D'propósito

17 de janeiro de 2008

Acaso - parte III


Na fila do cinema, a moça que não é séria, mas também não é descolada, encontra o carinha que é totalmente descolado e seu caso antigo. Tempos dos quais ela nunca esqueceu. Com as mãos ocupadas pelo refrigerante grande e gelado, ele abre um sorriso – de lado - que revela o mesmo mistério de antes, nos olhos quase fechados pelo sorriso e com a sobrancelha levantada pela sedução que o conduz. Para ele não havia surpresas reencontra-la, era fato que aconteceria cedo ou tarde.
Claro, que para ela isso não era fato; e o riso controlado pelo seus músculos - propositadamente - disfarçava a alegria do seu corpo ao revê-lo. E no seu fleuma controlado, ela espera a chegada dos curtos passos dele que os aproximam para o abraço do reencontro. E como é de costume eles perguntam como vai um ao outro. Ela responde na serenidade que não é dela, a fase quase sensacional que ela vive. E ele no sorriso e olhar que é só dele, diz sobre os últimos projetos e sobre o filme que começara a dirigir. E numa conversa que se estendeu no caminhar até a poltrona do cinema, ele disse:

- Estava com saudade de você.

Ela olhou fundo nos olhos dele, pensou na possibilidade de ser mentira. Além de dirigir, ele era um ótimo ator. E mesmo na dúvida, ela acreditou na palavra para ter uma verdade e o fato que era dela.

- Eu também estava com saudades suas. Faz tempo.

Em um sorriso mútuo ele a beijou no canto da boca. Ela recebeu o quase beijo do comunista com cara de intelectual. Depois disso, os dois só viram os créditos e ouviram a trilha sonora do caso que merecia o reencontro.

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