Acaso - parte VII
Ele já havia ensinado Ela a deduzir as respostas, os olhares e as suas ironias. Mas Ela ainda sentia uma certa dificuldade ao decifrar o sorriso dele. Esse era o código que a prendia e mantinha todo o mistério no corpo e alma que a seduzira anos atrás, e que ainda relutava a assumir a paixão. Não pelo que a paixão o é em si, mas pelo que Ele não poderia representar desse ardor, entusiasmo e qualquer sentido desse sentimento que Ela mantinha guardado. E no acaso de tê-lo por uma metade e não tê-lo por inteiro, Ela aceitou mais um encontro com Ele, e decidiu ser o último. Sempre pensava nessa decisão enquanto ia ao seu encontro, mas dessa vez decidiu ser diferente.
Estava ansiosa e como de costume, chegava, sorria e nada dizia, esperava a primeira sílaba dele, para que então, as palavras, os verbos e seus sujeitos se misturassem e conjugassem, ainda que imperfeitamente, o significado daquele caso. E assim foi numa noite de começo de outono, com uma neblina fina e seu vestido balançando contra o vento que esfriava seu corpo pedindo calor.
Ele a aguardava em sua casa, enquanto Ela caminhava ao seu encontro com um pacote enorme de baixo do braço. A campainha tocou e como quem faz mais mistério e de propósito deixar ela ansiosa, Ele abre a porta se escondendo atrás da mesma. Ela percebe a brincadeira, entra e não olha para trás. Ele calorosamente a recebe com um abraço por trás e rapidamente a vira para ver seus olhos e sorriso de menina. Ele olha o pacote, mas nada pergunta, então, ela deixa o pacote sobre o sofá, como sua bolsa e celular.
O pacote tinha o significado que representava aquele dia, dois importantes significados. O primeiro Ele não gostava de comemorar e comentar, o segundo significado ele ainda não sabia, mas descobriria dali algumas horas.
Aquela noite com Ele não foi o que Ela imagina, mas era o que ela precisava para continuar sua decisão. Amaram-se, desejaram-se, consumiram-se. E Ela sentiu vontade de ficar na cama coberta por Ele até à tarde do outro dia chegar. Mas preferiu agir com toda sua razão pertinente; olhou o dormindo e levantou levemente caminhando em direção a sala. Pegou o pacote e um cartão que estava dentro da bolsa e os deixou sobre a cama. Olhou e sentiu aquela cena por longos minutos e com o sol lhe chamando para o horizonte, Ela disse um adeus querendo ficar, mas foi, sem ele ver, para que aquela imagem fosse só dela.
Ela não sabia descrever como foi o último beijo daquela noite, preferia lembrar-se do primeiro, como Ele a ensinou a lembrar. Assim planejou que fosse para a manhã de seu aniversário com o pacote presenteando-o o que dela, não era mais presente. No pacote, havia um retrato da cena de quando Ele partiu pela primeira vez, agora foi à vez dela ir embora.
Ele acordou, abriu o presente, leu o cartão duas ou três vezes, guardou-o e pendurou o retrato. As últimas palavras dela saudava-o pelo dia e pelo laço que havia deixado. Quando Ele pensou que Ela veio pra ficar, ela foi pela primeira vez, mas o que nem Ele, nem Ela sabiam, é que um era o destino do outro.
6 comentários:
A pergunta que não quer calar será que o acaso chegou ao fim?
Esta ficção me remeti a lembranças vividas.
Como sempre muuuuuito boas suas crônicas, deixando sempre presos à leitura para a desvenda que nunca vem no final.
Bjos
Nossa, adorei o texto!!!
Realmente maravilhoso.
Me faço a mesma pergunta que o amigo anterior: "será que o acaso chegou ao fim?"
Vividas, presenciadas, amadas, tristes...
Adorei!!
Ps: me desculpe tbém a demora. Culpa da Telefonica, rsrs
bjuxxx
Adorei o comentário!
Robinho
Ahá, mais um acaso!
E tanta familiaridade nessa história, já ouvi alguns trechos desta irrealidade!
Boua Camilão! Se quiser ajuda na organização é só falar. Eba \o/
saudades sá =****
Tenho vários caos com o acaso kkkkkkkkkk
Adoro este blog e vc! BJOS
REALISTA... GOSTEI MUITO, PENA QUE ESTA SITUAÇÃO QUANDO VIVIDA AO VIVO E A CORES, NÃO TENHA A SUTILEZA E DELICADEZA QUE VC CONSEGUIU EXPOR. BEIJOS.
Voce escreve muito bem (:
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