me esbaldava também. Mas a vida com o magro é diferente, até na madrugada.
Um belo dia, depois do show dele fomos comer e o rapaz pediu um sanduba vegetariano, que dividimos. Olha que vida saudável ! E isso vem desde o café da manhã, com integral e queijo branco.


O fato é que além de uma vida mais magra, agora eu levo uma mais saudável também. Inevitável e ainda bem, porque eu estou justamente na fase a caminho dos 25, qual a mulher se cuida e mantém ou fica a um passo de virar uma baranga.
Mas gordinhos, eu serei sempre uma defensora do carisma e graça de vocês, entretanto, a vida é sempre uma temporada. Pratos, carnes e histórias novas precisam ser escritas. Eu os defendo, mas vira e mexe surge o comentário, principalmente de familiares:

- Pelo menos esse é magro, finalmente.


É, finalmente eu consegui ver a delícia dos esbeltos.

12 de junho de 2010

O negócio é amar

O título não é meu, é de Dolores Duran, que tenho por mim como uma das maiores compositoras da música popular brasileira. Interpretes a gente tem um monte por aí, como ela também foi. Mas a compositora acabou se sobrepondo a cantora, ainda que divina nas duas funções. E escrever, compor, do jeito que ela sempre fez exige sapiência, conhecimento de causa.

O título e o dia são coincidências de uma letra magnífica que cabe para quem, no fundo, só deseja amar, estar apaixonado, envolvido emocionalmente.

Não há nenhuma versão dessa música com a voz de Dolores, porque só foi gravada anos após sua morte. A letra da canção foi encontrada no início da década de 80 pela amiga e cantora Marisa Gata Mansa. Na página além da letra tinha o nome, endereço e telefone do Carlinhos Lyra. O músico e produtor Hermínio Bello de Carvalho quando soube entrou em contato com Carlinhos, que não sabia da existência daquela letra, mas que em 40 minutos após a ligação fez a música, e então nasceu a parceria entre Carlinhos e Dolores, com apadrinhamento de Hermínio e Marisa.
E toda essa explicação só pra dizer que muitas versões foram gravadas com essa música mas, com a licença da pretensão, eu presenciei, sem dúvida alguma, a melhor versão desta canção. Presenciei e registrei, porque acho que seria muito pouco ou egoísmo da minha parte se eu deixasse gravado apenas pela minha retina e mente.

A letra, assim como foi escrita, é interpretada com sentimento, verdade e por quem entende quando o assunto é música. E isso é o que mais difere a música de ontem e a de hoje. Antes a música era feito com a alma, hoje é feita com o corpo.

Mas tudo isso não interessa, porque o negócio mesmo é amar !

Play.

9 de junho de 2010

Sutil conquista

Está na natureza: o macho é o caçador ! Mas numa natureza moderna, com homens se depilando e mulheres consertando chuveiro e matando barata a ordem se mistura, caça e caçador se confundem e a regra...bem, não existe mais regra.


Tenho três amigas que estão no momento “como vou cantar o cara?” Eu não sou a miss conquistadora, mas é fato: apesar da mulher vestir a fantasia de presa, ela não é presa nunca. É predadora. Um homem pensa que é caçador, a mulher faz de conta e deixa ele acreditar que sim. No fundo são as moças que escolhem, mas não chegam no título de caçadoras, são conquistadoras.


Mulheres são sutis, não saem caçando a carne. Saem conquistando corpos e idéias. Algumas fazem isso sem nem perceber, outras precisam pegar no tranco e algumas ainda têm a dificuldade de acreditar que a mulher pode cantar o bonitinho da esquina.


Demonstrar-se interessada, não te faz menos interessante. Tudo é uma questão de postura, de olhar, de conversa e até de sorrisos. A linha entre caçadora e conquistadora está como ser sensual e vulgar. A diferença é grande, mas tem gente que confunde.


Quando se conquista, você é sensual. Diz, mas não revela. Mostra, mas não se mostra. Fala, e deixa a dúvida. Não precisa vulgarizar querendo mostrar peito, bunda e risadas escandalosas para parecer engraçada. É claro que tudo é uma questão de estilo e objetivo.


Não é anormal a mulher sair à frente, dar o primeiro passo é permitir que o outro alguém dê os demais. Todo mundo gosta de conquistar e ser conquistado. Nada com pressa e às claras. Devagar, segurando a ansiedade e chegando na ponta dos pés a presa.


