D'propósito

1 de novembro de 2011

Relação - parte III


Nem tarde, nem noite, enquanto Ele prepara um lanche Ela está sentada na mesa de jantar folheando o Guia da Semana.


- Se eu morresse amanhã o que é que você diria pra mim?


Ele, entre a pia e o fogão, olhou para trás com a expressão de quem desconfia da pergunta e não dá importância e continua cortando o tomate. Ela insiste.


- Hein, o que você me diria caso eu morresse amanhã?


Ele respirou fundo, como quem não quer conversar e responder. Não gostava de ser pressionado.


- Nada, não diria nada, estaria morta, falar com mortos não é meu forte.

- Você entendeu o que eu quis dizer...

- Entendi, mas acho uma besteira isso. Você não vai morrer.

- Como sabe que não?

- Porque você está aqui e eu estou cuidando de você.


Ela sorriu, mas era insatisfeita. Numa meninice quase sem vergonha, se levantou, chegou ao pé da orelha dele e disse.


- Eu não vou morrer, mas, e se eu for embora?

- Não terei mais pra quem cozinhar.

- E você não diria nada?

- Pra você ficar?

- É.

- Hmm, acho que perguntaria porque estaria indo, mas nunca te impediria de ir.


Ela não replicou de imediato, deixou o silencio fazer efeito, refletiu e não hesitou em dizer.


- Se você morresse amanhã eu diria que você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias, a melhor companhia dos últimos meses e a minha saudade pra sempre.


Ele olhou bem nos olhos dela e ficou quieto, e ela continuou,


- Se um dia eu me chamar saudade...


Ele interrompeu a fala para beijar como quem mata a saudade e encontra a paixão. Ele não deixaria Ela se chamar saudade, e também não a deixaria ir enquanto fosse o seu motivo em vida, mesmo sem dizer.

.....

Diálogo inspirado na música "Quando eu me chamar Saudade", de Nelson Cavaquinho, que completaria 100 anos de vida, no último sábado, 29 de outubro.

Leia outras da série Relação, parte I e II

18 de outubro de 2011

O medo de te escrever

Eu queria escrever pra você, fico pensando noite e dia qual o melhor dos meus textos poderia te dedicar. Não sendo prosa, seria poesia, faria um versinho qualquer, ou provavelmente narraria uma ficção se não fosse tão real. Mas tenho medo de escrever pra você, até música eu já ensaiei e arrisquei uma letra, mas eu tenho medo de te escrever.

E se eu não te escrevo, acredite, não é por falta de inspiração. Pelo contrário. É inspirador o seu suspiro sobre o meu cheiro e a macieis da minha pele, como não cansa de falar e eu não canso de ouvir. Na sua fala eu suspiro quando me chama de Lolita e Pequena e me cobra pelo mau costume de não beber água.

Eu me inspiro na sua fala, “Pequena, não te vi bebendo água ainda”. E o que quero que saiba é que já matei minha sede e que me esforço pra matar minha preguiça e acordar cedo pra acompanhar o seu ritmo. Você me cobra com carinho, até quando puxa minha orelha pelos erros do meu inglês ruim. Parafraseio Roberto Carlos e canto os erros do meu inglês, e não português ruim. E você canta Roberto pra mim, caso outro cabeludo apareça na minha rua, ou debaixo dos caracóis dos meus cabelos que você declara estar amando loucamente a namoradinha de um amigo seu.

Agora fico pensando que talvez eu tenha sido a namoradinha do seu amigo só para música do Rei fazer sentindo e ser trilha de mais uma história. Mas ainda assim eu tenho medo de escrever pra você, mesmo tocando Beatles e Roberto pelas manhãs, me ensinando sobre vinhos, me levando pra conhecer cervejas Belgas, me enchendo de mimos e alegria com fins de semana de querer todo dia, ainda assim eu tenho medo de escrever pra você.

Eu sempre escrevi para todos os homens que passaram pela minha vida, e se um dia você questionar isso, saiba, escrevia pra eles e escrevia para registrar o que foi e como eu gostaria que fosse, ficcionei tantas histórias, mas eu tenho medo de escrever pra você porque eu quero que continue sendo. Eu não quero a ficção que eu gosto de criar e nem quero você só na minha literatura. Eu não te escrevo para te ter o mais completo e real possível e, assim, persistirei, ao tentar não te escrever para seguir com os detalhes tão pequenos de nós dois, que eu guardo em mim.



