D'propósito

28 de dezembro de 2007

Acaso - parte II


Nosso caso não restou vestígio. Não deixou uma fotografia de um sorriso ou um beijo. Não deixou uma carta, um bilhete ou um dizer; a única coisa que havia e não há mais, era um CD. Um não, dois. Um não é possível escutá-lo por inteiro, o outro a lembrança, a saudade, e qualquer sentimento retificado levou sem pedir autorização. Desapareceu, assim como você.

27 de dezembro de 2007

O cão e a religião


Fim de ano é sempre a mesma coisa. Ruas lotadas, shoppings intransitáveis, enfeites por todo o lado e claro, bombinhas e fogos de artifício. As bombas caseiras que os garotos soltam na rua é algo que me irrita tanto quanto loja lotada. Além da minha irritação com as bombas, há o meu cachorro que treme e até reza com medo delas.Na véspera do natal os fogos no céu e as bombas estourando no período da tarde já anunciam que o painho Noel já está chegando – é painho, porque fica mais brasileiro, mais baiano, mais cultural.

O natal é, sugere e às vezes é lembrado por toda essa religiosidade que eu não tenho, mesmo vindo de uma família tradicional e cristã. Se eu fugi da missa; descubro meu cachorro apegado na palavra do Senhor.A literatura religiosa chegou para o meu cão orelhudo, loiro e banguelo, Luck. Sua conversão à religiosidade foi pelos meios que me irritam no fim de ano e o assustam.

Na tarde do dia 24 cheguei em casa com os fogos e bombas já ardendo na rua. Se eu, mulher e corajosa me assusto de vez enquanto, meu cachorro que é uma criança e gay se treme de medo do barulho festivo. Mas pior ou desesperadamente do que ter medo é rezar pra alguém chegar e protegê-lo, ou que o barulho tenha fim. Isso é o que imagino que ele pensa, pois quando o vi em cima da bíblia que fica no criado mudo da minha mãe. Achei coisa de outro mundo; ele encolhido e tremendo com os olhos fixados no livro religioso. Provavelmente pedindo a Jesus, a Deus, a Maria, e a qualquer discípulo que o possa ajudar. Sem que ele notasse minha presença o observei e presenciei a fé do cachorro que reza diante de seus medos.

Quando o chamei pelo nome, quase pude ouvi-lo dizer, “em nome do Senhor. Graças a Deus. Amém.”Numa alegria estampada na sua boca banguela e no rabo curto, Luck pulou no meu colo como quem alcança o milagre. Então, eu pude ver que até as preces do meu cachorro são atendidas e que tudo depende de um ponto de vista. Porque o barulho continuou lá fora, mas agora ele está protegido aqui dentro. Seja pela sua reza ou pela minha presença.

22 de dezembro de 2007

Acaso


Após serem unidos pelo acaso e separados pela fatalidade, ela diz.

- Obrigada por me usar.


(((silêncio)))


Um beijo forte e quente acontece. Depois disso, a resposta dele.



- De nada.


E ele foi embora.

21 de dezembro de 2007

tempos de natal....

Até uns quatro ou três anos atrás, eu amava quando chegava à época de natal, principalmente, pela cesta natalina que minha mãe ganhava. Ela era e é funcionaria pública (e acho que sempre será). E as cestas que o governo dão são incríveis. Muitas guloseimas e bebidas excelentes . Sem falar na caixa de chocolate, sensacional!

Hoje eu nem vejo a cestas de natal. Não vejo minha mãe chegando com a grande caixa que estendia meu sorriso até dar fim a toda a comida, aguardando apenas, as lembrançinhas do ano novo.Hoje eu simplesmente chego – tarde da noite - e vejo sobre a mesa tudo o que sempre gostei. Não vejo mais minha mãe, não falo com ela e nem abro o armário pra conferir o resto da comida que fez minha alegria durante anos.

Meu apetite com os quitutes, bombons e afins, é pequeno hoje. Não os vejo chegar e não os saboreio sem o ranger da minha mãe sobre a sujeira e bagunça que fazia, não tem o mesmo sabor.Por enquanto, fico só com as agendas que o ano novo ainda reserva a ela e a mim. A única forma de calcular o tempo e a distância entre nós.

18 de dezembro de 2007

Jazz feminino, paulistano e com estilo

Há meses descobri uma cantora- que tenho por mim, de um talento e estilo excepcional - E como ela mesmo pode provar, comprovar e você aprovar. A moça paulistana de 27 anos, já invade as rádios de São Paulo, Rio de Janeiro e até onde sei, o Sul do país.Ana Cañas tem um estilo e voz peculiar, praticamente, inconfundível. Com influências jazzísticas e roqueiras; Ana levou para seu disco e carrega no palco o jazz bem trabalhado com a boa mistura da brasileiríssima Bossa Nova e do Samba.Para fazer esse álbum, Ana Cañas vasculhou músicas de Zé Keti, Paulino da Viola e Djavan. Frente a nenhuma letra que completasse o que queria, a jovem paulistana foi compor e resultou no trabalho Amor e Caos.

A primeira música que tive sobre conhecimento de Ana, antes mesmo dela lançar seu CD, foi "Devolve Moço", que durante muito tempo tocou repetidas vezes no meu playlist. Esse foi meu primeiro cotato com o novo canto do jazz, que revela não ter nascido cantora. Formada em Artes Cênicas pela ECA, reconhece-se uma péssima atriz. Se de fato o é, não sei, mas garanto para você que é uma excelente cantora, interprete e compositora.

Taí, da pra perceber que o legado das vozes femininas que abastece a música brasileira, promete perdurar. Abaixo está o vídeo pra você conferir o talento e o trabalho de Ana Cañas; ou então fuça no site ou no myspace dela, que tem o cardápio e um tira gosto muito bom do que o CD proporciona. Além do que, Ana Cañas já lidera a lista “na vitrola” aqui do D'propósito.Essa é uma boa dica pro meu amigo secreto e, provavelmente, pro seu também.

Amor e Caos, por ela mesma.

14 de dezembro de 2007

"Ficou um arraso no vestidinho...."

Essa foi a mensagem que recebi no orkut depois de ter feito uma compra absurda de cara, impulsiva e linda. Eu sempre tive o controle sobre mim e sobre meus anseios quase descontrolados. Mas como diria o poeta de Moraes, “quando você rebola as ancas com esse vestidinho...”

Não há o que dizer, amo vestido e eles (homens) também. Longo. Curto. Colorido. Básico. Florido. Decotado. Certinho. Multiuso. É isso, Multiuso. Imagine você que o vestido é tudo isso que descrevi; e o melhor de tudo e sobre tudo, posso usar de dois lados. Sensacional, diria LM se fosse mulher.

Depois de um encontro com o jornalista e também articulista da Mandacaru, Xico Sá (queridíssimo) no lançamento de seu livro, transito pela augusta e redondeza e pá! “Virgem Santa”, deparo com uma peça incrível e que provavelmente vai vestir-me na virada do ano - e já aviso de antemão,não é branco. Nada de tradicional - Esse tipo de compra tranqüila, só eu e mais ninguém na loja, me tira o estresse de natal.Estou mais feliz agora e imensamente preocupada com a divida que fiz. Porque fora o vestido, têm ainda a blusa, o shortinho e as duas calças. Ui! Acho que é a pós menstruação. Ela sempre me deixa assim, compulsiva.Se mulheres sofrem de pré; eu sofro de pós. Pós-menstruação, pós-compra, pós-pago. E pós-acerto de divida, provavelmente eu faça outra, pra perpetrar A vizinha do lado de Caymmi.E agora, à lá Dori e Roberta Sá eu vou desfilar e passar com o vestido grená, cantando em um belo estranho dia pra se ter alegria.

12 de dezembro de 2007

Nas ondas do rádio

Com a voz fina (gralha) de guria nova que possuo, naveguei nas ondas da Cultura FM de São Paulo. Eu não sei como fui parar lá, mas como diria o personagem de Ariano Suassuna, “só sei que foi assim.”Há alguns meses fui convidada para gravar uma novela radiofônica, pode? Acidentes acontecem até no rádio (!). Aceitei o convite e achei aquilo tudo muito divertido. Entre um erro e outro que meus colegas cometiam; eu cantava até o moço que cuidava do som cortar o meu retorno - Sempre quis cantar num estúdio. Realizei-me. Além das capelas que soltei só pra saborear minha voz e fazer os outros rirem; fiz pose de atriz e durante duas horas ou mais gravei uma novela. O nome já não me lembro mais, lembro de minha personagem, Camila. Seria impossível esquecer.

Quando terminei a gravação o produtor disse, “Muito bom! Você é atriz?”. O elogio massageou meu ego, mas instantes depois me trouxe para realidade que vivo, gosto e também me divirto.
Eu não ouvi quando a novela foi ao ar, pra dizer bem a verdade, eu não sei nem mesmo quando foi. Fui pega de surpresa na segunda-feira, quando me contaram que minha voz passou pela rádio Cultura. Vou tentar conseguir uma cópia pra soltar meu ar artístico e vocal por aqui. Por enquanto, só as letras mesmo.