O jogo da conquista é, em muitas vezes, a melhor parte. A curiosidade e a expectativa são o que nos move pra frente e o que tem movimentado as conversas com minhas amigas. Entre elas está Gabrielle, do Engabizando. Uma conquistadora iniciante que diz que eu devia escrever um manual de conquista. Se eu fizer isso não fico com homem nenhum mais, acho. Eles vão fugir de mim, ou ficarem muito meus amigos.

E tudo é só experiência na observação humana. Mas eu como minhas amigas passei pela mesma dúvida de como chegar no rapaz e bem, quanto a mim, tudo o que eu fiz foi dizer antes dele:


- Oi, meu nome é Camila.


E a história começa aí...

26 de maio de 2010

Estréia

“Todo jornalista é o artista frustrado”Justificar


Nunca me esqueci da frase dita por uma professora no colegial ao saber da minha definitiva escolha pelo ofício.
Não sei bem dizer se é frustração, ou quando se confundiu com pretensão. Isso porque, sempre achei a arte e o palco pretensioso demais pra mim.
Eu sabia qual era o meu limite, pelo menos achava que sabia até semana passada, na minha estréia.

Escrever é (ou era) o suficiente para não me fazer uma pessoa frustrada. Mas aí, na falta do que fazer depois de graduada, fui estudar teatro pra ajudar na desenvoltura e dramaturgia para dar continuidade a qualquer imaginação. O fato é que de cara o curso de teatro possibilitou que eu colocasse a mão na massa, sendo co-autora do espetáculo que apresentamos.


Foi um prazer absoluto quando terminei de escrever, gozei de uma felicidade sem tamanho. Mas atuar já não me instigava tanto depois do árduo trabalho de dois dias seguidos pensando e sem parar de escrever. Mas era a norma, eu tinha que representar e apesar das adversidades encaradas na aula, fui me arriscar no tablado.

No camarim, enquanto me preparava para não ser eu, me pus a perguntar: o que é que estou fazendo aqui ? Era um tiro no escuro, um encontro às cegas. Maquiar-se de outra pessoa é mexer com o imaginário de quem podemos ser, é a escolha de não ser completamente você, eu, nós.


Quando tocou o terceiro sinal do teatro foi que entendi porque a dúvida e a insegurança: eu não poderia ser previsível diante da arte. Eu tinha que me surpreender e surpreender. Na coxia, prestes a entrar foi que senti que já não era eu. Era Cecília, minha personagem de sabedoria sem tamanho e que dominou meu corpo como uma entidade e o palco com a grandeza de uma louca. Eu chorei com a ovação do público e senti o que é estar num palco. Mas ainda prefiro as letras, porque eu odeio ensaiar.


Eu gosto, mesmo, das estréias.

17 de maio de 2010

Única apresentação

Deixei para última hora, eu sei. Mas ainda dá tempo. É amanhã, às 21h a peça Impasses da Consciência, no Teatro Brigadeiro.
Para os leitores que gostam do D'propósito eu aviso que tem texto meu e bem, participação minha também.
Se puder vá conferir minha brincadeira de dramaturga e atriz. Na Bilheteria diga que é meu convidado, a entrada é R$ 15.

Sorrisos largos e nos vemos lá, certo ?



10 de maio de 2010

Esquimó

Fiquei curiosa em descobrir qual é o nome.
E por três minutos quis que o nome fosse meu.
Depois, queria um nome pra desejar assim.
Agora, quero o livro.


3 de maio de 2010

A culpa



Dizer o que pensa tem sempre um preço. Dizer o que pensa quando se tem raiva é pagar a prazo uma culpa. Qualquer que seja ela. A Culpa é o arrependimento pesando no ombro, nas costas, na consciência. E qual o jeito de se livrar da presença constante desse sentimento que parece uma entidade que perturba ? É pedir desculpas ? É culpar o outro ? É reparar ? É não dizer nada ?
A culpa não berra feito os gritos de fúria, ela silencia pra castigar e esmagar você até gritar.


- DESCULPA, A CULPA FOI MINHA !


Ainda que não seja ou não haja culpados declarados o destino trata de bordar, ponto a ponto, os impulsos em ira da boca que fala demais.

19 de abril de 2010

Acampamento

foto: Carolina Helena*



Acampar a vida sobre sonhos
é ter mobilidade todos os dias
de uma nova visão
É ter o mundo a sua porta
E o sol na sua janela


*Carolina Helena: minha Cecília, da peça Impasses da

Consciência que estará em cartaz

no Teatro Brigadeiro, dia 18/05.