25 de julho de 2011

Tempo de Mulher

Esta falsa baiana que vos escreve agora é repórter e redatora do portal Tempo de Mulher, projeto da jornalista Ana Paula Padrão, que irá ao ar a partir do dia 09 de agosto.
E já tem um perfilzinho meu lá no blog do TDM. Agora vocês podem acompanhar meus dedos imprecisos aqui e lá. Dá uma passadinha no, blog, twitter e em agosto no site, que aliás, por coincidência ou não, estreará no dia do aniversário de quatro anos do D'propósito.


Então, axé, saravá, sorrisos largos e até lá!


8 de julho de 2011

Para ir embora de vez


Chegue batendo portas, pisando firme, dizendo tudo com raiva. Invente a sinceridade, caso não haja ou não tenha coragem. Embrulhe todos os defeitos e entregue com amor e sem dó, “estou indo embora de vez!”.

Provoque a raiva, sua e da pessoa amada. Se exalte, xingue, prove com palavrões que tudo se tornou insuportável. Não diga que o problema é seu e apesar de tudo gosta do amado que acaba de deixar em pedaços. Não diga que está partindo porque infelizmente não dá mais. Não. Diga com toda força que o problema era ela, toda formosa, toda louca, toda ciumenta, toda carente, toda sincera, sempre linda. Ou ele, todo insensível, todo estúpido, todo carinhoso, todo charmoso, sempre sedutor. O amor é contraditório. Diga que o problema não é seu, que infeliz continuará caso leve a história adiante. Gere a fúria. É lindo um casal derramando a história juntos, pra chorarem separados por tudo o que foi e não será, quando realmente não dá mais.

Triste é o fim em silêncio. Um dizer sem escândalo que vai embora e o outro concordar sem pestanejar. Isso não é ir embora de vez, isso é nunca ter ficado. Falta amor no fim de um relacionamento que termina em silêncio.

É tanta coragem quando se inicia, os começos exigem de nós uma valentia de suportar o inesperado e o imprevisto de peito aberto. E a gente sempre topa. Usa a coragem como o tênis preferido, até desgastá-lo e acabar com ele. A gente caminha com a coragem sem os pés no chão e se apoia na esperança de que tudo dê certo.

Um dia, pra começar, você já teve que ir embora. Vá de novo e vá definitivo. Mesmo com a certeza que pra sempre é sempre muito tempo. Mas não gaste toda a coragem no princípio, renove-se dela, alterne os sentimentos com ela. Não a consuma de uma única vez, conserve pra ela aparecer depois e vá embora de vez!

Quando todos os defeitos estiverem à frente, tenha coragem para dizer e raiva para permanecer na decisão. A raiva, ainda que provocada, alimenta a teimosia e a certeza nos argumentos. Irrite o outro, se irrite, mas não viva sem avançar. Não seja covarde, não sinta dó, não permaneça insatisfeito com o sentimento que escolheu.

Quando não enxergar mais o lado bom, enfrente o novo desejo e assuma a escolha, mesmo com dor, mesmo sendo o amor da sua vida. Todo amor é sempre o amor da vida. Ir embora não é esquecer, partir na hora certa é guardar o melhor do romance. Vá, mas faça barulho. Só se vai embora de vez com portas batendo e o eco ficando. Uma forma de provar que a história valeu a pena, que o amor existiu. Mas a vida continua.


12 de junho de 2011

O que é o amor?

Para viver há de se ter talento e olhos bem atentos. A sabedoria, às vezes, pode vir do espírito ágil e inexperiente de uma jovem de 13 anos. Olhos, ouvidos e coração atentos. Para viver há de se ter talento. Foi o que aprendi hoje com Tayná, quando a garota explicava o que significava o amor para ela. Confesso, debochei no início. Sorri pretensiosamente como quem já viveu um pouquinho mais e sabe que o amor não é novela e a vida não é cinema, apesar da gente viver mudando o roteiro. Mas Tayná me surpreendeu ao dizer confiante e com toda a certeza que as pessoas não sabem o que é o amor, ou não sabem o descrever. E eu, quase na casa dos 23, com boas e doces ilusões vividas desafiei Tayná, mas eu não precisei fazer a retórica presunçosa de “então, o que é o amor?”. Enquanto eu lia suas palavras, ela me lia nas intenções e disse atropelando o meu pensamento, “o que é o amor?”