11 de dezembro de 2007

Jornalismo na mesa

Na última quinta-feira, vivi algo que não foi obra do acaso e nem coincidência do destino. A noite quente e chuvosa me serviu como um prato cheio, delicioso e com direito a sobremesa. Satisfeita, aceitei o pecado da gula e me alimentei ainda mais enquanto houve tempo e espaço, na mesa que dividi com grandes nomes do jornalismo e da comunicação.

O dia era para o querido jornalista Assis Ângelo. O convite vindo do próprio semanas atrás para o lançamento de seu livro “ O dicionário Gonzagueano de A a Z”, veio como uma surpresa pra mim.
Quando entrevistei Assis para Mandacaru, não imaginava os bons frutos que me renderiam.
Saído direto da labuta, cheguei cedo no Bar Andrade e peguei uma conversa gostosa com Assis e o homem que lançou o Rei Roberto Carlos aqui na capital paulista. Sim era ele, Antônio Aguilar. Acompanhado de uns bolinhos de mandioca e a velha Brahma, preferida de nós Boêmios. Ainda conversávamos em pé até que os jornalistas ali nos convidam a sentar, dividir e compartilhar a mesma mesa. Tudo me soa como as descrições de Caetano entre os encontros com intelectuais que marcavam a época e que bem define em seu livro “Verdade tropical”.
Fora as descrições de Caetano, estava eu ali, frente ao jornalista e radialista com a voz e estilo único, Geraldo Nunes; o californiano pra lá de brasileiro e também jornalista Bill Hincheberg; Lenir que veio das bandas lá do Boldrin e uma extensa mesa que a minha memória não permite gravar todos os nomes. Mas o que está gravado e não apaga tão cedo, foram nossas conversas sobre a cultura brasileira; a educação; a Bahia, o Ceará, o Brasil e claro, não menos importante e fundamental a mesa de mestres do jornalismo e há dois aspirantes da profissão – Victor e eu – sobre o jornalismo atual e o do passado. A discussão era de que não se fazem mais jornalistas como antes.
A contenda foi longa. E na verdade, minha conclusão foi que, agora se fazem jornalistas e na geração deles, nascia-se jornalista. Não posso ter a pretensão de dizer se me fazem ou nasci com a arte que agora é moda e eu inevitavelmente visto. (Espero ter nascido com ela). Mas antes, diante ou pós tudo isso, me sinto privilegiada em ser recebida por quem é e nasceu jornalista.
Além dos petiscos, cervejas e o papo pra lá de gostoso, houve a hora de partir. E para minha surpresa e alegria mais uma vez, tive por parte dos queridos da mesa uma leve súplica para que não fosse embora; ficasse até o final da festa. Não pude. Mas fui embora com um livro autografado (meu primeiro livro autografado. Minha coleção começa agora.) e com vontade de ficar, no acompanhamento da boa música nordestina que vibrava no repente que não desafinava na mesa e no palco.
Depois do evento mandei um e-mail a quem considero, praticamente, meu padrinho do jornalismo. E com a atenção que me recebeu a sua festa e após uns trocadilhos no meu nome, ele responde.

Sim, nunca mais vou esquecer: CAMILA DAYAN.Esse é um nome que também fica bonito impresso. Vou acompanhar a sua carreira, Camila, pelos caminhos naturais da vida e da profissão que abarcou. Torço por você. Arriba!
bjs, Assis


O resto é história....

10 de dezembro de 2007

Rapidinha

Minha família - a de perto e a distante - diz que dá por falta de mim. Dizem que cresci, que engordei, que emagreci, que ganhei quadris, que fiquei metida, que virei jornalista e que quase já não sou mais a mesma. E sempre, nas muitas ou poucas vezes que me vêem, me perguntam quando vou aparecer na globo.Olho pra eles e respondo.

- Não tenho esse desejo infindável de trabalhar na globo. Se um dia rolasse, legal. Provavelmente não acharia ruim, mas...
- Nossa, você não quer ir pra Globo?!! Então você não quer ser jornalista.
- Não. Quero fazer novela

.....((((silêncio)))).....

E termina assim, eles indignados e eu – pra eles- com cara de estranha, confusa e metida.Vai entender...

3 de dezembro de 2007

D'segunda

Não sou corinthiana, mas tenho um certo respeito pelo clube. Não que eu aprecie o time, as cores, a torcida, ou tenha estimas pelo goleiro Felipe. Não é isso, e não é só isso. Meu pai, o mesmo que me ensinou a ler jornal e o primeiro e único a me levar ao estádio; é corinthiano – mas eu sou são paulina-. Então, como benção de pai, a gente vê (lamenta) e respeita.
O desejo brasileiro anticorinthiano aconteceu. O timão que ficou mais pra timinho está na segundona. E a segunda de hoje foi alegre, o sol brilhou mais forte, os sorrisos estavam estampados e todo, exatamente todo lugar que transitei, haviam comentários e gritos eufóricos.
Não consegui ver o jogo na íntegra. Peguei partes das jogadas desesperadas da camisa preta e branca que nem São Jorge foi capaz de salvar. Mas algo que meus olhos e ouvidos captaram rapidamente e por acaso, aconteceu no metrô.
Eram 5h10min da manhã, eu caminhava rápidamente com medo do atraso. Quando cheguei à catraca usei meu bilhete para liberar a catraca e minha passagem, até que um homem e uma mulher – os dois funcionários do metrô - chamam a minha atenção com um diálogo que começa por ele.

- Coringão caiu, hein! Agora acabou
- Não. Agora é subir. O importante é se levantar.

Não pude continuar presente na conversa, minha catraca girou. Mas as palavras trocadas alí saíram por leves sorrisos. Sorriso de quem tira um barato da derrota; e um sorriso de quem tem a esperança e acredita no Corinthians, como quem acredita na vida. A eficácia de um ou de outro não é comprovada. Até a sua derrota, que move corações, derramam lágrimas, esbanja alegria e planta esperança. De subir e alavancar o time de/da segunda e das quartas globais.

2 de dezembro de 2007

Sentinela

Minha mãe quis mudar o meu quarto. Eu disse não. Ela teimou. Eu bati o pé. Não podia e não permiti a mudança de um Q oriental que meu quarto reserva. Uma gueixa na penteadeira, uma parede vermelha, um violão velho e desafinado, um pufe e o futon – a tradicional cama japonesa. Adoro meus detalhes e principalmente, minha cama.A dona genetriz quis trocar minha cama por uma bicama; para ficar mais fácil quando os meus hóspedes semanais pousarem por aqui. O argumento é bom, mas não o suficiente pra mudar a ordem das minhas coisas e a altura do meu sono.Como sempre, as mudanças doem em mim e quando posso evitá-las, eu evito. Como agora.Nada de cama, quarto e vida tradicional. Vou ao longe e sonho todos os dias na cama que não sai do chão. Não sai!

20 de novembro de 2007

Canto retinto

Perdida nos dias do feriado me acho no canto e na poesia. Confundo quarta com sexta, quinta com sábado e com as datas do passado. Não confundo as datas por estar perdida no tempo, mas na história; que por uma hora ou mais, vi, vivi e senti minha raiz, meu sangue, minha negritude sacrificada e clamando no canto a liberdade.

Foram duas vozes que invadiram e entraram sem pedir licença, e como um aconchego a gente agradece com o corpo, que acompanha o canto e a expressão liberta com uma brasilidade e africanidade que posto a ser negra, se não é exposto na pele branca e amarela que carrego, é no coração e no sangue que salva a Xangô e Oxalá e guarda os orixás.

O clamor que trazia as forças dos ancestrais era originada primeiramente, pela voz carregada no corpo de uma paulistana toda baiana. Baiana no seu gestual, na sua vestimenta branca com turbante deixando saltar os cachos assumidos da pele preta. É preta porque na Bahia eles são pretos e não negros. Preto. como o Preto retinto que foi a segunda persona a me paralisar no canto que arrepiaram meus pêlos e ecoou por todo o meu corpo. De pés nos chão e seguros de onde pisavam, foi na graça de Fabiana Cozza e Aloísio Menezes que conheci os Cantos Negreiros, no teatro apertado e aconchegante da Biblioteca Alceu Amoroso Lima.

Feliz, emocionada e agradecida, saí de lá mais negra, mais brasileira e como já me acompanhava nos últimos tempos, mais do que em todo o meu viver até então, o samba gingado nos quadris e na veia que corre o sangue escravo.

Esta foi uma das apresentações mais marcantes e quase indescritível; recheada de música negra e poesia declamada pelo escritor Marcelino Freire. Intercalada no canto e na batida da percussão com a poesia de Marcelino, viajei com os Cantos Negreiros e o porto dessa viagem não sei onde está. Sinto-me ainda em alto mar no clarear e no brilho do céu, no cortejo de Oxum, nos braços de Xangô e no canto infindável de Aloísio Menezes e Fabiana Cozza.




Em comemoração ao dia da Consciência Negra, logo mais a noite terá show de Fabiana Cozza com Martinho da Vila - na Praça da Sé às 19h.

30 de outubro de 2007

momento

impaciente no meu espaço e ineficiente na minha obrigação.