14 de abril de 2010

Insista, de novo.


Um corpo é movido muito melhor a paixão. Fato. Meus estudos de vivência própria provam isso. (Não que isso valha muita coisa, MAS) E para quem tem medo de iniciar uma nova aventura ou se entregar ao risco, nem saia de casa. Medo de se machucar são para fracos, senão, amadores. A paixão serve pra isso mesmo: iludir, deixar a pele mais bonita, você mais animado e depois sofrer por mais um que não será o último, provavelmente, se você tiver sorte. Mas eu ando um pouco enjoada com essa história de paixão, porque o momento é outro, em que meu pensamento está só para o trabalho, dinheiro, teatro e letras. Mas apesar de não estar com o gostinho de paixão na boca, nunca custa nada ajudar a amiga insegura que está com medo de arriscar.

A minha quase bíblia é o livro Canalha, do Fabrício Carpinejar, que já citei aqui várias vezes e vai mais uma que, aliás, também já esteve neste post.

Se joga, povo.

"Declare-se apaixonado antecipadamente. Depois encontre um jeito de pagar. Ame por emprétimo. Ame devendo. Ame falindo. Mas não crie arrependimentos por aquilo que não foi feito. Sejamos mais reais em nossas dores. Tudo o que não aconteceu é perfeito. Dê chance para a imperfeição. Insista
"

8 de abril de 2010

Um acaso no café da manhã

Acredito no destino, mas gosto mais quando parece acaso, acho que a situação em si tem mais potencial. Parece contraditório, eu sei. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e eu posso acreditar nas duas.
Não por menos que tatuei acaso no corpo. Acredito na força do acaso tanto quanto ter um homem/marido mais-ou-menos-bonito, músico, escritor e jornalista. (Se a coisa do universo de conspirar faz sentido, basta eu acreditar e procurar bem). E aí uma hora as coisas acontecem ou se reencontram, no meu caso, o reencontro é na padaria que eu não frequento, mas estava lá por acaso, juro.



- Por favor, um suco de laranja e um pão na chapa.

O clássico e o de sempre. Em qualquer padoca e de manhã é o que peço, mas não notei que no mesmo balcão e algumas pessoas depois de mim, estava ele: o meu homem mais-ou-menos-bonito, músico, escritor e jornalista.



- Você não muda seu pedido nunca, Dayan ?

Depois da fala, ele deu um breve sorriso e apesar de ser o meu homem quase ideal ele é um #filhodaputa. E só pra esclarecer: não o via a meses, terminamos com briga declarada e achava que ele tinha raiva de mim. Bem, e quanto a mim, sou uma mulherzinha que está deixando de ser boba.


- Já ouviu falar que não se mexe em time que está ganhando ?!

- E o que tem a ver o pão e suco com isso ?

Ele gargalhou, eu queria rir também, não pela tirada da conversa, mas só pra rir com ele. Dizem que no café da manhã isso é bom. E pra não minhocar na resposta mudei de assunto.


- Emagreceu...?

- Uma pergunta ou um elogio ?

- Uma pergunta e um elogio.

- E ?

Senti que ele já estava puto aí, mas continuei com a petulância.


- Se você emagreceu é um elogio, senão, fica com o elogio também, essa blusa preta tá te deixando mais magro.

Alfinetar um gordinho complexado é mancada, eu sei. Mas eu arranquei o riso dos estranhos ao nosso lado.


- Eu emagreci.

- Foi o que imaginei.

- Você repara, né ?

- E você não ?

- Acho que menos que você.

- O problema não é quem repara mais ou menos, é reparar. Se é que você me entende.
Moço, por favor, você pode colocar o pão e o suco pra viagem, obrigada.


- Bom dia e bom café da manhã pra você.

- Obrigado, Dayan



Se foi destino, por enquanto, eu prefiro pensar que é acaso. Já que nada foi reparado.


7 de abril de 2010

Causos do tempo

Estela apreciava o gosto que tinha o passado. Contar o que não fazia mais parte de seu tempo era hobby da menina que andava com os pensamentos para trás. Guardava todas as datas, as cartas e as falas que não eram suas. O passado sempre lhe pareceu mais genuíno do que qualquer presente que chegasse como futuro. Mas Estela não percebia isso, não notava a distância no tempo.