E respondeu como quem conhece a causa e seus efeitos.

“O amor, pra mim, tem nome, tem cheiro, tem voz, tem olhar. É o que cuida de mim e me deixa bem. É o frio na barriga por atender ao telefone e saber que é ele do outro lado da linha. É aquele sorriso bobo por ouvir sua voz e entender o que diz, até mesmo no silêncio. É a bobeira, o beijo na testa e a amizade acima de tudo. É o entender, aceitar e lutar.
Você vai saber realmente o que é o amor quando lhe perguntarem sobre ele e não pensar em uma definição, mas sim em um nome, em uma pessoa.”

Tayná, aos 13 anos, definiu o que é o amor. Sorri, concordei e senti um conforto naquela explicação. E ainda achando a jovem que mal conheço incrível pelo talento, respondi, pra mim, aqui dentro. Sempre chamei isso de paixão, mas que paixão não é o amor da vida toda? Pra viver, de fato, há de se ter talento.


O que é Amar, d
e Johnny Alf, por ele e Sandra de Sá.

8 de junho de 2011

Sala de estar


Eu não iria para o quarto, tem algo na sua casa que me deixa parada em sua sala de estar. Atravessar outro cômodo é ficar íntima de você, e vai ver eu tenha medo da sua intimidade, da sua falta de organização com os livros e com os tênis fora do armário. Passo pelo corredor e não quero olhar para o lado enquanto não chego ao banheiro, porque eu tenho fixação pela sua sala. Volto e fico nela. Fiquei pensando se são seus discos, esses sim, todos organizados e tantos inéditos para mim. Ou seria ainda a guitarra e o violão, no canto esquerdo, sempre afinados e prontos para serem decorativos ao meu ouvido. E o som, o mesmo que tinha minha avó. Não sei qual parte de sua sala me apaixona mais. Talvez fosse sua varanda, que me põe o amor à vista e não me faz acreditar em tardes de outono mais bonitas do que essas. Mas é do seu sofá que aprecio tudo isso. Eu gosto de ficar nele, deitar, desejar, contemplar a paisagem, tomar vinho, cerveja e até fumaria um baseado se eu fumasse. Sua sala é cenário pra qualquer história minha que eu venha escrever. Eu deito no seu sofá e quase o abraço, encosto o nariz e entendo, é o cheiro do seu sofá! É o teu cheiro.

O seu sofá é minha sala de estar em você. É de você que eu não quero sair, é do teu sofá desbotado que eu quero começar.

31 de maio de 2011

Cheiro do passado

Passado, mantenha à distância! Foi o que Estela pensou quando as noites de sono perderam sua paz e as manhãs pediam o gosto do café amargo dele. Ela gostava da idéia do que viveram juntos, desejou e aceitou começar de novo até perceber que a história deles nunca havia terminado, tampouco começado. Foi o que ele justificou sobre o que acontecera quando ela, ainda apaixonada, decidiu ir embora e ele permitiu sem fazer escândalo ou esforço pra não deixar. Ele justificou sobre o passado com a mesma naturalidade que troca de canal sem pedir licença e passa lentamente a margarina no pão.

A história não existiu. O passado tinha sido corriqueiro, só mais uma relação talvez, concluiu Estela, que um dia acreditou e viveu pelos dois, quando ele, provavelmente, simulou a importância do que não foi. Estela que nunca foi de implorar amor e talvez só fosse uma grande contadora de história da própria vida, terminou o café, lavou a louça e disse:

- Eu ia continuar o que nunca houve. Obrigada por me usar e avisar.

E foi embora, sem bater as portas e sem voltar atrás, mesmo com o pedido dele pra ficar, pra esperar.

E foi no caminho pro futuro que Estela descobriu que o pior não é ser usada, mas saber que foi mais insignificante do que imaginou.


24 de maio de 2011

Depois de um, sempre outro



depois de um amor vem sempre um outro amor
você foi o amor que veio depois

do outro.

e ficou pra depois, o amor
agora quer ser o outro
pra recomeçar do meio onde paramos.
Eu queria o amor

de outro.

pra você ter certeza que depois de um amor
vem sempre um outro novo amor.