Circuito

A coincidência continua me acompanhando e para acrescentar a minha rotina, ontem fui ao circuito original, com o show da talentosa Roberta Sá. Na sua performance no palco, entre os tons e a melodia doce, o que me marcou foi sua representação e dramaticidade declamada no trecho da música No Braseiro de Pedro Luis – trecho que segue.Está aí uma dica para quem não conhece a voz; aproveitando pra dizer que a crítica do show vai para a Mandacaru e logo mais estará aqui também.
...Quero justiça, alegria e quero paz,Mas com direitos iguais, como já disse ToshE quero mais que um milhão de amigos do RCSer como Luís e suas maravilhas do mundo quero comerQuero me esconder debaixo da saia da minha amadaComo Martinho da Vila, em ancestral batucadaEu quero é botar eu bloco na rua, qual SampaioQuero o sossego de Tim Maia olhando um céu azul de maioEu quero é mel, como cantou MelodiaQuero enrolar-me em teus cabelosComo disse Wando à moça um diaQuero ficar no teu corpo, como Chico em TatuagemE quero morrer com os bambas de Ataulfo bem mais tardeSó que bem mais tardeEu quero ir pra ver Irene rir, como escreveu Veloso!

29 de outubro de 2007

Família

Depois de inúmeras tentativas nas remediações do genérico sem bula, me aparece Jean Paul Sartre. Como num encontro de páginas com o marcador de um livro perdido, Sartre no sublinho de suas letras me explica a fórmula do remédio.

A família é como a varíola: a gente tem quando criança e fica marcado para o resto da vida

Depois disso, não há remédio que tirem as marcas.

28 de outubro de 2007

Palavras

"Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar".

Carlos Drummond de Andrade

Ou supero tudo e, sorrio como nos tempos em que não precisava separar o tempo.

A dúvida

Avenida paulista, dia chuvoso, horário de pico; volta para a casa.Em frente ao conjunto nacional, se escondendo da chuva e esperando um latino americano. Eis que surge uma mulher, uma garota, difícil definir a idade e de onde vinha.

- Moça, por favor, qual o nome dessa rua?
- Avenida paulista.
- Ah, é aqui?
- O centro capitalista (financeiro) da cidade de São Paulo.
- Hã?
- É aqui mesmo, a avenida. A Paulista.
- Ah, obrigada.
- Por nada.

A pergunta me soou como estar à frente do Cristo Redentor e perguntar em que cidade estou, ou ‘que estatua é essa de braços abertos?’.Não sei de onde a mulher, a garota vinha, mas entendi que a longa a avenida cheia de luz, carros e gente, ficou difícil de decifrar, deduzir.

24 de outubro de 2007

Recado

Após 37 horas sem dormir e a maior parte dessas horas trabalhando, a dona do D’propósito perde pela terceira semana consecutiva a aula de teoria da cultura. Isso a preocupa, afinal, as provas logo vão sair do forno e invadir a mesa de quem já demonsta-se satisfeito.Fora as preocupações e lutando com as 37 horas longe da cama, a dona Dayan ainda arrisca-se na tentativa de ir ao cinema ver o filme “O cheiro do ralo”. Apenas arriscou, pois não viu nada, provavelmente ouviu algumas narrações feitas pela voz ardente de Selton Mello no seu personagem que ela não sabe o nome.

Camila adora filmes brasileiros, mas desta vez dormiu na sala de cinema até as luzes se acenderem. O cansaço não permitiu a diversão. Que por falar em diversão, há tempos ela não se diverte comigo. Acho que o leitor não sabe quem está falando, não é mesmo? Pois então, sou eu, o Eulírico. Até parece que ela já não gosta mais de mim, nossos diálogos cronisticos quase desapareceram; ela vive me prometendo, mas até agora nada.

Aproveitando o espaço, digo mais caro leitor; se você ver a nossa C. Dayan por aí, não esqueça de dizer que certa região de São Paulo merece algumas palavras, assim como eu, que já estou esquecido no espaço dela e acho que na memória de vocês também, que mal clamam a mim.

Chateado, Eulírico.

23 de outubro de 2007

Não pare

"Eu já falei muito em Deus aqui, fica difícil dizer que alguém acredita tanto em Deus e fala tanto em sacanagem"

A casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro. Pag, 161, 5ª frase.Vi no blog do Victor Freire que viu no blog da Ane. E de blog em blog a corrente que não deseja má sorte, segue em ordem e anima o fluxo da curiosidade de saber o que o próximo vai postar e está lendo, então vai lá. Se tem blog não deixe de postar e avisar, se não tem, deixe no comentário a sua corrente leitura.
Segue os passos:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abrir na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Vá em frente!

22 de outubro de 2007

Ditos valores

Desde muito cedo, a sociedade e a família - como instituição, nos ensina os valores que as devidas instituições representam. Estimas pretendendo reger-nos, nunca me soou muito bem, no entanto, a tradicional família, minha dependência e a falta de autoridade nunca permitiu rebelar-me. Anos atrás nunca foi possível fazer grandes atos sobre as regras impostas e também nem sempre cumpridas, porém, pensar o contrário nunca foi um erro - motivo de brigas, provavelmente. Mas nunca um erro.

O que sempre enxerguei como correto, é o fato de que o homem só se faz homem com suas atitudes e não apenas pelas palavras. A atitude é assinatura de um contrato; as palavras como palavras, são as letras ditadas da regra de alguém ou de uma vontade própria.

Quando mais jovem, um homem que às vezes se faz presente proferiu-me os valores morais e os familiares. Com os Valores Morais até que me dei bem como sujeito, entendi e concordei com grande parte de seus preceitos. Em contrapartida, fui afrontada pelo tal do Valor Familiar, houve discórdia ente nós e o que ficou acordado é que cederia quantas vezes fosse possível e necessário, até mesmo perder um show somente para imprensa a ir ao jantar de um membro praticamente distante da família, principalmente de você – no caso eu.

Como uma garota nem tão boa samaritana, questionei um jantar tão bobo, mas enfim, a situação me obrigou a perder um show. Indignada comi o jantar em dobro, foi para compensar a indignação. Mais tarde, não muito mais tarde, acontece algo semelhante com o homem que se posicionou como um pastor que dita as palavras divinas do valor, sendo o maior pecador por hipocrisar o que diz e não faz.

Com uma posição muito observadora, obviamente observei (!) que os valores ditos pelo homem e por parte da sociedade, nunca são cumpridos. Isso porque, o amásio na mesma situação que eu – não por um show, mas por um bar, um happy hour e afins, não lembrou do valor familiar dito por ele mesmo. E deixou de comer a pizza que ele mesmo havia marcado e considerado anos atrás importante.

Como uma réplica disse, "cadê os valores?".
E a tréplica foi... um silêncio. Não houve tréplica.

19 de outubro de 2007

Bateu à porta

Foi a Sorte. Apertou a campainha e entrou; sentou e acomodou-se, deu o aviso que por aqui ficaria em dias previstos a 365. Seria um ano de fortuna, riscos, sonhos, frustrações, emoções, ilusões, fantasias, alegrias, acasos e casos. Surpreendida dei um grito, “uhuuuu” e abracei a sorte como última esperança, que na espera não fiquei por mais de um minuto.

Há exatos um ano, eu vibrava a entrada do ano astrológico 1 e claro, como previsto e absurdamente desejado 18 anos. Certo, você pode estar pensando... legal ter 18 anos, mas que diacho significa esse ano 1? Para esclarecer desde já, na numerologia existe um ciclo de 9 anos, quando este se encerra começa tudo outra vez, desde do 1. E, como o próprio número sugere é começo, tudo novo. É uma fase de experimentações, construções de projetos, contatos e fortes emoções a todo o momento.Para os descrentes de numerologia, astrologia e afins, devem achar isso um absurdo. Mas, então vai vendo...

Depois de uma paixão platônica, frustrada e uma vida rotineira, o ano 1 chegou como um estouro, vingou como uma revolução no meu corpo e mente. Desde o último dia 19 de outubro vivi as melhores emoções; aquela cervejada com os amigos, o reencontro de casos passados, o encontro de casos futuros, aventura incessantes, ligações a altas horas, contatos brotando do chão, elogios caindo do céu, namoro, emprego, desemprego e empenho.

Com um final de um 2006 de muitos casos, desejos e realizações fundamentais, tive uma passagem de ano atípica; 2007 entrou como o guri que rebenta sem pedir licença. Entrou num ritmo acelerado e na primeira semana do ano me ofereceu e proporcionou uma viagem com um amigo, que mais tarde se tornaria um cafajeste e depois o homem que modificou minha vida.
O primeiro mês do ano já me indicava os anseios imprevisíveis que viria. No mesmo mês, engatei um caso que perdura e dura. No mês seguinte, o tempo de carnaval abriu alas e me deu passagem. Conheci o primeiro e significativo contato dentro do jornalismo, da tv e até das dúvidas; depois de um gingado carioca, outros contatos foram surgindo com a mesma naturalidade que João Gilberto sussurra a bossa, Vinicius dita a poesia e Bethânia faz de sua dramaticidade o tom e o som. E, eu uma “sortuda” com uma pitada de talento, aproveitei as oportunidades, estive nos lugares certos, e aprendi com as pessoas essenciais.