E com tanto passado, chamavam-na de saudosista quando não de medrosa, por não encarar o que lhe vinha à frente. Saudosista ou medrosa, Estela era mesmo ansiosa e impaciente para esperar o tempo.


- O futuro é pra quem o projeta.


Foi o que lhe disse um velho violeiro contador de causos, falador como ela. Aí então Estela compreendeu o tempo que vivera, que contava e que fazia. Quando percebeu que estava, de fato, apegada com o passado parou de datar o tempo, porque o velho lhe disse.


- Não importa que tempo foi, mas se foi.

30 de março de 2010

Eulírico desenhando uma dúvida



- Eulírico, voltei !
- Puxa vida Camila, achei que tinha esquecido de mim. Já ouviu falar em consideração ?
- Já ! Mas considerando que eu não me esqueci de você não é falta de consideração. É falta de tempo, imaginação, sei lá...
- É bom ser lembrado.
- O engraçado é que, aqui, perto de você, é que eu noto quanta saudade eu estava
- Você precisa estar perto pra perceber que tem saudade ?
- Não necessariamente, longe eu também sinto. Mas é que quando a gente vê a saudade é que a gente sente mais ela.
- Mas eu não sou a saudade.
- Eu sei que não, mas eu estava com saudade de você Eulírico e, logo, a saudade estava com você, entendeu ?
- Não sei...
- Então esqueça a saudade...
- Ah, preciso dizer! Aliás, perguntar.
- Ih, eu sou melhor perguntando do que você, Eulírico.
- Quer perguntar então ?
- Não, não tenho nenhuma dúvida. É você quem quer...
- Então deixa eu fazer minha questão
- Certo, manda o X da questão
- Talvez não o X, mas a dúvida Camila é saber se você desenhou sua vida como ela hoje ?
- Bem...
- Difícil, né ?
- Não. O desenho é mais difícil que a pergunta.
- E o que você desenhou ?
- Na verdade eu rabisquei, o destino deu a forma e o acaso tratou de pintar
- E isso é bom ?
- Não sei, o desenho não acabou.
- E quando é que acaba ?
- Quando eu parar de desenhar com a riqueza dos traços e borrar, sem querer, com a mesma mão que desenho.
- Me mostra depois ?
- Pra você faço até exposição.

16 de março de 2010

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A coragem sempre foi para os excêntricos. No meu tempo de escola achava que coragem quem tinha, eram os fortes. Mas não. Músculos não definem idéias. Os fortes e de boa aparência não são nada além de comuns. Desejam ter um emprego de cargo público, uma família com pelo menos dois filhos e o carro do ano na garagem, e claro, a viagem de férias anual. Isso é a vida dos fortes, que suportam a monotonia da família tradicional e do emprego fixo. Os fortes não são corajosos, são inseguros demais para arriscar e ter coragem.
Coragem é para os homens que não têm medo do acaso, ou do que o destino lhe reserva.

*Trecho da peça que escrevi e a primeira fala da protagonista Cecília. Isso e além em cartaz em maio, no Teatro Brigadeiro.

11 de março de 2010

Super-Beta Campos

Entre todo o meu gosto e curiosidade pela música, principalmente brasileira, foi sempre ouvir e buscar novos compositores. Especificamente, para meu trabalho de pesquisa, novas compositoras. Foi então que em 2008 por acaso, ou por força do destino, ouvi Roberta Campos. Pouquíssimo tempo depois no conhecemos, fomos parceira em músicas, cantamos juntas, ela fez show no aniversário de dois anos deste humilde blog e, sempre muito gentil, também gravou algumas músicas minhas e pra mim.

Agora, quase dois anos depois desse encontro, respirei feliz pela Roberta que conheci e como ela está crescendo sem parar. Isso eu já sabia que cedo ou tarde ia acontecer, logo pela qualidade do trabalho que a mineira realizou quando era a cantora independente que gravou e produziu todo seu disco em casa, como explico neste post. Hoje, Beta tem contrato com a gravadora Deckdisk e já está fazendo seu nome, e mais: já ouvi jornalistas do meio fazendo bons comentários dessa moça de um talento só.
E toda essa recordação e vontade de escrever se deu no vídeo abaixo que é do making of de seu disco.
Entre todas as suas músicas a que tenho um carinho especial é Acabou, porque me lembro como se fosse hoje, quando estávamos em sua casa e Roberta, com violão e voz, claro, me mostrou a música e eu me emocionei.
Escuta e vê a moça aí.

