D'propósito

11 de janeiro de 2008

instante de arte


Não havia muita coisa; além da arte, os dois - ele e ela - e mais algumas pessoas. A atração que os prendia era uma obra contemporânea do artista Romero Britto. Nas misturas de cores, flores, amores e os possíveis sabores, o casal que não era casal e mal se conheciam – a não ser pelas festas dos amigos em comuns - observavam a arte exposta na passagem pública. Um grupo que os acompanhava, comentava os detalhes de uma obra em especial. Falavam sobre a minúcia do traço e elogiavam o artista. Presa em outro poster, ele a chamou para ver com o resto do grupo. Em três ou quatro passos se aproximou da obra e do pessoal, ao lado dela estava ele. Mas isso só por um instante. Porque ali, reunidos frente à arte, ele deu um passo para trás e ficou atrás dela. Ela pouco reparou o que estava a sua frente, apenas sentiu o contato que estabelecera ali. Não somente ela parou de ver o que o artista Britto havia produzido, como ele também.

Um silêncio se instalou entre os dois, e numa respiração de expectativa e indecisão por parte dela, ele como quem repara mais afundo – o que quer que seja – dá um meio passo a frente e encosta leve, quase intocável seu peito sobre as costas macia e lisa dela. O perfume masculino introduziu sua narina e a fez parar. Parou ele também, que ali ficou curtos minutos que duraram segundos eternos. O grupo que estava ao lado deles não estava mais ali. O olhar do casal - que não era casal - estava filtrado para uma única direção e com respiração sincronizada de desejo.

Uma voz de longe chamou o nome dele, e o que congelava aquele instante se desfez. Ele recuou ao passo que fazia o vão entre eles; e como quem pede passagem o homem, o garoto, o moço que mal a conhecia, pôs suas mãos na cintura da mulher, da garota, da moça e andou para o lado. Ela deu passagem e caminhou só depois de alguns instantes, ainda estava presa pela arte que a confundiu nas cores, flores, possíveis amores e inconfundíveis sabores.

Ele não sabia se iria tocar nela de novo ou se outro instante daquele aconteceria. A mão na cintura foi a licença dele para entrar e perturbar os próximos dias dela – e vice-versa.

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