Convivi com um mundo que até então estava longe de mim; ganhei minha primeira credencial como imprensa, tive meu primeiro portfólio expressivo, meu primeiro emprego, o contato com o sexo, o jornalismo vivo, a dúvida da paixão, a TV Cultura, a rádio e TV Record, uma viagem mochileira ao Rio, a criação do blog, abertura de uma revista independente e frustrações, claro – nem tudo é tão perfeito.
Não apenas isso, proferi verdades, escutei coincidências, acertei meus pecados, escutei músicas em pausas, aumentei a agenda do meu celular, magoei corações, amei ilusões, estive longe de amigos fundamentais, construí uma nova estrada, ultrapassei meu lado, arrisquei o mundo, escrevi ficção, compus música, manipulei fontes, induzi verdades, fui parabenizada por uma reportagem e por fim, consegui fazer na última hora a inscrição para o curso do Estadão.

Descobri um jeito de ser mulher sem deixar de ser menina, reaprendi valores, tive uma mão e um grande aperto no coração. Era a paixão com qual eu divido meus projetos de vida, sonho os meus sonhos e construo um futuro.

Seria impossível descrever cada fato, agora e aqui. Primeiro que o dia 19 e o ano 2 já batem à porta, o ano 1 já solicitou sua licença e eu, pedi pra ele deixar a sorte, ou o acaso que foram fundamentais ao 18 anos.Com uma pitada de nostalgia, guardo o ano que passou como inesquecível, um incrível ano. E de sapatos novos vou para o dia 19 comemorar os 19 anos de idade e o que quer que signifique o ano 2.

Toc, toc, toc.

- Pode entrar....

18 de outubro de 2007

É hoje...

O vídeo é de Luiz Gonzaga, o rei do baião e seu afilhado Dominguinhos - meu entrevistado da vez e do dia. Ele vai tocar lá na Mandacaru, mas claro que vou trazer alguma capela do herdeiro do baião para o D'propósito.É hoje! Amanhã ou depois, eu conto como é que foi.Aproveita para ver o vídeo, levantar da cadeira e balançar as cadeiras... eita!

17 de outubro de 2007

Eclipse oculto...

Somente o fim da edição de um documentário somado a insônia que anda perturbando minhas últimas noites, me faz vir ao blog alegremente cantando e ouvindo Eclipse Oculto de Caetano.
Um pouco mais feliz, amanhã vou para a próxima fase de trabalhos, hoje não durmo mais, daqui a pouco é hora de ir apresentar a labuta da madrugada... ó eclipse oculto do horário de verão

Um trecho para sentir um pouco do sabor, da cor e do labor ao documentário:

Na verde luz que possibilita minha passagem, saio à procura de São Paulo do inconsciente óptico, que transpassa o vidro dos automóveis, revela o mundo e ilustram as cores da cidade que é um poema dentro de uma grande metrópole assustadora e indômita. Uma cidade que nós não visitamos, uma cidade que cresce em torno do nosso próprio pensamento, das nossas ações, dos nossos abandonos, uma cidade plena de poesia, um aglomerado de pedras, uma montanha, um mundo, que atravessa um sinal como o farol fechado!

16 de outubro de 2007

.Momento irritadiço

Nos últimos minutos do segundo tempo para terminar o jogo dos 18 anos e o ano astrológico 1 (ano, aliás, que não gostaria que terminasse) encontro-me com uma alta pressão de stresse e estupidez. Tenho que respirar 30 vezes para não ser mal educada com alguém, suportar gordos intransigentes, chatos e metidos a espertos (nada contra os gordinhos –alguns até são muito bacanas, mas como tudo, tem suas exceções) e além de tudo, suportar minha tremenda ignorância de ter ido a segunda fase de um emprego super legal, cometendo a burrice e o esquecimento de não tirar o piercing.
Se me permite a falta de modéstia, tenho por mim que fui uma entrevistada na mesma excelência que faço com meus entrevistados – com texto e currículo bem produzidos.Se de fato perder esse emprego pela argola que carrego no nariz, vou me punir, vou retirar o que por tanto tempo virou minha identidade; essa é a punição para que idiotice do tipo não se repita. O que também, me deixa tremendamente irritada é o mercado de trabalho classificar minha labuta ou minha capacidade pelo que carrego no nariz.

Passado esse aperto e respirando 31 vezes mais, a ansiedade e o medo batem a porta com o próximo entrevistado, que provavelmente será um dos meus melhores portfólios nesses corridos dois anos de faculdade. Fora isso, ou parte disso, que também faz parte da revista – um dos elementos que está deixando minha adrenalina a 1000 – isso é como um tcc produzido em três meses.

Pense você que já fez ou já viu de perto alguém fazendo um tcc como é enlouquecedor, a ponto de tirar o sono até quando você precisa dormir e ter lapso de memória como, por exemplo, esquecer de se inscrever para o curso do Estadão que começa amanhã. Eu paro e me pergunto. Como eu consegui esquecer? Só pode ser stresse e muita ansiedade.

Ao último fato estou me culpando mais do que ir a uma entrevista de piercing, esquecer de fazer uma inscrição é imperdoável. Porém, imagino eu que algo de muito melhor deve vir no meu próximo ano astrológico que começa sexta. O pensamento positivo é o que está me motivando e mantendo a esperança viva em mim;, porque mesmo com altos, baixos, gordos e magros, esse foi se não um dos melhores anos já vividos, provavelmente o inesquecível.

Vivendo com os momentos irritadiços agora estou respirando 32 vezes mais. Nesse exato instante começo a escrever o roteiro para o documentário, que também já me amolou como as outras 31 umas respiradas.Humpft... ao trabalho!

15 de outubro de 2007

A odisséia

Nas poesias que decorrem de um tropicalismo e demonstra-se deveras verdade nas letras, no tom, na melodia e na expressão de viver; recanto Caetano na sua Verdade Tropical; que além das páginas do livro, há sua releitura no palco, por Luiz Duarte e Gabi Freitas com Caetaneando. O espetáculo apresentado no Teatro do Ator foi um da série de 78 peças, nas 80 horas Satyrianas gratuitas de teatro, com homenagens a Paulo Autran e a Lauro César Muniz.

Com espetáculos para todos os tipos e gostos, o feriado foi dedicado ao amor e ao teatro que fez da praça Rossevelt um grande encontro entre dramaturgos, atores, diretores, cantores, admiradores, jornalistas e espectadores; uma verdadeira cúpula cultural, um encontro sem preconceitos e preceitos nos quatro dias de evento.

Bares lotados, teatros lotados, praça lotada e um calor de verão banhado pela cerveja gelada, o que rapidamente me remeteu o litoral em alta temporada. Um calçadão repleto de gente que sem ter o mar, faz do teatro a sua praia.



9 de outubro de 2007

Receita com recheio, cobertura e loucura

Não sei se é exatamente a receita que procuras mas, vou prescrever como fazer um bolo com recheio e cobertura perto da loucura. É muito simples. Apenas um pouco mais trabalhoso que descascar uma laranja (sempre tive dificuldade em descascar laranjas)

Primeiro passo:
Ligue o forno enquanto prepara os seguintes ingredientes:

Segundo passo:
Pegue uma revista sobre cultura nordestina com atraso, depois adicione o cargo de edição de imagem somado ao de secretária de redação, com o faz um pouco de tudo – tipo estagiário, sabe? Depois dos cargos, não esqueça de adicionar a entrevista com o Dominguinhos e um perfil de Germano Mathias. Bata bem isso até ver algum resultado. Ou antes, mesmo desse resultado você deve acrescentar matéria sobre rodoviária clandestina, batida com a 2ª mostra de cinema nordestino.(Que provavelmente vai como o açúcar que todos esqueceram de colocar. E só adicionam depois).

Como cobertura há também um ensaio fotográfico sobre a cidade que é um poema oculto dentro de uma grande metrópole. Não esquecendo ainda, de sobrepor um documentário sobre flanelinhas.

Terceiro e último passo:
Depois de todos esse ingredientes batidos e consistentes, coloque ao forno e espere o resultado.Enquanto isso... prepare a mesa com trabalhos manuscritos sobre economia e política e a ridícula transcrição de jornais televisivos e radiofônicos.Depois da mesa pronta e o bolo com o recheio e cobertura para a loucura, pronto. Coma e durma. Vai ajudar na digestão.

E não esqueça: só pode fazer e provar dessa receita neste mês de outubro, não adianta dizer que não possui tempo. Não é necessário ter vida social.

Enfim, bom apetite e seja feliz.

6 de outubro de 2007

Rima e ritmo de C. Dayan

A frota de entrevista voltou à tona.
O texto abaixo foi criado para uma
empresa de Comunicação. É a minha
descrição feita em 3ª pessoa
Será que eles vão gostar?
Resta-me esperar....

Como o ritmo da bossa, ela se faz nova; no detalhe do samba chorado, do samba forte e do samba canção. Canta ao mundo as letras que saem diariamente das cordas que evocam o som e o tom do jornalismo e das crônicas diárias de seu blog.
Se vires de longe irás pensar: que pequena és essa menina! Se aproximares um pouco mais, observa que é de fato pequena. No tamanho. No entanto, somado os centímetros dobrados aos metros quadrados do mundo, vês que és maior e grande na intenção. E atenção: o desígnio de atrever-se à comunicação e a cultura não vêm de agora. Começou na década de 90, quando aos quatro anos de idade a brasileiríssima fez a sua primeira entrevista, com gargalhadas, despreparada e pra comprovar, está gravada. Não só na memória, mas em fitas e fatos do passado e agora do presente, que a coloca na produção de uma revista independente, na ânsia de abraçar e conquistar seu espaço no mercado, no mundo e na Mandarim. Camila, como sempre, faz da comunicação o seu principal instrumento, porque como já dizia o saudoso Chacrinha “Quem não se comunica se trumbica”. E para o ritmo dela não parar o show tem que continuar, aqui, ali e aí, na Mandarim.