6 de março de 2010

O som em comum

A gargalhada tem ritmo, harmonia, melodia e compasso, quando alguém a solta primeiro e em seguida vem outro amigo e outro e outro, seja fazendo base ou enriquecendo o som com os dentes a mostra, a sonoridade que faz ser tão contagiante quanto o samba e o jazz muda os olhares ranzinzas e as bocas amarradas pelo silêncio que estão em volta. Com o tempo cada grupo de pessoa cria quase que um único estilo de rir, de fazer o barulho da felicidade. Amigos se encontram pelo sorriso. E um sorriso, às vezes, pode ser até mais rápido que o choro. Mas não há pranto que resista um sorriso orquestrado por uma gargalhada ensaiada por amigos.


23 de fevereiro de 2010

As letras que não são minhas

Eu sinto uma ponta de culpa de ficar tanto tempo ausente daqui. E acho justo que se não paro e penso para escrever, dividir as páginas que leio é o mínimo para preencher o espaço vazio e branco.

"Parece que tudo está fechado e protegido por uma redoma de vidro finíssimo e o calor torna os movimentos ainda mais pesados; mas não há calma dentro de mim. É como se um rato estivesse roendo a minha alma, e de uma maneira tão imperceptível que até parece suave. Não estou mal e também não estou bem, a coisa preocupante é que "não estou". Mas sei me reencontrar: basta levantar os olhos e cruzá-los com o olhar refletido no espelho para que uma calma e uma felicidade tranquila tomem conta de mim.[...] A única coisa que realmente me faz ficar bem é aquela imagem que contemplo e amo:todo resto é ficção".

100 escovadas antes de ir para a cama, de Melissa Panarello.

10 de fevereiro de 2010

o escândalo da morte e a dor do amor

foto/fonte: le love

O ônibus é, no fim das contas, mais reflexivo que um metrô. Talvez porque demore mais. E foi a caminho do trabalho que pensei que há sempre alguém sofrendo por amor. Se não é você, é um amigo, ou quem não se gosta mais. E por trás da dor do amor há sempre alguém aconselhando o que fazer. Como esquecer, como reagir, o que falar, como se comportar, feito esses livros ambulantes de auto-ajuda.

Mas entre todas as coisas que as pessoas mais dizem é: não se humilhe! O que não é bem o que aconselha Roberto Freire em Ame e dê Vexame ou em Insista, crônica do livro Canalha!, do Carpinejar.

Eu amei, insisti, dei vexame e as pessoas diziam, “você tem que ter o mínimo de orgulho”. Também acho. Mas acredito mesmo que só se pode ter orgulho depois de um belo escândalo.
Por exemplo, nós fazemos escândalo diante da morte e sem vergonha que nos vejam chorar desconsolados abraçando o corpo que já não responde. Parece ridículo comparar a dor que se tem a perda da morte a de um relacionamento, já que não há consolo para a perda definitiva de alguém. Mas ridículo, talvez, seria também não comparar.


Já vi muita gente tentando descrever a dor da morte e não conseguir. Além de um vazio e as melhores lembranças do falecido não há mais nada que eu me lembre da morte. Até hoje sofri com a perda de dois bisavós, um avô e uma tia. Mas mesmo com a ausência dos quatro, tendo sentindo muito mais com a morte da minha tia, eu ainda não senti nada parecido com a dor da perda de um amor. Porque ao contrário da morte a separação não nos faz enterrar ninguém, a paixão sempre está mais viva para uma das partes e mesmo com a desintegração ele não deixa de existir, só muda o status ou a posição no tempo que de presente e futuro, de repente, se torna passado.

A morte não tem tempo, mas sempre tem companhia. Diante da morte você sempre tem companhia para chorar e recordar o melhor de quem não pode mais respirar. Do amor perdido, não. É você e só você para lembrar dos sorrisos trocados, do café da manhã surpresa, dos fins de semana todo na cama, das brigas por ciúme e do próximo aniversário que vocês não vão comemorar juntos.

A morte é o fim da esperança, o fim de um relacionamento é começo dela. Por pior ou melhor que tenha terminado sempre há esperança por parte do amor, senão pelo que se vai, pelo próximo que pode vir. Porque no fim das contas não dá pra superar o que não foi enterrado. Não se pode enterrar um sentimento ainda vivo, em qualquer coração que seja, ou que vier.