20 de maio de 2011

Apenas uma página

Acho bonito, poético e romântico quando alguém lê o trecho de uma poesia ou crônica e num suspiro do ouvinte, o leitor quase na mesma respiração, arranca a página sem dar importância à patente do autor. Pode ser Drummond, Quintana, Vinicius, Guimarães, Florbela, Xico, Chico, Carpinejar, Caio, Vargas Llosa, Mia Couto. Não importa o autor. Importa a palavra e a gentileza de oferecer, naquele momento, apenas uma página de todo o livro.

Arrancar apenas uma página é ser altruísta, elegante e apaixonado, é proporcionar o amor em vários pedaços com trechos diferentes. Arrancar apenas uma página é ser apegado a possibilidade do que se pode escrever e não ao que já foi escrito. Dar um livro é entregar a história, oferecer apenas uma página é pedir pra montar uma obra juntos.

19 de maio de 2011

Covardia

Eu odeio a maneira como você chega a mim, mas gosto quando fica. O problema não é nem quando vai embora, você me acostumou a seguir em frente. O difícil é mesmo quando você chega. Te evito pra não correr mais o risco de cair, recair e decair. Pra não correr mais o risco de ser só você e cada vez menos eu, e cada vez menos, e cada vez menos. Um eco sem fim, um vicio sem limite, um sentimento perturbador.

O meu jogo, ou o nosso jogo se tornou a disputa de quem se importa menos e quem deseja mais. Eu não gosto mais do seu corpo, eu não gosto mais do que você é, sou apegada pelo que conheci pelo estranho que você foi um dia. Não chegue, não apareça, não me mata de vontade nem de ciúme. Não me faça brigar nem mentir pra você.

Eu não esqueço o que fomos pra lembrar como tudo em mim foi melhor com você. Exceto pela coragem que me roubou no medo de te perder por definitivo. Eu diria pra sempre, de te perder pra sempre, se ‘pra sempre’ não fosse tempo demais e, ainda assim, insuficiente pra me fazer assumir que eu não consigo te enfrentar e não consigo enfrentar as pessoas por você. Não mais. Eu até te quero, te quis, mas tenho vergonha. Sua, de nós, do que se tornou, do que seria. Ganhamos a intimidade, perdemos o respeito e acabamos com tudo.
Foi a minha covardia e a sua coragem exacerbada.

18 de maio de 2011

Deleite


Tem dias que Estela é o homem de sua vida. Sim, ela mesma. Abre a porta, paga a conta, toma vinho, vai ao teatro, cinema, parque, show, casamento, festa de criança, faz amor. Quase sempre sozinha.

Estela era seu homem, sua companhia. Excelente companhia, inteligente, pele fresca, olhos de gato, corpo sempre desenhado a meia luz. Mas Estela continuava sozinha. Recebia galanteios de uma parte e de outra. Mas era exigente. Foi mulher de poucos homens, não de corpo, de coração. De corpo, quando a ausência não resistia ao tempo, ela revisitava o passado, a lista seleta dos poucos e bons. Mas de coração Estela foi de dois ou três. Dois! Eu, autora, prefiro os pares. Deve ter sido dois. Os outros números não são o suficiente para lhe fazer mulher, ou o homem da sua vida, tão pouco companhias para abrir a porta, tomar vinho, ir ao teatro, cinema, parque, show, casamento, festa de criança, fazer amor.

Poucos compreendiam que Estela era sua melhor companhia e que aquilo, de flanar sozinha não era solidão, nem sassaricagem da mulher que vai a caça. Estela não era a mulher rica-sucedida-independente. Não. Só que Estela se criou no homem da sua vida, na ausência de outro. Aprendeu que sair aos domingos, jantar e pegar cinema sozinha não é solidão, é estado de quem se aceita ser o amor da sua vida.