5 de outubro de 2007

Arte futebolisticamente...

Tão belo e técnico quanto a arte impressionista dos quadros de Monet, Renoir ou Degas; ou ainda, procurando as formas dos pintores cubistas como Picasso, Cézanne; a arte futebolística não fica para trás, não é impedida. O contrário, como uma manifestação de cores, sabores, dores e louvores, ela ecoa como música saída das cordas vocais de fãs incessantes que movimentam os instrumentos, que aceleram o coração de quem está produzindo este artifício e, de quem é espectador pouco entendido das artes impressionistas e cubistas dos quadros de futebol.

Como todos os garotos, eu também sonhei em ser jogadora de futebol. E, se me falta à modéstia, mas digo a verdade pensada por mim e saída da boca de profissionais, o que não me faltara era talento e ainda diziam: “ê garota de futuro”. Futuro mesmo, porque as bolas lançadas a mim não ficavam pro passado, ou por quem passara despercebido pela direita, ou pela esquerda arriscando arrancar-me o domínio da bola.

E como todo garoto que sonha em ser jogador de futebol, comecei cedo, aos quatro anos de idade eu já ocupava os gramados e as quadras cheias de meninos e pais preconceituosos. Inclusive o meu, que de todos os pais, obviamente era ou tinha que ser o menos preconceituoso - isso porque sou sua filha e não poderia ser diferente.

Mas correndo adiante e levando a bola com a bola toda, sofri todos os preconceitos que o futebol feminino injustamente tolera nas críticas vinda da sociedade machista, que pronunciam sobre o futebol ser “coisa de homem”. Homem que nada. A mulher é tão capaz quanto o homem, de matar a bola no peito, dominar, fazer gol e correr para o abraço.

O que o homem machista e qualquer ser-humano contra essa arte também feminista, não enxerga que apenas as mulheres quando dominam a bola e correm com ela nos pés, conseguem ter o gingado, o balanço no quadril e uma habilidade que há décadas atrás, diriam sermos capazes com esses dons, apenas nas passarelas da moda ou do samba - Ritmo originalmente brasileiro e hino do futebol - indiferente qual seja o samba. Se é o da Mangueira, carioca com compasso rápido, ou o samba paulista e sincopado. O futebol é como o samba, ritmado em qualquer voz, em qualquer pé, seja feminino ou masculino.

E se antes a mulher no futebol era desvalorizada, agora atropelando pré e preconceitos, ela mostra a sua garra e ganha força com um drible da vaca, um movimento exato dos quadris e o domínio do convencionalismo. Dessa vez não é preciso queimar os sutiãs, apenas necessário mostrar o talento, como o de Marta - jogadora da Seleção.

Acho que não me aproximaria ao talento da melhor jogadora do mundo, mas sempre, sempre quis fazer do futebol minha profissão, não fiz. Mas agora, faço das letras memórias, aos lances feitos com minhas parceiras de ataque e tabela, JJ - Jéssica e Janaína.
Se hoje não corro com as bolas nos pés, acelero com os pés os passos da vitória feminina dentro do campo de futebol e todos que me fazem gritar por GOL!


Das palavras à imagem...

2 de outubro de 2007

Desde que o samba é samba

No caminhar da manhã, pisando sobre as folhas primaveris, aquecida pelos panos que me cobrem e pela presença sutil do sol; canto uma bossa, invento uma nova, improviso no samba e até relembro o rock melódico saído das caixas de som do meu irmão. Enquanto as notas vibram no meu vocal e estendem-se pelo resto do corpo, caminho adiante e não diferente, penso para frente.E, a frente um homem com os passos fadigados pela idade, ligeiramente calvo, carregando óculos na face e um violão em mãos.

Gostosa com a cena parei para observar o homem que distraído e imperceptível a minha presença, soltou arranjos e notas que cabiam em todas as minhas canções, em todas as minhas ilusões e facções. Ficaria a observá-lo de longe durante horas, se não fosse o tempo batendo no meu relógio. Escutando-o com o corpo, saí cantando e eis que o Homem me pergunta:

- Por que cantas?

Sem olhar de susto ou surpresa eu respondo:

- Cantando eu mando a tristeza embora.
- A tristeza é senhora?

Com sorriso terno eu respondo:

- Desde que o samba é samba.
- Mas alguma coisa acontece, no quando...
- Agora em mim!
- Conhece João?
- E Gilberto também.
- Mas é Caetano.
- Mas, vejo em João.

Sinalizando com a cabeça um agradecimento indefinido, embarquei-me na hora que batia no meu relógio e, me despertava para o que não era novo e provavelmente seria a bossa.

20 de setembro de 2007

Papel, caneta e vazio

Como não acontecia há tempos vejo um esforço quase fracassado, do papel procurando minhas idéias e os acontecimentos do cotidiano. Não que a vida ande devagar, não anda, ultimamente só corre, novidades a toda hora, no entanto, as palavras já não escorrem como a água da cascata que serviu de cenário para minha entrevista com Assis Ângelo, na Rede Record.

Vejo quase uma contradição nesse lapso de construir narrativas e prosas, afinal, estou mergulhada em teses sobre cultura popular brasileira, crônicas do Mario Prata, Xico Sá, Veríssimo e a quase sem inspiração feito eu, Tati Bernardi. Portanto, isso não deveria acontecer.

Não sei qual é de fato o problema que impede a narrativa leve que produzia antes, qual meu fã número um e provavelmente o único, diz que não produzo mais.
Talvez eu imagine o motivo da dificuldade, além da ansiedade da Mandacaru acho que é Celeste. Tenho a impressão de que nunca vos apresentei a ela, mas Celeste vem me atormentado há umas três ou quatro semanas.

É uma personagem que está pedindo espaço, um papel em alguma ficção. O detalhe é que ela não quer papéis secundários ou ficções curtas, quer um grande papel, quer destaque como o Eulírico, que provavelmente quando notar a chegada dela não vai gostar muito, ciumento como o conheço, vai jogar pedra na Celeste.
Mas o Eulírico já tem o seu espaço, por isso pedi tempo a Celeste, no entanto ela é impaciente e me atrapalha com a organização das idéias, porque ela não se revela, o contraio, esconde-se por trás de um sorriso e um olhar cruel e duvidoso. Não enxergo a personalidade da personagem que pode ser uma estrela, ou que pode acabar com o brilho dos meus textos.

Hora desejo vida a Celeste, hora desejo morte a Celeste e hora penso em trancá-la em uma caixa, como a de Pandora. Para que de repente, quem sabe, venha um terceiro abrir a caixa e desvendar a garota, a menina e a mulher que me tira o sono e a criação.

18 de setembro de 2007

De volta aos Anos Incríveis

Depois de quase dois anos sem viver as experiências de/com Kevin Arnold, o seriado que marcou época e minha infância, agora está em DVD, com os 115 capítulos dublados e de quebra com o logo da TV Cultura no canto superior e esquerdo da tela. Sim, isso é pirataria, porque de graça é mais gostoso. Pelo menos esse é o slogan que o site onde o caro colega Pedro, baixou e deu-me de presente de aniversário antecipado.

A série narra os conflitos e a evolução de Kevin Arnold, mostrando o fim da infância e a adolescência do garoto que reside num bairro do subúrbio, com uma família tipicamente americana. Como pano de fundo é mostrado o contexto histórico da época, como a geração dos hippies, conflitos políticos, a invasão do rock e até mesmo a primeira aparição do Beatles na TV americana.


Indiscutivelmente Anos Incríveis é mesmo a ilustração de incríveis anos, tanto por parte do protagonista Kevin, quanto de nós telespectadores, afinal, quem nunca viveu os mesmo conflitos e não se identificou com a trajetória?A série que fez grande sucesso e percorreu países pelo mundo afora, teve sua última aparição na TV Cultura em 2005, por término de contrato, segundo informações da própria Fundação Padre Anchieta.E para maior tristeza dos tietes, a série até hoje não foi lançada em DVD - não legalmente – Mas isso tem explicação, a sua trilha sonora reúne cerca de 300 músicas e conseguir a liberação de todas elas está sendo um problema para a Fox, produtora da série.A possível solução foi substituir as músicas cujos direitos autorais não foram liberados, no entanto, isso soa estranho para os fãs e para a produtora. A trilha sonora é fundamental à série, trocá-la seria como o arroz sem o feijão, inaceitável.


Graças ao Pedro, agora posso matar minha saudade da família Arnold e acompanhá-los diariamente. Para quem não tem um Pedro e é próximo a Camila aqui, é só pedir pra gravar o DVD, que está tudo certo, porque de graça é mais gostoso.

13 de setembro de 2007

Tomando na veia

Feito viciada, louca e com adrenalina a mil, é que meu coração, minha mente e meu corpo respiram pra viver da droga que me contagiou e, inevitavelmente não me vejo sem ela. Todo dia, dia-dia, diariamente eu injecto a substância no meu corpo que vai até a alma, moderando razão e emoção, até chegar ao papel que abriga em pequenas letras de grandes palavras a droga ensaiada.

Já me disseram que isso é coisa do mal, mas digo mais alto que me faz um bem, tão bem. Até mesmo quando estou em outros planos, quando meu sono chega com o cansaço e a necessidade do corpo; sonho com a danada dessa droga e de repente, ou por ironia, quem me acorda com um beijo quente é um apaixonado e drogado feito eu.

Essa coisa que me sobe pelo corpo, me faz correr contra o tempo e injectar todos os dias na veia é o jornalismo; a droga que me põe à prova e me apresenta o desafio, as fontes das quais me nutri e não acabam nunca, a pauta que caí e no mesmo momento se ergue numa nova construção, a briga pelo tempo, as oportunidades que batem a porta e mundo afora.É a droga do jornalismo que me toca e eu aprovo como remédio para toda a cura, para todo o sempre.

10 de setembro de 2007

Eu, você, nós dois

- Eu?
- Você?
- É o que tá escrito.
- Ah, então tá, você.
- Eu?
- Você?
- É, eu.
- Então é você.
- Se você diz, sou eu.
- E você? O que diz?
- Digo que sou eu, e você?
- Eu digo que acredito no que você diz.
- Então estamos conversados.
- Legal, estamos conversados, até porque, há tempos não conversavámos assim, eu e você.

Sol, independência e eu

Depois de uma quinta-feira, véspera de feriado e com uma demissão de presente, caminhei pela Paulista sentindo a brisa que só a tarde possui e que há tempos não sentia. O sol, velho amigo sol, me acompanhava, acolhia e aquecia com o brilho alaranjado de seu pôr, que também há tempos não sentia, não via.E, agora inevitavelmente à frente do computador – da minha casa - vejo o sol se pôr entre os arranhas céus que revela a cidade e desvenda a paisagem da vista que meu quarto enxerga.

Para quem acredita em destino pode deduzir sua ironia e sua sagacidade, afinal, quando o Brasil estava à véspera de seu aniversário da independência, de repente, eu perco a minha. Mas só de repente, apenas por um instante, porque na Augusta dois homens, incríveis e eternos no meu viver, me esperavam para acalantar a primeira grande derrota que como minha mãe afirmou “é o primeiro de muitos”.

Depois do encontro com os dois homens e com o sol, que pela lei natural vai-se para dar espaço a lua, eu tive a certeza de que não perdi minha independência. Porque minha independência estão nas palavras, nos gestos, no ser, no ousar e na mesma capacidade que só o sol tem de ser sol e, eu como Camila de ser Dayan, brasileira e não desistir nunca.

9 de setembro de 2007

Não dá

Tenho muitos fatos, histórias, casos e caos a descrever, mas muitos acontecimentos atrapalham a organização das idéias. Ainda preciso digeri-las, compreendê-las, talvez esquecer.

5 de setembro de 2007

A arte de subestimar

No ponto de ônibus de uma avenida pouco visitada por mim nos últimos tempos. Adentro na lotação, o famoso 3773 com destino ao metrô carrão.Sem observar nada e sem reparar em ninguém, só quero passar a catraca. Não sou metida, só vejo pouco quando estou distraída ou com um livro em mãos. Mas sempre, sempre tem alguém que vê a gente, nesse caso, eu.

- Psiu, psiu,

Escutei um chamado, pensei em ignorar, podia não ser comigo. Porém, e sempre existe um porém, estava de óculos escuros e se não fosse comigo ninguém iria notar que havia atendido o chamado. Mas não adiantou disfarces, era comigo. Droga! Era amiga da minha amiga que se acha minha amiga - tempos de escola.

- Psiu, psiu,
- Oi, tudo bem?
- E aí doida, tá fazendo o que por aqui?

Isso num tom de voz muito alto - dentro da lotação - todo mundo parou pra ver ou ouvir (!) Discretamente respondi.

- Dei uma passada na casa da minha vó.
- E tá indo pra onde?
- Trabalhar.
- Esse horário?

Era 12:30h

- Sim.
- Entra que horas?
- Ás 14h
- E sai às 20h?
- Isso.
- Ah, não acredito, me diz aí. Qual empresa de call-center você tá trabalhando?

Ela disse rindo. Acho que quis gozar da minha cara na frente de todas aquelas pessoas que nem participavam da conversa. Que vergonha. Discretamente de novo, eu respondi.

- Não, eu não trabalho em empresa de call-center, eu fujo disso. Estou na minha área

- Comunicação né?
- É, jornalismo.
- Também faço comunicação.
- Legal.
- Publicidade!
- Bacana, está estagiando?
- Tô!
- Onde?
- Quer saber o nome da empresa?
- Sim, pode ser.
- Ah, é GM alguma coisa.
- É, não conheço.
- Eu não lembro o nome direito, mas quando souber eu te falo.
- Não precisa.

Ela não sabe o nome da empresa que trabalha, sinal vermelho.

- Você tá estudando na uni...uni o que mesmo?
- São Judas

Acho que ela quis tirar um barato de novo.

- Se você não se importa, preciso ler.
- Ah, claro, tudo bem.

As pessoas julgam-me ou jogam-me a pequenas perspectivas, coitadas. Só porque nunca fui a melhor ou uma aluna exemplar em tempos de escola, mas agora, os tempos são outros e eu também. Não preciso dizer onde trabalho e quais meu projetos para mostrar isso, meu silêncio e minha leitura, neste caso, bastam.

4 de setembro de 2007

Mandacaru

Todo dia eu faço tudo sempre igual e sacudo às 6 horas da manhã e com um sorriso quase pontual me encho para falar da Mandacaru.Não é a nova novela da Manchete (!) e nem nenhum vale a pena ver de novo. Na verdade, ela vai valer a pena rever e ver todos os meses, valendo apenas R$ 4,99. Bem baratinho, né? É um barato mesmo, porque é a primeira revista minha, de meus colegas e da mídia impressa a tratar sobre Cultura Nordestina. Única no mercado. Legal, não?

Mas não vá pensando que é só para os naturais da região nordeste, não é mesmo. O foco é deles, mas a revista é também para o paulista, o paulistano, e o “apaulistado”, afinal, os nossos personagens são o fermento do bolo que é São Paulo, e quem está dentro dele, também é recheio.

E nós paulistanos metidos a jornalistas, não poderíamos ficar indiferentes, se o bolo cresceu, acreditamos que com muito baião de dois, a Mandacaru chegue com a sutil audácia de iniciantes e com tremenda expectativa que essa flor floresça no nosso ou em um novo sertão.

Guimarães já disse: “o sertão não tem portas, o sertão não tem janelas”, então entre, venha ver a São Paulo capital Nordeste.Nos últimos dias eu quase não respiro outra coisa, se não essa cultura brasileiríssima. Por tanto, devido a tanta inspiração, expiração, excitação e todos os ãos, o D’propósito, de repente pode ficar um pouco só. Mas ele sempre vai servir pra contar os fuchicos que acontecem lá na Mandacaru e claro, como tem sido até hoje, da minha nada mole vida.

Ainda há muitos fatos a serem narrados, inclusive a vontade louca que estou de contar as novidades quentes e bacanas da revista, mas não posso. Dizem que não dá sorte contar antes, mas se tudo der certo um pernambucano cheio de toadas, xotes e forrós vai tocar por aqui.Aí, quase falei. Chega pra mim e chegue mais pra você, porque Mandacaru também é tudo o que vem depois.

Peça a sua ;-p

30 de agosto de 2007

Você e só você

Você sempre me pediu para escrever algo que fale de você ou sobre a nossa história e, eu incansavelmente disse que essas coisas não se pedem, tampouco se implora ou deseja uma dedicação de um dia comum ou fracassado, como um blog de pouco acesso. E sabe o que mais? Não sei que história você diz para eu contar. Não sei se são interessantes casos e travessuras da infância, aborrecência e agora da vida adulta.

Pensando bem, não sei como essa relação que existe entre nós sobreviveu a todos esses anos. Houve momentos que quase desisti de você, momentos dos quais a sua presença era propositalmente para me aborrecer e contrariar as idéias, que tinha por mim, brilhante. Natural de uma menina egocêntrica, como eu, nada de novo. Mas o que sempre era novo, e se hoje acontecesse de novo ainda não seria velho, eram os momentos em que meu abdômen doía por suas palhaçadas constantes e maldades alheias.

Você sabe muito bem que sempre tive um êxtase em nossas maldades, talvez mais em suas crueldades, porque elas eram só suas, feitas por você. Não adianta negar ou fazer-se de vítima. Eu sempre levei a culpa, mas era você e só você que apagava a lousa arrastando o tronco da Jéssica por toda a superfície branca, cheia de riscos e rabiscos deixados por nossos mestres e, depois da garota já suja de canetão, não contente, você a jogava no lixo.

Certo. Não vou negar. Isso me divertia e fazia um bem pro meu coração, ele batia alegre em ritmo de samba, parecido com aquele que levou a vitória no carnaval de 2002 do Rio de Janeiro. Como sempre minha estação primeira de Mangueira. E, eu como admiradora do carnaval e apaixonada pelo samba levei o hit à vocês, com o clássico “Eu vim do nordeste sou cabra da peste. Sou o quê? Sou mangueira...”
Desde então você, Jéssica e companhia viraram Mangueira, muito provavelmente não só pela música, ou por minha influência, mas talvez pelo momento que aquele carnaval marcou nossas aulas de química.No ritmo da minha voz e do meu batuque, você e Jéssica sambavam e logo depois a classe toda já estava de pé, vibrando e dançando junto. O que mais me impressiona hoje, era a calma da professora em ver nosso samba abrindo aula e fechando aula.