17 de maio de 2011

A saudade do Eulírico

- Se eu disser que tenho saudade você acredita, Eulírico?
- Camila, Camila, Camila! Eu Não acredito que está aqui eu precisava tanto falar com você!
- Eu senti
- Sentiu?
- É, Eulírico. Quando se está conectado com alguém, de alguma forma, a gente sente as vibrações, as intuições, os desejos, a energia do outro. Você não sente?
- Não sei, mas acho que sempre chamei isso de saudade.
- Talvez, saudade pode ser uma boa desculpa para dizer sobre tudo o que sentiu na ausência de alguém.
- Você demora tanto que a saudade desperta tudo isso.
- Eulírico, apesar das poucas visitas que te faço, você está sempre presente, principalmente no arquivo deste blog, que sempre marca nossos encontros. Mas me conte o que despertou em você nesse tempo todo?
- Vontade do passado.
- Do passado, Eulírico?! Vontade de viver de novo?
- Um pouco, mas vontade de viver de novo com o que sou hoje. Você não tem vontade de reescrever as histórias?
- Reescrever, não. Mas as viveria de novo, se voltasse. Mas como não há maquina do tempo, eu deixo todas as histórias guardadas, pra quando bater a saudade, relembrar.
- Eu, não. Fico desenhando o passado no presente, ou no futuro.
- Isso se chama auto-boicotar. Você cria cenas, ilusão, expectativa sobre o que já foi.
- Algumas coisas voltam a ser.
- Não como eram antes.
- E quem disse que quero como antes?
- Vaso colado não enfeita sala, já ouviu isso?
- Não.
- Eu inventei agora.
- Não achei muito bom.
- Uerevá, Eulírico. Mas entenda que essa sua vontade de reescrever o passado é boicotar o seu presente. Pensa: o meu exemplo do vaso é claro. Você compra um vaso lindo pra decorar sua sala de estar, até que um dia ele cai e quebra. Você fica triste, pagou caro, investiu naquele vaso como uma peça de arte. Não conformado você cola peça por peça, você acha que o vaso vai enfeitar da mesma maneira?
- Não. Mas...
- Mas não será como antes. Entenda: reescrever o passado é como Rei Leão 2.
- Rei Leão 2?
- É que Rei Leão 2 é muito pior que o primeiro. Não tem utilidade nenhuma, porque tudo que o espectador lembra é do Rei Leão 1.
- Você podia ter usado outros filmes, Camila.
- Podia, é que Rei Leão está na lista dos meus preferidos que não deveriam ter lançado outros depois.
- É, mas Tropa de Elite 2 é melhor.
- É uma exceção, mas a discussão é outra, não é cinema.
- Eu queria fazer a exceção.
- Nesses casos você não faz a exceção, você é a exceção, Eulírico. Não inventa história que não tem continuação, não faz trilogia do passado.
- Mas eu só queria ter mais uma oportunidade, Camila.
- Eu também queria ter várias oportunidades novamente com a maturidade de hoje para não ser precipitada, mas histórias não esperam o tempo certo para serem escritas. Se vive e pronto. Sem mais, sem tempo para uma melhor oportunidade. Por isso que os momentos só se escrevem uma vez, reescrevê-los é borrar sobre a história que é boa de ser lembrada.
- Isso é amadurecimento, né?
- E um pouco de bom senso.
- Mas saudade eu posso sentir...
- Pode, só não tente colar o vaso.
- Vou ver Rei Leão 2, eu não lembro.
- Vou ver com você, pra provar que o primeiro é muito melhor.
- Hakuna Matata.
- Hakuna Matata, Eulírico.

7 de maio de 2011

Sempre que a paixão estiver em cartaz

O título podia ser de peça com apresentação às quatro da tarde, ou de um romance barato pouco popular, ou ainda, de uma roda de viola daqueles que o meu avô e o seu, com certeza, ouviram um dia. Mas não é isso, até porque sou péssima para títulos e não é nada disso. É só o princípio do meu vício. Doce, doentio, glamuroso e amargo de ver a paixão sempre ali, brilhando, nos palcos. É, nos palcos mesmo. Não precisa ser de um grande teatro ou casa de show, pode ser improvisado, feito, amarrado, convidado, para uma roda qualquer que apresente o talento, encante meus olhos e faça esse coração que sofre de sopro acelerar feliz.

É isso, é tara por pessoas notáveis, com o talento de seduzir um monte de gente duma vez só. E como cada um tem uma preferência para o sexo oposto, ou de mesmo sexo, que seja. O amor é livre e o matrimonio homossexual está liberado. Amém! E muito bem, os moços e as moças solteiras caçam nas ruas seus tipos, aqueles que fazem o perfil. Loiro, moreno, musculoso, magrelo, gordo. Todo mundo tem uma prioridade, a não ser, claro, quando você é o escolhido ou em situações de crise que o que vier é lucro.

Mas eu, no alto da minha solteirice – (até que o chileno volte para o brasil) descobri no primor da sassaricagem que eu não tenho preferência, não. Ao menos não assim, do estilinho tal, com o corpinho pans. Mas claro, sempre tem que preencher os requisitos básicos de sobrevivência para alguns encontros. Boa formação cultural, escrever bem, percepção do ridículo, prático, decidido, não ser metrossexual, ter paciência com meus atrasos e algum talento artístico, de preferência musical. A lista parece grande, mas não é. São só requisitos, sempre adequáveis e flexíveis dependendo da proposta encantadora da paixão.