Sem dar trégua no samba com a felicidade fazendo a harmonia, é que de repente você, somente você, faz a Jéssica arremessar o próprio tênis pela janela e acidentalmente cair na cabeça de uma idosa professora. E coitada da Jéssica, foi lá no lixo, buscar seu calçado, que muito nervosa a professora atirou o sapato ao cesto de lixo.

Depois disso, lixo e Jéssica viraram sinônimos, porque a pobre vivia dentro dele ou com seus pertences pertencentes a ele.Mas depois de rir muito da cara da Jéssica, cansei. Então, Jéssica e eu resolvemos fazer você ser a piada, fomos más, mas isso foi necessário para sua educação. Precisávamos ter juntado nossas forças pra bater em você, afinal, uma era pouco e você sempre foi muito. Muito maior, muito mais lesada, muito mais gorda – mentira a Jéssica era mais gorda - Muito mais apaixonada pelo Rui, muito mais fiel aos seus princípios e muito pior que eu no futebol.

Isso você era o fracasso, não bastava ser muito pior. Por que você e só você, conseguiu cair feito um pingüim quando confundiu Daniela com a bola. Você chutou a menina, a jogou para longe, assim como fez nos outros cinco anos de Chicomfu futebol clube - “Chicomfu, chicomfu...Uh, uh!”- Você era nossa zaga, não deixava passar nada, arremessava tudo para longe. Literalmente.Assim como fez no campeonato de basquete, arremessou todas as meninas da quadra, você era grande, praticamente uma cavala, fantástica. Graças a sua proteção, eu pude deslizar com a bola por toda a quadra e nós fomos campeãs.

E somos até hoje, porque somente nós conseguimos reunir um bando de professores para o almoço, o primeiro, o melhor e o inesquecível. Foi fantástico, conseguimos nota e ainda nos livramos da quase DP de química, tenho certeza que foi a comida da sua mãe, o nosso suco com uma mosca morta no seu copo e os tomates mal lavados que nos fizeram ir para o segundo ano do colégio.Depois disso você decidiu que ia ser adulta, trabalhar e ir para a noite. Então, nossas emoções escolares viraram caseiras, como o dia que jogávamos bola no prédio e você delicada abocanhou o Alexandre. Deixou seu dente na camisa dele. Você chorou, mas eu ri, ri muito, porque foi inacreditável e o seu desespero hilário. Desculpe, eu precisava confessar.Mas eu não me esqueci da final da copa Guaraná, quando lasquei meu dente da frente e, a primeira imagem que me veio a cabeça foi você. O que tinha feito contigo quando perdeu seu dente na camisa alheia. Não diferente você fez o mesmo, riu da minha cara enquanto eu chorava por uma lasca perdida.

Em resumo eu sei que nós perdemos muitas aulas, mas aprendemos muito. Rimos uma das outras, fizemos maldades uma com as outras, fizemos maldades com os outros, nos comportávamos como moleques, porque éramos meninas vestidas de travessuras com o cheiro de infância fixado no corpo. Vivemos mil, fomos todas e éramos três –ACJ- O teatro nos confirmava isso e agradava quem nos assistia, dentro e fora dos palcos.Hoje que mais velha me vejo, não teria feito nada diferente, nem mesmo as maiores ignorâncias cometidas pelo egoísmo e o deboche que muitas vezes esteve presente. Porque tudo foi feito como um documentário sem roteiro, que gravamos nossa vida, improvisamos nossa trilha e marcamos uma época. Porque você e só você, é capaz de entender tudo o que eu tenho a dizer.

27 de agosto de 2007

Ao Léu

Sempre, sempre Celeste quis saber sobre o amor, nunca compreendeu bem essa palavra que a toda hora está nas declarações viscerais que definem casos de cinco minutos ou amizades de meia hora.
Sempre, sempre, toda vida Celeste quis entender que amor é esse que, todo mundo diz ter pelo outro, mas ela nunca tinha encontrado. Não encontrou na esquina, na casa, na escola, no parque, debaixo da cama ou perto bar.
Sempre, sempre Celeste quis saber os segredos dos outros, não importava de quem, apenas queria saber, afinal, eram segredos. Todos os segredos e o de amor ela escutou atrás da porta. Realizou-se.
Sempre, sempre Celeste quis entender o amor da literatura, aquele que faz dois corpos, dois corações e duas almas um único ser. Leu bastante, talvez não o suficiente para compreender e jogou o amor, a literatura, os segredos e as dúvida ao léu.
Muito, muito tempo depois, encontrou os livros jogados ao léu, velhos e faltando páginas, lamentou. Depois reencontrou os segredos passados, guardados e mais tarde, velhos também, viu que não adiantou. Havia ainda as dúvidas, estás sim foram resolvidas, mas lembrou depois que ainda surgiram muitas outras. E por fim, lembrou do amor jogado ao léu, que foi levado pelo Leo e esse nunca mais encontrou.

26 de agosto de 2007

Fora do ar



Viajando com a Mandacaru. Volto no final da semana, acho.
Mas em outubro chega a demanda de novas crônicas.

Tchau e... um sorriso largo =D

24 de agosto de 2007

Prosa e prazer

Alguns encontros são engraçados, principalmente os de esbarrões que me param a uma conversa cheia de prazeres durante horas, ainda que as horas sejam só curtos minutos na pressa do dia. E por serem assim, encontros surpresos, acaso ou de repente destino, é o que me deixa mais leve e pronta para duas reuniões em duas revistas de dois segmentos diferentes.

Como toda conversa, antes dela começar sempre vem o abraço, aquele que só é dado quando se há afeto, porque beijo no rosto é pouco para mostrar dois corpos dispostos a se atrair para uma bela prosa, não a mais bela, porque a cada nova há sempre uma surpresa que faz da prosa antiga boa e incomparável a do momento.
E hoje foi assim, o encontro com um homem que vinha comendo churros e no ato da nossa colisão abre um sorriso e claro, o espaço para o abraço. Trazia ainda três CD’s do Chico Buarque e isso foi o suficiente para ele com o churros ao desfrute da boca e para mim com o clássico Chico ao gozar dos ouvidos, das mãos, do pensamento e um pouco de tudo o que somos nós nas palavras, da música que alimenta junto ao doce que satisfaz.

O açúcar da canela e o recheio do doce de leite, foram à entrada pra discursar sobre o doce que conservo no meu jeito de menina, (não sou eu quem diz isso, é ele.) e pra ele, eu sempre terei quinze anos. Acha isso, e afirma convictamente que todos os anos eu sempre vou fazer quinze ininterruptamente e, que talvez, um dia ele me veja com vinte e nove anos. Não pela pele e o corpo amadurecidos que já é possível notar, dos quinze anos já passados aos meus quase dezenove já chegando, mas sim por guardar no olhar e no corpo o doce sonho de menina que soa como música de ninar acompanhado do balanço que a vida dá.

22 de agosto de 2007

Desabafo

Todos os sintomas de gente grande estão aparecendo no meu corpo latente de tensão, estresses e impaciência.Por exemplo, as pessoas nos metrôs são mal educadas e fedidas; meu trajeto por Paulista e Itapeva é de encontro a seres lerdos que caminham e respiram feitos cachorros no parque; minhas pequenas e médias idéias já não rendem mais; a Sobremesa (revista) está mais para arroz e feijão com ovo frito; minha mãe solta a voz como o grilo que canta, perturba e irrita; meu namorado me amola com pautas sobre mercado financeiro; meu sono vem a tarde e vai embora à noite; a segunda linha toca quando estou em ligação importante; meu cachorro come o lixo do banheiro, coloco-o de castigo, ele treme, me olha com cara de choro, então eu o tiro do castigo e ele me atrasa pra ir à faculdade; Perco a chave de casa; perco a hora, perco meus contatos, perco o cd Casa da Bossa e Adriana Calcanhoto, perco minhas pilhas recarregáveis, perco minhas crônicas, perco a paciência, perco minha criatividade, perco o entusiasmo e recebo uma conta de um cartão que ainda nem desbloqueei, pode? Então penso ou percebo:
Ou estou ficando adulta, ou meu ano astral está acabando ou talvez, quem sabe, esteja só de TPM. Mas eu nunca tive TPM. Mas um dia ele sempre chega. Então é isso, TPM!

Tomara que seja só isso.

19 de agosto de 2007

Quem sou eu?

19 de Agosto de 2007


Oras, que pergunta! Toda vez e em todo lugar me questionam isso, é tão difícil perceber que sou...
Mãe de:
Tomas Caetano Dayan Luna de Moraes;
Elis Mariah Dayan Luna de Moraes e
Mauro Moreno Dayan Luna de Moraes

Amante de:
Vinicius e Tom

Cúmplice de:
Caetano

E casada com:
Victor Bessa Dayan Luna de Moraes.

Pronto, acho que agora está esclarecido. Essa sou eu:
Camila Dayan Luna de Moraes; mãe de três, amante de dois, cúmplice de um e casada com o único.

16 de agosto de 2007

EMOcionalmente Eulírico

-Camila Dayan?
-O que eu fiz Eulírico?
-Nada. Por quê, você aprontou alguma?
-Não, claro que não
Então porque perguntou o que tinha feito?
-Oras, porque você nunca me chamou de Camila Dayan, ou é Camila, ou é só Dayan. Chamando por Camila Dayan você me assusta.
-Então, não tema e me ouça-Ouço Eulírico Lírico de Moraes a Andrade.
-Só Eulírico, por favor.
-Como quiser Lírio.
-Camila...
-Só pra ficar mais intimo, Lírio do meu campo.
-Camila é sério.-O quê?
-Aconteceu de novo?
-O quê?-Meu coração?
-O que tem seu coração?
-Está estranho.
-Estranho como?
-Não sei, está diferente.
-Diferente?
-É!
-Sentiu dor no coração?
-Não, acho que ainda não, às vezes dá aquelas disparadas que parece que vai parar, sabe?
-Sei, claro.
-Sabe mesmo?
-Uhum.
-Ufa, que bom. E o que eu faço?
-Vamos medir a pressão.
-Medir a pressão? E desde quando isso resolve alguma coisa?
-Resolver, não resolve não. Mas ajuda a descobrir o sintoma.
-Mas eu já sei qual é o sintoma.
-Sabe?-Sei
É sopro, não é?
-Não. Não sei. Mas às vezes assopra.
-Assopra?
-É.
-Então é.
-Esse diagnostico está muito estranho Camila.
-É, também acho.
-Acha?
-Uhum.
-Camila, você não entende de diagnósticos, não é?
-Depende.
-Depende como?
-Dependendo...
-Camila, você é médica?
-Não! Estudante, serve?
-De medicina?
-Não, de jornalismo.
-E porque está fazendo o diagnóstico do meu coração?
-Oras, foi você quem pediu minha ajuda.
-Pensei que você pudesse me ajudar.
-E não estou ajudando?
-Desse jeito não.
-Então procura um cardiologista.
-Eu não preciso de um cardiologista!
-Quem sabe uma terapia?-Camila, por favor...
-Certo. O que tem seu coração, Eulírico?
-Não quero que faça nada por obrigação.
-Não estou sendo obrigada. Diz logo Eulírico.
-Acho que você não é capaz de compreender.
-Tem certeza?
-Não sei.
-Mas eu sei.
-Sabe?
-Claro.
-E o que eu faço?
-Com o quê?
-Com o meu coração, Camila!
-Ah, claro. Deixo-o bater.
-Eu desisto.
-Não desista.
-Desisto sim!
-Não! Pense...
-Em quê? Em como você faz piadas das minhas preocupações?
-Eulírico, você está parecendo....Eulírico que franja é essa?
-O que é que tem?
-Você nunca usou o cabelo assim, escorrido, com franja e...
-E nada Camila.-Nada? Você não está diferente?
-Por quê?
-Você é quem disse que seu coração estava batendo diferente, não é mesmo?
-É, mas o que isso tem a ver com minha franja?
-Nada, eu espero....
-Espera?
-Que você fique bem, que essa fase do seu...coração, melhore.
-Então me ajude.
-Como? Lhe dando o CD do Chico ou quem sabe Caetano.
-Chico ou Caetano? Você acha que eles podem me ajudar?
-Eu gostaria que pudessem....
-E se não puderem?
-Desligue o rádio, troque de roupa, tire a franja é vá ao cardiologista.

13 de agosto de 2007

Virou novela

Durante toda a infância a garota assistiu novelas, ouviu os comentários das tias e da mãe sobre o universo televiso e masculino e, depois disso tornou-se partidária do feminismo. Não se sabe ao certo qual tia lhe formou feminista ou lhe traumatizou no mundo do banheiro e das novelas. Mas do que não restava dúvidas na cabeça da garota, ainda em sua infância quase partindo para puberdade era: Será que gosto de homens peludos ou sem pêlos? Aos ouvidos isso soa quase ridículo, mas essa pauta sempre foi primordial nas reuniões das mulheres da família Silva e não poderia ecoar indiferença à garota.
Pêlos sempre foram um problema, a virilha que o diga, é sempre a que mais sofre, a que mais sente dor e sem dó nem piedade a cera arranca o pêlo, tortura o couro, limpa o corpo e satisfaz o homem. Ao menos é assim que as tias definiram a extração da penugem. Mas o fato não é depilar-se, esse é o mal de todo o sempre para a mulher e, não há remédio, mas há as que acham a cura.

São elas, as tias, que curam-se e são sempre impressionantes e influenciáveis. Um exemplo é a tia Cristina, a mais liberal e adepta aos pêlos masculinos; afirmava que pêlos dão o Q da virilidade. Mas tinha a tia Regininha, que era contrária e opositora as idéias da tia Cris e achava que os homens deviam ser pelados, nada que roçasse e irritasse sua pele sensível devia estar na superfície do seu corpo. E nesse caso nem os depilados serviam, tinha que ser de natureza. No entanto, tia Cássia era o café com leite, preferia o meio termo, nem muito peludo, nem pelado demais, praticamente se adequava à situação, sem exigências.

Já a mãe, nunca fez comentários reveladores sobre sua preferência no sexo oposto, talvez pela presença da filha e o compromisso carregado no dedo esquerdo. Mas a garota nem sentia curiosidade, até porque, era só olhar para o seu pai e pronto. Estava lá, o padrão de preferência da mãe.

E assim a garota cresceu, em uma variedade de opiniões e diversas vezes com dúvidas, mas a do pêlo conseguiu esclarecer. Após um capítulo de uma novela de nome já esquecido, com o ator Humberto Martins, teve a certeza de que não gostaria de pêlos. Era uma cena de sexo e a atriz deitava, rolava e lambia os pêlos e a partir daí, aderiu o pensamento da tia Regininha, a de homens pelados.

A vida como sempre não é só feita de escolhas e por ironia ou não do destino, a garota que depois se tornou mulher acabou escolhida e envolveu-se com o homem que praticamente parecia um urso polar. Até tentou evitar no começo, mas depois acabou como a tia Cristina, adoradora de pêlos. E no final como tia Cássia, sem exigências, adequa a situação. Só não acabou como sua mãe, casada, porque largou a bola de pêlos, enrolou-se com o pelado, deito-se com o de pouca penugem e vive solteira, experimentando e escrevendo sua novela de imprevisíveis capítulos.

A coisa da paternidade

Filho da mãe todo mundo é, ser filho do pai que é o problema, na verdade é quase um enigma. Certamente pai e mãe todo mundo tem, afinal, somos projeto da relação entre os seres que às vezes nos fazem sem querer, outras vezes desejam muito e algumas vezes há uma confusão de pais. Mães enlouquecidas com a diversidade de homens que disponibilizam-se a maternidade e prende um a paternidade.

Dependendo da escolha ou de repente de ter sido escolhido pela mulher – a mãe- o pai leva título de pai, às vezes de fato não o é, ou pelo menos não foi ele quem o fez. Mas como o poeta Victor de Moraes já cansou de repetir: “Fazer o quê? Pai é mesmo quem cria.”

E cria mesmo. Recria, põe cria, faz cria e não pia. Assovia. Pai de sangue, pai de criação, pai de consideração, pai ao quadrado, pai entoado, pai valentão, pai amedrontado, pai engraçado, pai, pai, pai pra sempre um homão.Diferente de mãe que é tudo igual e só muda de endereço, pai é tudo diferente, ainda que resida na mesma morada. Sem as declarações cotidianas de que mãe é uma só; pai também é um só, é único. Desde quando o chama de pai.

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-Paii....
-Quê?-Vamos jogar bola?
-Camila, você é menina.
-Eu sei, vamos jogar?
-Então, pra aquecer vamos jogar uma partida de vídeo-game?
-Eita pai, depois reclama que está gordinho. Mas eu fico com o controle 1.

9 de agosto de 2007

É nova, é bossa

Na batida leve do samba, no toque brando do violão, é a bossa do D’propósito que vai levando uma canção. Ao tom de Tom, na prosa de Vinicius, no sussurro de João Gilberto, e na audácia de Nara Leão.É nas águas do mar que de repente vem à criação, é na praia de Ipanema que sai a garota da inspiração. É um porto do Rio que cria o D’propósito, mas é na São João, Paulista e de ares Europeus que a casa das crônicas diárias se mete numa nova moradia. O samba não muda, contínua, às vezes vai ao tom forte do bumbo, no chorinho da cuíca, no gingado do pandeiro e na sedução das cordas.

Toda a bossa aqui é de propósito e com único propósito, diversão. Minha e de repente sua. O samba pode não agradar a todos, mas que sempre faz remexer o corpo, os ouvidos experimentar e os olhos admirar, sem dúvida faz. Aqui não é espaço só de música, é recinto de vida, de tudo que vejo, ouço, leio, observo, analiso e concretizo.

O D’propósito está de endereço novo, de casa nova e, você que já é de casa,(se não é faça parte) pegue um banquinho, sente e fique à vontade, há poucos moveis na residência, mas nunca vão faltar cervejas e petiscos e espero que sua presença. Enquanto as novas receitas não chegam à mesa, belisque os antigos na mesa ao lado. (os mais lidos da casa velha)É bossa, é nova; é nova, é bossa; é o D’propósito de casa nova.