Primeiro eu achava que gostava de loiros, até namorar um moreno quase mulato. Depois um gordo. Em seguida um loiro, forte, dos mais lindos que um dia eu consegui na vida. Outro gordo. Um magrelo. Um baixinho e todos altos. Quanto aos homens, fisicamente falando, eu não tenho preferência, não fosse a coincidência de a maioria, ou as mais fortes paixões terem sido por pessoas notáveis.

Tem quem ache que sou interesseira. E de tanto me acusarem parei pra pensar. Mas Não. Não mesmo, afinal, estar no palco ou ser músico não significa que a pessoa tenha dinheiro. E não são as notinhas verdinhas que me encantam neles. Até porque, no fim das contas e depois de um tempo, todo jantar é dividido. Mas na verdade o que encanta é o glamour, é ver e poder possuir aquele que nos seus 90 minutos ou mais, arrebata uma plateia.

Tenho uma amiga que diz, “seu problema é o microfone, você é louca por um microfone”. Sou! E domine o palco então pra ver! Me apresento e estreio uma nova paixão. No fundo, eu tô descobrindo que não precisa ser artista, não. Só ter o espírito de um, pra que eu possa sempre colocar a paixão em cartaz.



E pra continuar no ritmo, um clássico do Robertão na versão bacanuda dos talentosos Marcelo Jeneci e Laura Lavieri.

10 de março de 2011

I did love you

Tem dias que a coragem acorda com a loucura e desperta a certeza de ainda não ter pego tudo que a vida lhe deu de uma temporada. O tempo passa, as lembranças ficam e os livros e outros objetos também ficam, com quem não ficou. Se é justo o passado permanecer no seu lugar é correto os livros voltarem para sua estante de origem. Foi assim que saí de casa, destinada a pegar tudo que é meu, e que ainda está com você. Sem mensagem, sem telefonema, sem qualquer aviso prévio, a não ser o do interfone.

Ela está aqui! Foi o que o porteiro disse encabulado, esperando a autorização da sua voz tremula e quase sem resposta para dar, como posso imaginar.

Aliás, inconveniência foi uma das últimas características que descobri ter e resolvi por em prática. Eu chegava e sua noiva saía. Friso bem o noiva porque esse status nenhum site de relacionamento tinha me informado antes. Foi o que o porteiro me disse, sua noiva. Ela estava na sua casa e eu fiquei esperando lá em baixo por você, e veio ela, e em seguida você. Somos parecidas. Não sei onde o nosso físico ou gênio nos torna tão semelhantes. Dizem que é igualmente divertida e ciumenta, além de libriana.

- O que você quer com ele?

Foi o que ela disse antes de você chegar, me encarando e com a mão na cintura.

- Tomar um café? pegar meus livros? saber sobre as últimas? Olha, vocês são noivos, não precisa ter medo. Eu não tenho um namorado, mas eu posso respeitar o seu.

Enfim você abre a porta do elevador na pressa como se algum tufo de cabelo já estivesse no chão. Somos parecidas. Eu não gosto de barraco e ela também, não. E só por isso já gosto dela.

A noiva foi e eu fiquei. Por sorte o trabalho a chama e os nossos horários abençoam os encontros inesperados, ou desesperados. Ela entrou no carro me encarando do começo ao fim, e do começo ao fim você e eu nos encaramos naquele café da esquina. Eu tentei ser engraçadinha, como de costume. E você foi muito doce, como sempre. Aliás, por que mesmo foi que terminamos? Pensei. É claro que eu sei porque terminamos, só não entendo como aconteceu diante de tanta sintonia e, agora, me arrependo por ter aberto mão de você. Na época diziam que fui uma tola, hoje tenho certeza que fui. Basta ver sua felicidade, vai se casar. É inevitável imaginar se seria eu no lugar dela. Não serei.

Quando não tínhamos mais nada a dizer, fui até o apartamento dele resgatar o que é meu e nunca devia ter emprestado. Ele leu minha crônica preferida, agradeceu e estendeu o braço me devolvendo o livro. Sorri, peguei o livro e vi que na contra-capa estava escrito “I did love you”. É como se já tivesse vivido aquele filme, são cenas do fim. Você me abraçou, colou o rosto no meu e suspirou, “eu não posso” e repetiu diversas vezes. Eu não respondi, eu não me mexi. Mas você continuou. Beijou meu ouvido, meu pescoço, meu colo e quando olhava pra mim, com a respiração forte, pronto para beijar minha boca, o telefone tocou.

Longe, escutei o telefone tocar, senti raiva por quem quer que fosse por interferir aquele momento.
Eu acordei. Era o gosto das manhãs que não tenho mais, sem os livros que nunca mais li, que você não devolveu e eu não fui buscar.



2 de março de 2011

Quatro.


Quatro é a metade de nós dois. Quatro somos nós multiplicados em dois. Quatro é hoje toda nossa história de ontem. Quatro é o tempo que eu sou depois de você. Quatro anos de acaso. Quatro anos de inspiração. Quatro anos de nós dois. Quatro anos sem fim.

Quatro anos do dia em que fui mais feliz.



1 de março de 2011

Verdade destilada

Você é melhor no campo dos desconhecidos, colega ou qualquer pouca relação que não ultrapasse encontros por acaso, do que aqui, comigo e ao meu lado.
Seu copo cheio é você vazia, razoável e em falta com sua personalidade, em falta com o respeito. Cada gole a mais é você em falta e falha. Fala e faz mais que uma dose, acaba mais fria que três pedrinhas de gelo. Você acaba, esgota, não se rende e não se completa. Um copo não completa uma vida, preenche uma noite.

Eu sou da boêmia, eu sou da alegria, brindo em todas as mesas possíveis e em uma delas eu te conheci, mas você é melhor e mais encantadora para desconhecidos, a intimidade é a ressaca da sua embriaguez. Não há parceria que suporte a volubilidade do gênio. E não há copo para se completar do que não é.

15 de fevereiro de 2011

Um dia, talvez, ou nunca mais

Um dia escrevi que seria meu homem. Eu não solto uma só letra sem ter a certeza do desejo e do destino. O desejei sem nunca ter te visto, o quis até com suas imperfeições poéticas. Mas não fosse o destino, você ou eu estragar tudo, compartilharíamos textos, toques, experiências e respostas. Como esta, ao seu equívoco em confundir o inicio com o fim e também em acreditar que um dia seria sua mulher.

Um dia pode ser qualquer dia, ou pode não ser nunca. Temos tudo em comum e não temos nada. Você diz que adora meu nome e imagina chama-lo todas as manhãs, mas fez manha, me confundiu e precipitou os meus fins. Talvez eu tenha me apaixonado pelo contador de histórias que é, e eu não sei quem você é.

Poeta, sassariqueiro, compositor, filho de Xangô, vidente, contador de mais uma história minha? Quem você é? Queria que as dúvidas se organizassem como na sua escrita, mas não se confundissem quando me põe como um homem, a agir racionalmente e deixar meu lado mais genuíno e passional sem desfilar por aí.

A primeira vez em que lhe escrevi para dizer que um dia seria meu homem, eu também disse que apesar de tudo, de todas as imperfeições, eu gostava de você. Ainda gosto, mas com pouca certeza. Você disse que um dia ainda me escreveria muito. Um dia, ainda espero.

Um dia qualquer eu preciso ser arrebatada de novo.

Um dia pode ser qualquer dia, amanhã, ou até mesmo ontem, anteontem, quando desconfio que nosso encontro nunca deveria ter saído da literatura.

25 de janeiro de 2011

Viva

Achavam que estava morta e me enterrando nos antigos amores. Não. Eu larguei todos eles, fui embora, fui deixada. Fui. Esqueci o passado e fui viver uma nova vida. Uma vida que não é minha, nem sua. Mas por acaso nos encontramos e eu sorri pra você. E agora, depois de desamores, experiências falidas, amores idealizados e empolgações confundidas a paixões, eu digo que quero você, quero você em tudo, quero tudo de você, da cabeça, ao coração até os meus pés.

Eu quero você como jamais desejei alguém. Me precipitei desde o primeiro dia porque, por algum motivo, eu reconheço o seu olhar que nunca tinha encontrado e seu bom-humor escondido. Eu quero você. E se eu tiver que me despedir todo mês para lhe esperar de novo no seguinte, esperarei, até que eu esteja aí ou você aqui, definitivo.